Courage International, Inc. é um apostolado da Igreja Católica, fundado em 1980 pelo padre John F. Harvey, presente no Brasil e em outros países, que oferece apoio pastoral a homens e mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo e que tenham escolhido viver uma vida casta. Em 28 de novembro de 2016 Courage International recebeu o status canônico na Igreja Católica de associação pública clerical de fiéis, fazendo-o o único apostolado canonicamente aprovado de sua espécie.
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sábado, 4 de janeiro de 2020
[Atld] Entrevista com o coordenador nacional do Courage
Coordenador nacional do apostolado Courage, Maurício Abambres, 49,
percorre o Brasil para falar sobre o caminho proposto pela Igreja Católica aos
homens e às mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo e buscam viver a fé com
sinceridade e liberdade.
Em entrevista ao O SÃO PAULO, o assessor jurídico do
Tribunal de Justiça de São Paulo partiu de sua própria história de vida para
explicar como é realizado o acompanhamento pastoral das pessoas com tendências
homossexuais, assim como os desafios que existem dentro e fora da Igreja em
relação a esse tema. Confira a entrevista.
O SÃO PAULO – DESDE QUANDO VOCÊ
PERCEBEU QUE TEM ATRAÇÃO PELO MESMO SEXO?
Maurício Abambres – Para entender melhor minha caminhada,
é preciso explicar um pouco da minha origem. Eu venho de uma família em que não
havia uma referência masculina, digamos, saudável. Eu não conheci meu pai e meu
avô era alcoólatra.
Eu nunca me identifiquei muito com aquilo que era comum nos meninos da
minha idade, como jogar bola, e sempre admirava os rapazes, desejava ser como
eles, mas, para mim, era um mistério como os homens agiam. Ao mesmo tempo,
tinha maior facilidade para ter amizade com as meninas, embora eu nunca tenha
tido interesse pelas brincadeiras das meninas, me vestir ou me portar como
elas. Apenas tinha uma afinidade maior. Sobretudo a partir da adolescência, a
minha busca pela figura masculina foi ficando “sexualizada”.
VOCÊ JÁ FREQUENTAVA A IGREJA?
Minha família sempre foi dos chamados “católicos de IBGE”, nunca viveram
a religiosidade, de fato. Com 16 anos, eu me aproximei da Igreja por causa de
um amigo que começou a ter uma prática religiosa mais intensa. Então, comecei a
participar da Renovação Carismática Católica (RCC).
Com 19 anos, conheci um monge beneditino que me perguntou se eu não
queria seguir a vida monástica, e acabei ingressando no mosteiro, onde fiquei
por quatro anos. Foi uma experiência muito boa e séria. Não tive problemas em
relação à vivência da castidade, embora minha tendência persistisse e sempre
fui transparente com o meu diretor espiritual a esse respeito, buscando seguir
o caminho proposto.
E POR QUE VOCÊ DEIXOU A VIDA MONÁSTICA?
Deixei o mosteiro por outras razões relacionadas à vida comunitária com
as quais não me identificava. Voltei a trabalhar e a participar do grupo da
Igreja do qual fazia parte antes. Só que lá não havia muita abertura para
tratar dessas questões. Só me diziam para viver a castidade segundo a Doutrina
da Igreja, sem, de fato, responder às inúmeras dúvidas e questões que tinha
dentro de mim. Não me via em um casamento e construindo uma família, tampouco
como um religioso ou sacerdote. Perguntava-me qual seria o meu lugar na Igreja
e no mundo.
Ao mesmo tempo, trabalhava com um rapaz que vivia uma vida assumidamente
gay, e isso me despertou uma curiosidade por esse universo. Com 27 anos,
cansado de não ter respostas e um acolhimento, abandonei a vida da Igreja. De
certa forma, encontrei um acolhimento no outro grupo. Com isso, passei a viver
um estilo de vida gay até por volta dos 40 anos. Nesse período, tive
relacionamentos estáveis, uma vida promíscua, usei drogas etc. Mesmo assim,
nunca critiquei a Igreja. Procurei outras formas de viver a religiosidade em
diferentes tradições religiosas. Nada disso, porém, me satisfazia realmente do
ponto de vista da fé.
