Courage International, Inc. é um apostolado da Igreja Católica, fundado em 1980 pelo padre John F. Harvey, presente no Brasil e em outros países, que oferece apoio pastoral a homens e mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo e que tenham escolhido viver uma vida casta. Em 28 de novembro de 2016 Courage International recebeu o status canônico na Igreja Católica de associação pública clerical de fiéis, fazendo-o o único apostolado canonicamente aprovado de sua espécie.
Páginas
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
[FH] A ideologia de gênero e suas consequências: o gênero como ferramenta de poder.
A assim chamada “teoria” (“enfoque”, “olhar” etc.) de “gênero” é, na
realidade, uma ideologia. Provavelmente a ideologia mais radical da história,
já que, se fosse imposta, destruiria o ser humano com seu núcleo mais íntimo e
simultaneamente acabaria com a sociedade. Além disso, é a mais sutil porque não
procura se impor pela força das armas – como, por exemplo, o marxismo e o
nazismo –, mas utilizando a propaganda para mudar as mentes e os corações dos
homens, sem aparente derramamento de sangue.
No entanto, como todas as ideologias, no seu devido tempo, desaparecerá
sem deixar rastro, exatamente por sua intrínseca falsidade. Deixará atrás de
si, obviamente, um caudal de vítimas – pessoas e sociedades frustradas e
infelizes. Que o mal seja maior ou menor dependerá do que você e eu fizermos.
Ainda que seja um trabalho de divulgação, apresento cada uma de suas teses, com
o apoio de citações dos cultuadores do gênero, conferindo-lhe objetividade.
Como toda ideologia, não procura a verdade nem o bem dos outros, mas
busca somente a conquista de suas vontades para utilizá-las com um fim espúrio.
Portanto, a ideologia de gênero é necessariamente ambígua. Utiliza o engano
como um meio imprescindível para alcançar sua finalidade. A razão é óbvia:
aquele que pretende usar os outros em seu próprio benefício não pode dizê-lo
abertamente. Assim como o pedreiro usa os tijolos, o balde e a colher, do mesmo
modo o ideólogo utiliza o engano como ferramenta diária de trabalho.
Esse corpo ideológico, por suas limitações intelectuais, não poderia
pretender sair de pequenos círculos esotéricos a não ser pela manipulação da
linguagem, visando uma verdadeira lavagem cerebral, ao estilo sectário, mas com
dimensões globais. Esta tática é aplicada através de um movimento envolvente,
utilizando para isso os meios de propaganda (1) e o sistema educacional formal.
A estratégia possui três etapas: a) A primeira consiste em utilizar uma palavra
da linguagem comum, mudando-lhe o conteúdo de forma subreptícia; b) depois a
opinião pública é bombardeada através dos meios de educação formais (a escola)
e informais (os meios de comunicação de massa). Aqui é utilizado o velho
vocábulo, voltando-se, porém, progressivamente ao novo significado; e c) as
pessoas finalmente aceitam o termo antigo com o novo conteúdo.
Esta ideologia possui várias locuções utilizadas para habilmente
manipular a linguagem. A principal delas é a palavra que a denomina, isto é, o
vocábulo gênero. Além disso, utiliza numa complexa articulação, outros termos
convenientes para completar a argumentação ideológica. Entre eles, destaco os
seguintes: opção sexual, igualdade sexual, direitos sexuais e reprodutivos,
saúde sexual e reprodutiva, igualdade e desigualdade de gênero, “empoderamento”
da mulher, “patriarcado”, “sexismo”, “cidadania”, “direito ao aborto”, gravidez
não desejada, “tipos” de família, “androcentrismo”, “casamento homossexual”,
sexualidade polimórfica, “parentalidade”, “heterossexualidade obrigatória” e
“homofobia”. Como se pode ver, trata-se de uma nova linguagem, de
características esotéricas, cuja função é assegurar a confusão.
Na linguagem, o gênero masculino, feminino ou neutro das palavras é
definido de maneira arbitrária, isto é, sem ter relação alguma com a
sexualidade. Por exemplo: a palavra mesa é do gênero feminino e o copo é do
gênero masculino, sem que em nenhum dos casos exista conotação sexual
alguma. Extrapolando isso aos seres humanos, pretende-se sustentar que existe
um sexo biológico, com o qual nascemos e, portanto, é definitivo; mas, ao mesmo
tempo, toda pessoa poderia construir livremente seu sexo psicológico
ou gênero.
No começo são usados os termos sexo e gênero de modo intercambiável,
como se fossem sinônimos e depois, quando as pessoas já se acostumaram a
utilizar a palavra gênero, vai se acrescentando imperceptivelmente o novo
significado de “sexo construído socialmente”, como contraposição ao sexo
biológico. O processo final será simples mortais falando de gênero como uma
autoconstrução livre da própria sexualidade, ainda quando isso não seja
possível. E a afirmação de que o impossível é possível, manifesta a “lavagem
cerebral” de boa parte da sociedade.
