Por Monsenhor Rogelio Livieres, bispo de Ciudad del Este, Paraguai.
A ideologia de gênero é como um oásis
enganoso no deserto, que algumas pessoas apresentam como se fosse uma solução
para todos os problemas da humanidade. E as pessoas olham e veem que se
apresenta com características muito chamativas, usando linguagens como: saúde
sexual e reprodutiva, direitos dos jovens; mas que também são eufemismos que
englobam o livre acesso ao anticoncepcional e ao aborto.
Uma correta
compreensão da linguagem é muito importante para não sermos enganados por esse
espelho ideológico, para isso analisemos a definição de gênero da feminista
Judith Butler. Para esta mulher, “gênero” é o fruto de uma construção cultural,
portanto, não é nem o resultado casual do sexo, nem tão aparentemente imutável
como o sexo. Isto significa que ao teorizar o gênero como uma construção
independente do sexo, o gênero se torna uma construção meramente artificial não
sujeita a nenhum critério natural. Quer dizer que: homem e masculino podem
significar tanto um corpo feminino quanto um masculino; mulher e feminino,
tanto um corpo masculino quanto um feminino.
Esta liberdade
de decisão sobre a identidade pessoa é sustentada no livro “Gender Trouble: Feminism and the Subversion
of Identity” (O Problema do Gênero: o Feminismo e a subversão da
identidade) da feminista radical Judith Butler. E este material é utilizado há
muitos anos por universidades americanas de prestígio e agora fundamenta também
a perspectiva de gênero que alguns tentam promover em nosso país (Paraguai).
Não podemos
nos deixar enganar por palavras bonitas que escondem calamidades para a
humanidade. Muitos, todavia, acreditam que o uso do termo “gênero” é apenas uma
forma polida de se dizer “sexo” e que gênero neste caso se refere a seres
humanos masculinos e femininos, mas existem muitos outros que paulatinamente
que se dedicam há vários anos em difundir uma nova perspectiva do termo. E esta
perspectiva não se refere a aceitação tradicional da palavra gênero, mas é
entendida como “papeis socialmente construídos”.
Não
existe homem natural nem mulher natural?
A IV
Conferencia Mundial das Nações Unidas sobre a mulher, realizada em setembro de
1995 em Pequim foi o cenário escolhido pelos promotores da nova perspectiva
para lançar uma forte campanha de persuasão e difusão.
O que
aconteceu nesta conferência? Muitos delegados simplesmente ignoraram essa “nova
perspectiva” da expressão em questão e pediram aos seus principais
impulsionadores uma definição clara. E a resposta não tardou, porque era uma
prioridade para os seus divulgadores: “Gênero se refere às relações
entre homens e mulheres com base em funções socialmente definidas que são
atribuídos a um ou outro sexo”.
A ideia
principal dessa definição é: “não há homem natural nem mulher natural”. Ser
homem ou mulher depende do papel social que é atribuído a um ou outro sexo,
pura e simplesmente é o resultado de uma decisão ser homem ou mulher. Com a
eliminação da lei natural que governa os sexos, a decisão passa a depender
completamente das circunstâncias sociais. Se a sociedade exige que “alguns corpos”
em algum momento assumam a forma de “mulher ou homem”, esses corpos devem
adotar este ou outro sexo.
A
Morte da Natureza
Esta nova
perspectiva de gênero constitui um gravíssimo erro, que não pode ser aceito por
ninguém. Porque seus postuladores pretendem não só modificar a natureza do
homem com eliminá-la por completo. Sobre isso dizia Shulamith Firestone: “o
natural não é necessariamente um valor humano. A humanidade está começando a
ultrapassar a natureza; já não podemos justificar a continuação de um sistema
discriminatório de classes por sexos sobre a base de suas origens na natureza.
Na verdade, apenas pela razão do pragmatismo começa a parecer que devemos nos
desfazer dela”.
Fazer
diferenças é um crime grave
Os defensores
da “nova perspectiva” rechaçam qualquer diferença, porque a consideram
suspeita. Afirmam que toda a diferença entre homem e a mulher é uma construção
social e, por isso, deve ser mudada. Pretendem estabelecer uma igualdade
“total” entre o homem e a mulher, sem considerar as diferenças naturais entre
ambos. Rechaçam rotundamente as diferenças sexuais. Não existem somente dois
sexos, mas muitas orientações sexuais. Basta descobrir qual é mais conveniente
num determinado momento. Em tão grave erro caem os promotores desta falsa
perspectiva, porque ao declarar guerra campal contra a natureza, acabam
denegrindo o respeito à mulher, porque para eles o “inimigo” é a diferença.
A
diferença entre homem é mulher é desejada por Deus?
Já no Genesis,
Deus explica que não criou o ser humano para que viva sozinho. E o designio divino
é que o homem e a mulher formem uma família como comunhão de amor. Até aqui se
deduz que, no projeto de Deus, a diferença sexual é um elemento constitutivo do
ser do homem e da mulher. Esta diferença sexual não implica em desigualdade.
A Congregação
para a Doutrina da Fé expressa:
“a sexualidade caracteriza o homem e a mulher
não apenas no plano físico, mas também no psicológico e espiritual […] é um
elemento básico da personalidade; um modo próprio de ser, de se manifestar e de
se comunicar com os outros, de sentir, expressar e viver o amor humano”.
Existe um
perigo real de “coisificar” e “despersonalizar” a sexualidade quando ela é
reduzida a uma dado meramente biológico. E os promotores da falsa “ideologia de
gênero” falam de orientação sexual a partir deste pressuposto equivocado. Ao
considerar a pessoa humano em quanto ser verdadeiro e atendendo à verdade que
leva inscrita em seu ser, necessariamente devemos aceitar que o homem não pode
escolher ser homem ou mulher, mas que a diferença sexual vem na natureza
pessoa, psicológica e espiritual com todas as suas consequências e como ela se
apresenta deve ser aceita.
Disponível originalmente aqui.
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