Courage International, Inc. é um apostolado da Igreja Católica, fundado em 1980 pelo padre John F. Harvey, presente no Brasil e em outros países, que oferece apoio pastoral a homens e mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo e que tenham escolhido viver uma vida casta. Em 28 de novembro de 2016 Courage International recebeu o status canônico na Igreja Católica de associação pública clerical de fiéis, fazendo-o o único apostolado canonicamente aprovado de sua espécie.
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domingo, 1 de março de 2020
[Tst] Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor!
“Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor
e para sempre proclamarei a sua fidelidade”
(Sl 89, 2).
Falar de mim
mesmo é sempre um desafio. Confesso que não gosto muito de me aventurar pela
trilha do meu passado e no depósito das lembranças que o meu interior foi
acumulando.
Resolvi
fazê-lo movido pelo desejo de estimular os outros irmãos que passam pela mesma
experiência que eu e estimulá-los a terem coragem e aceitarem o desafio da vida
casta.
A. Infância. –
Como todas as histórias humanas, a minha começa com o meu nascimento que se deu
há cerca de 30 anos atrás. Contexto de agitação popular no Brasil: fim da
Ditadura Militar, Diretas já, eleição e morte de Tancredo Neves, governo
Sarney, etc. naquele caldo de acontecimentos que a história brasileira chama
‘Redemocratização’, eu nasci.
Meus pais
contam-me que eu sou fruto de um milagre. Minha mãe recebeu, na adolescência, o
diagnóstico médico de que não poderia ter filhos, mas graças à oração,
confiança em Deus e insistência dos meus pais, eu nasci. Meus pais, meus avós e
meus tios sempre disseram que eu fui muitíssimo desejado por todos. Ao mesmo tempo,
recebia deles clara reprovação por não corresponder às expectativas que eles
tinham sobre mim. Queriam que eu fosse um menino típico: que praticasse algum
esporte e tivesse interesse nas diversões dos meninos, mas eu não tinha nenhum
interesse nisso, nem nos esportes.
Do que tenho
lembrança, na infância fui um garoto muito tímido, retraído, calado e
extremamente fechado em mim mesmo. Não tinha amigos, não tinha vontade de
fazê-los. Nas poucas vezes que me aventurei a tentar fazer amigos, fui violentamente
hostilizado. Em todos os ambientes onde eu interagi: na rua onde morava, as
escolas onde passei, a paróquia que frequentava, minha interação social foi
permeada por um percurso de bullying
violento: xingamentos (bichinha, mulherzinha, viadinho, boiola etc.), chacota,
humilhação e episódios de agressão física.
Minha família
sempre foi católica praticante: íamos à missa aos domingos e dias de guarda e
meus pais eram atuantes na vida da Paróquia perto da minha casa. Assim, fui
conhecendo a Deus desde a minha tenra infância e, ainda sem compreender muito,
procurei aproximar-me dEle porque intui que Ele devia nutrir alguma simpatia
por mim, já que era a única pessoa ao meu redor que não demonstrava sua
reprovação ou desprezo por mim. Suspirava pelo dia que Deus me viesse tirar do
inferno que era minha vida naquela época. Minha infância foi muito triste!
Não posso
pensar na minha infância sem lembrar-me da canção “Nobody knows the trouble I've seen” de Louis Armstrong, me parece
que é a trilha sonora deste tempo da minha vida.
B. Adolescência – Nos anos escolares
da minha adolescência, eu ainda era razão de deboche dos rapazes e das garotas
na vizinhança e no colégio. Desse período, guardo as piores memórias de
humilhação, bullying, chacota e ainda
episódios de agressão física.
Houve, então,
um evento que marcou completamente a minha experiência de adolescente. Um
vizinho novo mudou-se para a rua de casa e travou amizade comigo. Ficamos bons
amigos, conversávamos muito, éramos como irmãos. Pela primeira vez eu me sentia
valorizado por alguém que não me hostilizava. Durou, porém, pouco tempo essa
amizade, pois ele mudou-se um ano e meio mais tarde. Minha vida voltou para
habitual estado de ser objeto de hostilidades nos ambientes onde me
encontrava.
Logo após
isso, comecei a trabalhar. No trabalho também encontrei um ambiente semelhante
aos anteriores, mas segui a vida.
C. Universidade. Descoberta da AMS. –
Ingressei na Universidade uns anos depois de começar a trabalhar. Ao mesmo
tempo do meu ingresso na universidade, comecei a perceber que não somente as
mulheres me atraíam, mas também os homens, ou seja, que tinha atração pelo
mesmo sexo (AMS).
Não tinha uma
consciência clara acerca da AMS e queria viver como se ela não existisse. Eu a
ignorava. Vivia a descoberta da AMS em
silêncio. Questionava a Deus: Por que eu? Sentia-me um fracassado, não me
sentia homem o suficiente. Eu tinha vergonha de ter AMS, não queria admitir.