Segundo esta ideologia, a liberdade para “construir” o próprio gênero
deve ser interpretada como sinônimo de uma autonomia absoluta. E esta, em dois
sentidos simultâneos: 1º) cada um interpreta o que é ser homem e o que é ser
mulher como queira, interpretação que o sujeita, além disso, poderá variar
quantas vezes achar conveniente; e 2º) cada pessoa pode, escolher aqui e agora,
se quer ser homem ou mulher – com o conteúdo subjetivo que ela mesma tenha dado
a esses termos – e mudar de decisão quantas vezes quiser. Deve-se ressaltar que
não somente cada um poderia definir sem limite algum o conteúdo da
masculinidade ou feminilidade, como também poderia pô-lo em prática sem nenhum
limite. Essa escolha absolutamente autônoma é denominada opção sexual.
Na “construção” do gênero, portanto, intervém também a percepção que o
resto da sociedade tem sobre o que é ser homem ou ser mulher. E isso cria uma
dupla interação: por um lado, cada pessoa com sua concepção do gênero influi no
que cada pessoa percebe como conteúdo do gênero. Por isso se afirma que o
gênero seria o “sexo construído socialmente”. Como veremos mais adiante, este
jogo de palavras não é inocente: primeiro, é oferecido às pessoas a ilusão da
autonomia absoluta em matéria sexual; porém, depois disso, aqueles que
detêm o poder real são os que escolhem – como lhes convenha – o modo como os
que carecem de poder poderão exercer a sexualidade.
Outro aspecto que destaco nesta breve introdução é que, se o gênero
fosse construído autonomamente, não teria sentido e, mais ainda, as concepções
da complementaridade dos sexos e a norma da heterossexualidade para o casamento
seriam ideias perniciosas. O casamento seria uma opção para aqueles que o
desejassem, mas seria apenas mais uma opção, com o mesmo valor que a coabitação
sem compromissos, as relações ocasionais, a prostituição, a homossexualidade, a
pederastia, o bestialismo etc. Cada qual escolheria livremente o que deseja e o
que gosta.
E não só ninguém deveria impedi-lo como o próprio Estado deveria
facilitar os meios para que cada pessoa satisfizesse seus instintos sexuais ao
seu gosto, minimizando o risco de uma gravidez não desejada ou de contrair uma
doença sexualmente transmissível. A única limitação tolerável seria a proibição
das relações sexuais não consentidas – e seria permitido a todo adolescente dar
um consentimento válido a qualquer forma de trato genital. Esse exercício sem
limites e os meios para evitar as gravidezes e doenças de transmissão sexual
são denominados direitos sexuais e reprodutivos. Paralelamente, a
saúde sexual e reprodutiva seria o exercício sem limites da
sexualidade apetecida por cada um, sem contrair nenhuma doença.
A desigualdade de gênero é a que ocorre quando os
homens estão a cargo da vida pública, do poder político e do trabalho, e as
mulheres, da vida privada, da procriação e da educação dos filhos. A função
doméstica – e em especial a que exercem ao conceber – impede as mulheres de
participar na vida pública e, portanto, de compartilhar o poder. Por isso, a
maternidade é vista como um mal intrínseco pelo feminismo radical que
reivindica o direito ao aborto.
O empoderamento da mulher tenderia a superar a desigualdade
de gênero ao torná-la participante do poder público, do trabalho e da vida
pública.
A igualdade de gênero, ao contrário, não é a igualdade de
dignidade e de direitos entre mulheres e homens. A igualdade de gênero significa
que nós, mulheres e homens, seríamos iguais, mas no sentido de sermos
idênticos, ou seja, absolutamente intercambiáveis. Isso é uma consequência do
pressuposto antropológico segundo o qual, todo ser humano poderia – com
absoluta autonomia – escolher seu próprio gênero, já que este vale
igualmente tanto para homens como para mulheres. Por isso, a diferença
biológica sexual é percebida quase como uma provocação ao confronto – mulheres
boxeadoras ou soldados – e não como um chamado à complementaridade.
Outros vocábulos que integram esta ideologia são o sexismo e
a homofobia. O sexismo seria qualquer limite imposto à
conduta sexual; por exemplo, a proibição da prostituição, da pornografia, da
esterilização voluntária da homossexualidade etc., todas estas seriam leis sexistas.
Se cada um constrói seu gênero autonomamente, sem restrição alguma, é tão
válido ser heterossexual como homossexual, bissexual, transexual, travesti,
transgênero e tudo o que conceba a imaginação mais fecunda.
Finalmente, a homofobia seria considerar que as
relações naturais entre os seres humanos são as relações heterossexuais, pois
isso implicaria ter fobia à igualdade – entendida como identidade – entre os gêneros...
Ao leitor não deve passar despercebido que “o apoio à Agenda de
Gênero vem de grupos ativistas, todos de certa forma interrelacionados ou
com interesses comuns, mas de alguma maneira distinguíveis: 1) controladores de
população; 2) libertários sexuais; 3) ativistas dos direitos dos homossexuais;
4) os que apoiam o multiculturalismo ou promovem o politicamente correto; 5)
ambientalistas extremistas; 6) progressistas neomarxistas; 7) pós-modernistas
ou desconstrucionistas. A Agenda de Gênero tem também o apoio
de liberais influentes nos governos e de certas corporações multinacionais.”