QUANDO CONHECEU O COURAGE?
Depois de muitos anos, eu voltei a me aproximar da Igreja. Ia à missa,
mas não comungava, até porque eu vivia publicamente uma vida gay. Então, tomei
coragem e terminei o relacionamento que tinha e procurei um sacerdote para me
confessar. Só que, ao mesmo tempo, eu me questionava, pois sabia que teria que
seguir os ensinamentos da Igreja, mas não sabia como. Comecei a pesquisar na
internet sobre o assunto e encontrei o site do Courage, nos Estados Unidos,
escrevi para eles e me informaram que havia um grupo no Brasil.
No começo, tive receio, pois temia que fosse algo relacionado a grupos
que se dizem “inclusivos”, que relativizam a Doutrina e a Moral católica, sendo
que eu já sabia o que a Igreja ensinava, e só precisava de ajuda para viver
esse ensinamento. Eu tomei coragem e participei do primeiro encontro em 2012 e,
a partir daí, comecei a compreender mais o que a Igreja propõe para as pessoas
com atração pelo mesmo sexo. Compreendi que vivendo como um leigo solteiro,
consciente dessa tendência, eu posso ser útil para a Igreja a partir da
vivência das metas indicadas pelo Courage. Depois de um tempo, fui indicado
para coordenar o apostolado no Brasil e aqui estou.
HOJE, COMO VOCÊ ENTENDE A HOMOSSEXUALIDADE?
Depois de ler, estudar e fazer esse caminho no Courage, olhando para a
minha vida e para a de muitos que participam desse apostolado, eu vejo que não
é algo que tenha causas completamente definidas. Por isso, a Doutrina da Igreja
usa sempre a expressão “inclinação desordenada”, ou seja, uma tendência que
está fora da ordem natural. Outra coisa que precisa ficar clara é que a
Doutrina católica não considera a atração pelo mesmo sexo um pecado. Uma
inclinação desordenada pode levar ao pecado, mas não é um pecado em si. Por
exemplo, se uma pessoa que tem a tendência a comer demais e se deixar levar por
isso, cometerá o pecado da gula.
Infelizmente, o mundo moderno reduz a sexualidade à genitalidade, mas é
muito mais do que isso. O ser humano se realiza no dom de si a Deus por meio do
próximo, e a sexualidade faz parte disso. Penso que a Psicologia poderia
estudar essas questões com mais profundidade sem amarras ideológicas.
COMO VOCÊ COMPREENDE A AFIRMAÇÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE OS
HOMOSSEXUAIS, EM 2013?
Naquela ocasião, o Papa Francisco disse: “Se uma pessoa é gay, procura
Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la?” Essas frases
não podem ser pinçadas do seu contexto. Nós temos que ir além e entender todo o
magistério de Francisco, que, por exemplo, na Exortação Apostólica Amoris
Laetitia recorda que Deus criou o homem e a mulher para se unirem e
reafirma que as uniões entre as pessoas do mesmo sexo não são legítimas,
assim como fala do acompanhamento pastoral dessas pessoas. No livro “O nome de
Deus é misericórdia”, o mesmo Francisco recorda que “as pessoas não devem ser
definidas apenas por suas tendências sexuais”, reforçando o que o então Cardeal
Joseph Ratzinger, hoje Papa emérito Bento XVI, afirmou em uma Carta da
Congregação para a Doutrina da Fé em 1986: “A Igreja oferece ao atendimento da
pessoa humana aquele contexto de que hoje se sente a exigência extrema, e o faz
exatamente quando se recusa a considerar a pessoa meramente como um
‘heterossexual’ ou um ‘homossexual’, sublinhando que todos têm uma mesma
identidade fundamental: serem criaturas e, pela graça, filhos de Deus,
herdeiros da vida eterna”. Portanto, o que significa buscar o Senhor? Se eu o
busco, quero ouvir o que Ele me fala e, consequentemente, buscar viver o que
Ele me pede.
(fonte: O São Paulo)
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Olá Maurício gostaria de conhecer o Apostolado, você pode me ajudar a me inserir ? Sou de São Paulo. Obrigado. Deus o abençoe.
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