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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

[Esp] Motivos e meios de passar santamente o ano

 

MOTIVOS E MEIOS
DE PASSAR SANTAMENTE O ANO




 

Motivos de passar santamente o ano

 

1.º Temos um triste passado a reparar. Deus havia-nos concedido o ano findo para o empregar na nossa santificação. Que uso fizemos dele? Havia-nos dado toda a sorte de bens na ordem de natureza e na ordem da graça. Que fruto tiramos deles? Tornamo-nos melhores? Ah! Quanto mal cometido! Quanto bem omitido ou mal feito! Quantos abusos de graças! Grande Deus! Quando a Vossa justiça puser em um prato da balança o mal que fiz contra Vós, como o pouco bem que pratiquei, receio que me digais como a esse rei de Babilônia: Foste pesado na balança (1), e o peso da minha glória sobrepujou o peso dos vossos merecimentos. O único recurso que me resta, é acumular durante o novo ano uma superabundância de bem, que compense a superabundância de mal.

2.° Temos o presente a santificar. Ser-nos-á preciso dar a Deus uma rigorosa conta de todos os momentos do presente ano. Cada momento mal-empregado ou somente inútil se voltará contra nós. Oh! Se reconhecêssemos o valor do dom de Deus!

3.° Temos o futuro a prever. E que mais incerto que este futuro? Morrem na terra cerca de 76 pessoas cada minuto; 4.560 cada hora; 109.440 cada dia; quase 40 milhões cada ano. Não serei eu deste número durante o ano que começa? Se o soubesse, quão bem viveria! Quanto me absteria de todo o pecado! Quão santamente faria até as minhas menores obras! Quão pura conservaria sempre a minha alma! A minha morte poderia ser repentina, sem inconveniente, porque não seria imprevista. Por isso Santo Antão dizia aos seus discípulos: Vivei cada dia, como se fosse o último da vossa vida; e São Bernardo recomendava aos seus, que fizessem cada coisa, como se devessem morrer logo depois (3).

 

Meios de passar santamente este ano

 

1.° Devemos aplicar-nos a fazer bem as nossas obras ordinárias, até as mais comuns, que nada parecem aos olhos do mundo, isto é, a fazê-las no tempo e da maneira que convém, a fazê-las para Deus, com veemente desejo de Lhe agradar. A santidade consiste mais nisto do que nessas obras extraordinárias, que por isso mesmo que são extraordinárias, são raras.

2.° Devemos tender sempre para viver melhor no momento presente do que no instante que precedeu. Se erramos, é preciso, sem nenhuma desanimação, reparar o mal passado fazendo bem o presente, Se se obrou bem, é preciso forcejar por obrar ainda melhor. A verdadeira virtude nunca diz: Basta. Nesta matéria, não avançar, é recuar. Sempre para diante, tal é a senha; sempre subir, tal é a regra do justo (4).

3.° Devemos estudar o nosso vício dominante, e depois de o termos bem conhecido fazer-lhe todo o ano uma guerra mortal, à força de vigilância, de exames de consciência, de boas confissões e de fervorosas orações. Se cada ano, diz o autor da Imitação, extirpássemos um vício, depressa seríamos perfeitos (5). Penetremo-nos bem destes três meios de passar santamente o ano, e decidamo-nos a isto fortemente.

 

(Meditações para todos os dias do ano, Pe. Hamon)

domingo, 31 de dezembro de 2023

[Esp] Considerações para o último dia do ano

 


CONSIDERAÇÕES PARA

O FIM DE ANO


1.º Devemos felicitar-nos, com um grande sentimento de reconhecimento, pelos favores que Deus nos concedeu durante o ano que finda, por tantos benefícios na ordem da natureza e na ordem da graça: na ordem da natureza, conservou-nos a vida, preservou-nos de inumeráveis perigos, proveu a todas as nossas necessidades enquanto que não tratou tão favoravelmente milhares de pessoas; na ordem da graça, quantos Sacramentos, quantos ensinos, quantos exemplos, quantas santas inspirações, que não concedeu a muitas outras! Louvemos a Deus por todos estes benefícios! Te Deum laudamus.

2.° Devemos deplorar ter abusado de tantas graças, desperdiçado e empregado mal tantos instantes, contemporizado tanto com os nossos defeitos, deixando sem fruto tantos meios de salvação: que matéria para a contrição! Ó Deus, compadecei-Vos de nós! Miserere mei, Deus.

3.° Devemos refletir seriamente. Que me resta do ano que está a findar? Resta-me uma grata e consoladora, lembrança dos cuidados que me custou o bem que fiz; os cuidados passaram, a grata lembrança persiste. Resta-me uma amarga lembrança dos prazeres que experimentei na minha vida efeminada e sensual; os prazeres passaram, a amarga lembrança persiste. Resta-me o bem e o mal que fiz, destinados a ser postos na balança da justiça divina, um na bacia das recompensas, outro na bacia dos castigos. Qual prevalecerá? Se continuo a viver no ano novo do mesmo modo que no antigo, posso eu esperar o céu ao cabo da minha peregrinação? É vivendo assim que os santos se salvaram? Justo Deus, compreendo que urge que eu mude de vida! Acabou-se, converto-me! Dixit: Nunc caepi (Sl 76, 10).

(Meditações para todos os dias do ano, Padre Hamon)