Já foi dito, em tom de testemunha: “Com frequência me solicitam que
explique em trinta segundos o que vi no Cairo e em Pequim. Correndo o risco de
simplificar, respondo que observei que nas Nações Unidas habilitam pessoas que
acreditam que o mundo necessita de:
1) Menos pessoas;
2) Mais prazer sexual;
3) Eliminação das diferenças entre homens e
mulheres;
4) Que não existam mães em tempo integral.
Estas pessoas reconhecem que aumentar o prazer sexual poderia aumentar o
número de bebês e de mães; portanto, sua receita para a salvação do mundo é:
1) Anticoncepcionais grátis e aborto legal;
2) Promoção da homossexualidade (sexo sem
bebês);
3) Curso de educação sexual para promover a
experiência sexual entre as crianças e ensiná-las como obter contraceptivos e
abortos, que a homossexualidade é normal e que homens e mulheres são a mesma
coisa;
4) Eliminação dos direitos dos pais, de forma
que estes não possam impedir as crianças de fazer sexo, educação sexual,
anticoncepcionais e abortos;
5) Cotas iguais para homens e mulheres;
6) Todas as mulheres na força de trabalho;
7) Desacreditar todas as religiões que se
oponham a esta agenda.
Esta é a ‘perspectiva de gênero’ e pretendem ‘implementá-la’ em todos os
programas, em todos os níveis e em todos os países” (cf. O’Leary, Dale, “La Agenda
de Género: redefiniendo la igualdad”. San José: Promesa, 2007,
p. 33.).
.
[SCALA, Jorge. Ideologia de gênero: neototalitarismo e a morte da familia. São Paulo: Artpress, 2011]
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Antes de mais nada, gostaria de parabenizar o Apostolado Courage pela excelente escrita, concordância verbo-nominal, pronominal, semântica e gramática. Quanto à forma, apenas sugiro maior posicionamento crítico por parte do escritor. Concordo com muitos pontos, porém trechos como:
ResponderExcluir"...se o gênero fosse construído autonomamente, não teria sentido e, mais ainda, as concepções..."
Esta proposição possui como corpo lógico (forma) P -> Q, ou seja, dado que uma coisa ocorra, a outra também ocorre. Porém, nota-se o uso de uma lógica indutiva, já que, se as concepções de complementariedade entre homem e mulher fossem tão fortes a ponto de tornar o termo gênero algo inadmissível, não haveriam tantos homossexuais e transgêneros. Por ad absurdum, eu afirmaria que estas pessoas possuem algum transtorno e, tal como esquizofrênicos, enxergam uma realidade que não existe. Porém, héteros em completa lucidez podem apoiar o gênero como construção social. Concordo que o sexo possui uma determinação nevrálgica no comportamento de um indivíduo, porém não é o único e muito menos o fator mais importante. O homem pode ser dividido, por análise fenomenológica, em: espírito, psique e corpo. Não cabe a explicação dos dois primeiros por agora. Ao corpo reside o instinto, que, como concordamos, manifesta o lado animalesco e autômato do homem. O espírito tentará controlar esse lado e impedir que o homem seja um completo animal. Note que, se é possível arrefecer os instintos e prevalecer o espírito sobre a carne, é também possível alterar a sexualidade (claro, não como pregam as ideologias de gênero, já que é um processo lento e gradual) e, por conseguinte, a própria identidade.
Tal visão poderia parecer inválida se olharmos a sexualidade com temática religiosa, uma vez que Deus teria criado o homem para a mulher e a mulher para o homem. No entanto, acredito que o senhor escritor concorda que a enorme degeneração dos relacionamentos se dá por uma pauta extremamente física e pouco ou nenhum vínculo espiritual entre os casais. Ademais, nota-se que os casais mais velhos possuem uma vida sexual praticamente inativa, porém um forte vínculo emocional e espiritual. Esta é, acredito que concordamos, o verdadeiro basilar de um relacionamento. O contato físico é assertórico à vida saudável do namoro, e acredito que não é necessário quaisquer manifestações sexuais para que um casal seja um casal pudico. Não há um mandamento que nos obrigue a nos relacionar sexualmente com o cônjuge. Assim, a sexualidade é deixada um pouco de lado pela visão religiosa. No entanto, esta condena o sexo homossexual. Admitindo-se que os homossexuais podem se amar como heterossexuais, pouco importa a vida sexual do casal. Assim, dois homossexuais viveriam como dois amigos, não ferindo, pois, os mandamentos religiosos, já que o caráter lascivo do relacionamento fora abandonado.
Através desse raciocínio, constatamos que a vida espiritual reina sobre a vida corporal, portanto, a psique e o espírito (lembre-se, uso os termos fenomenológicos) determinam como se manifestam os instintos. Se isso ocorre, o gênero necessariamente deve ocorrer como construção sexual. Existem outros pontos a discordar, data venia, o faço com muito respeito. A forma que o Aposto Courage expressou suas ideias foi bem consistente e pudica.
Tenha um boa noite. - Teobaldo Teodomiro.