Nada era muito claro para mim, porque eu ao mesmo tempo, estava apaixonado por
uma moça da comunidade de leigos consagrados da qual fazia parte naquele tempo
e inclusive sentia-me atraído sexualmente por ela. Não existia uma relação de
confiança com a minha família e eu não poderia falar com eles sobre isso com
medo de obter mais reprovação do que já recebera outrora.
Havia lido
num livro do Padre Daniel-Ange chamado ‘Teu
corpo feito para o amor’ o drama de alguns jovens, homens e mulheres que experimentavam
o mesmo que eu. Esse livro virou meu companheiro. Nas horas de maior
dificuldade, lia e relia aqueles testemunhos, era como se aquelas pessoas
falassem comigo. Relia os conselhos do padre Daniel-Ange que nutria esperança
de colocar em prática. Queria viver aquilo que a Igreja ensinava -- ou seja, em
castidade -- como o padre exortava no livro, mas não sabia como realizar sozinho
esta tarefa.
D. SoGo “Sodoma e Gomorra” – No
período em que estive na Universidade, meus olhos abriram-me para abismos nunca
dantes conhecidos, nem imaginados. Experiências que nunca imaginei existirem se
deslindaram diante dos meus olhos para meu horror. Conheci práticas que me
causaram inicialmente repúdio, depois curiosidade, por fim, adesão. Comecei a
ter sede de fazer experiências novas e transigir.
A partir da
leitura de um famoso folhetim gay chamado “O terceiro travesseiro” a ideia de
encontrar um príncipe encantado que fosse também ao mesmo tempo, um amigo
compreensivo e leal cresceu perigosamente em meu coração. E eu adicionei aos
vícios a busca desenfreada por um parceiro que satisfizesse os meus ideais
românticos.
E. Isso é amor? – Como
sempre fui um rapaz tímido sai em busca de um namorado nos chats de
relacionamento e tive um sem número de experiências frustrantes para mim. Um
dia, entretanto, encontrei-me com um rapaz com idade próxima a minha, que tinha
gostos e interesses parecidos e satisfazia meus ideais românticos embora eu
fosse católico e ele fosse judeu. Ele se chamava Tiago.
Junto
a ele me sentia compreendido, estimado, amado, algo que nunca me sentira
anteriormente, nem mesmo no meu grupo de amigos gays. Tiago fazia eu me sentir bonito, forte, seguro.
A vida inteira eu me sentira no papel de patinho feio, com ele eu me sentia
protagonista da minha própria vida. Acreditei que experimentava aquilo que
dizia Saint-Exupéry no ‘Pequeno Príncipe’ por meio do diálogo da raposa com o
principezinho: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu
começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei
feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço
da felicidade!” Me perguntava se aquilo que estava vivendo era o amor ou estava
sonhando como naquela música ‘Is this
love’ do Whitesnake.
Entretanto,
apesar dessa experiência extremamente satisfatória eu era atravessado vez por
outra por crises de consciência que faziam com que nossa relação sofresse idas
e vindas, pois eu não tinha paz e alegria interiores. Durante cerca de 2 (dois)
anos as coisas foram assim: vivemos um relacionamento secreto com idas e vindas
da minha parte de modo que num dado momento, comecei a me questionar sobre esse
relacionamento com seriedade. Tiago era bom amigo e bom amante, parceiro,
inteligente, culto, paciente, carinhoso, divertido, mas aquele relacionamento
não me trazia paz ao coração.
A
partir disso, penso eu, a graça de Deus me alcançou novamente e desatou-se uma
luta dentro de mim, mas as coisas aconteceram de modo que eu posso dizer como o
profeta Jeremias: “Seduziste-me, ó Senhor, e deixei-me seduzir; mais forte
foste do que eu, e prevaleceste” (Jr 20,7). Pesando prós e contras do meu
relacionamento e da proposta de uma vida casta com Deus, não sem grande
dificuldade, decidi-me por Deus. Foi a decisão mais difícil da minha vida!
Uma
vez decidido, marquei um encontro com Tiago para pôr um ponto final no
relacionamento. Depois de uma conversa dolorosa e difícil para ambos, pois nós
nos gostávamos sinceramente, disse-lhe em meio a lágrimas contidas de ambas as
partes, que não poderíamos continuar o relacionamento, muito menos
oficializá-lo como era vontade dele, pois eu estava decidido por Jesus Cristo e
pela vida casta conforme o ensinamento da Igreja Católica Apostólica Romana.
Terminamos ali o relacionamento.
F. O Courage: o Senhor me deu
irmãos – Os anos 2009/2010 foram de viragem na minha vida. No grupo de
amigos gays que eu fazia parte, apesar de sentir-me acolhido e aceito, não me
sentia realizado ali, nem com eles, nem com namorado nenhum e nunca escondi
isso de alguns deles. Um dia, um desses meus amigos conheceu um sacerdote e
comentou que havia um rapaz católico entre os amigos dele que não estava
satisfeito com a própria vida. Esse rapaz era eu. Puseram-me em contato com
este padre e com ele pude desabafar toda minha angústia. O padre, como bom
pastor, apresentou-me o Courage Latino. Li avidamente o conteúdo do site e disse
para mim mesmo: é isso o que eu procurava! Mas o Courage Latino estava no
México e me entristeci.
No
entanto, a providência foi encaminhado as coisas e logo conheci o Matias Rimont
que estava em contato com o Padre Buenaventura, coordenador do Courage Latino,
na intenção de trazer o trabalho do Courage para o Brasil. Embarcamos juntos
nessa aventura, organizando um blog e disponibilizando um e-mail para conhecer
mais pessoas que enfrentavam o mesmo desafio que nós.
Em
2011, no dia de Finados, dávamos o passo de morrer para a vida velha e renascer
para uma vida nova em Cristo trilhando o caminho inaugurado pelo Padre John
Harvey quase 30 anos antes nos EUA: o desafio de viver castamente segundo o
ensinamento da Igreja por meio das 5 metas e dos 12 passos, a busca por
amizades castas e sadias, a fraternidade entre irmãos. Tivemos, na cidade de
São Paulo, a primeira reunião da primeira célula do Courage no Brasil.
Desde então sou membro da célula do Courage em São
Paulo e percebi que o Senhor me deu irmãos para compartilhar uma vida de acordo
aos ensinamentos do santo Evangelho que a Igreja anuncia há mais de 2000 anos.
G. 10 Anos depois – Os quase dez anos
seguintes à minha descoberta do Courage têm sido uma divina aventura. Não quero
enganar ninguém: não quero dizer que já alcancei a castidade, mas continuo a
persegui-la. Embora caia eventualmente em alguma tentação e tenha que lutar às
vezes com a tentação de desistir de tudo, refaço diariamente minha escolha de “tomar a cruz de cada dia” (Lc 9,23) e
continuar seguindo a Cristo. As feridas que carrego ainda estão todas aqui e os
seus efeitos ainda se manifestam vez por outra, no entanto, sei que se eu cair
posso me levantar e seguir adiante porque tenho irmãos para me ajudar, não
estou sozinho! Isso é libertador pra mim.
Descobri que o reconhecimento da minha própria
incapacidade, a prática da oração, a leitura de bons livros, a meditação, a
confissão e a comunhão frequentes e o serviço ao próximo me capacitam a viver
como um verdadeiro filho de Deus. No caminho que vou
percorrendo, vou crescendo em autoconhecimento e conhecimento de Deus. Aprendo
que devo estar atento a mim mesmo e à maneira como lido com os outros. Também aprendo
que Deus usa meus sofrimentos para me lapidar, me atrair a Si e ganhar
intimidade comigo. Cresce em mim dia a dia a convicção de que só a vida casta é
boa.
Quero cada
dia mais aprender a viver como um filho amado de Deus, deixando Cristo crucificado
perdoar misericordiosamente as minhas tolices e viver junto às minhas dores e
perturbações.
Espero que o
meu testemunho seja útil para mostrar, a você que me lê: não estás sozinho! Não
temos de guardar só para nós o que nos é difícil e faz sofrer porque “não é bom que o homem esteja só” (Gn
2,18) e “o irmão ajudado pelo seu irmão é
forte como uma cidadela” (Prv 18,19). Estamos juntos nisto!
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Puuuxa!Um dos depoimentos mais lindos que já li na minha vida! De total entrega e confiança no Senhor! É realmente muito comovente! Nunca tinha visto pessoas tão fortes e guerreiras! Deus os abençoe!
ResponderExcluirDepoimentos como este nos dão mais esperança. Postem mais depoimentos, por favor.
ResponderExcluirBelíssimo testemunho ! Que Deus abençoe abundantemente sua vida e esse apostolado e que muitos homens e mulheres com AMS/AAS encontrem no courage um caminho de felicidade e santidade.
ResponderExcluirQue essa obra possa crescer muito no Brasil e no mundo .
Eu comecei a castidade a tres anos. Sempre buscava e nao conseguia ate sentir o chamado de Deus e abandonar as praticas e firmar meu proposito atraves de uma oracao diferente de tudo que eu ja tinha feito ou proposto. As vezes a forma de falar com Deus muda tudo e ca estou preenchido e aguardando nele ate juntos estarmos la.
ResponderExcluirDevemos suportar tudo, pois o sofrimento é pequeno e a recompensa é grande (Santa Catarina de Sena)
ResponderExcluirObrigado irmão por partilhar esse testemunho, sem sombra de dúvidas ajudou na minha caminhada e nos demais que querem viver a castidade. O céu é o limite!
Continuem postando testemunhos. Ajuda muito. Abraço fraterno
Olá tenho lido alguns artigos postados aqui no grupo e gostaria muito de participar ativamente das reuniões e encontros, como posso me inserir? Deus abençoe a todos(as) e Nossa Senhora cuide de cada um de nós. ��
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