Cultivarmos um espírito de companheirismo no qual
todos possamos partilhar, uns com os outros, nossos pensamentos e experiências
e, assim, assegurarmos que nenhum de nós venha a enfrentar sozinho os desafios
da homossexualidade
(COMPANHEIRISMO)
Compreender, desculpar e ajudar
Não
julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados;
perdoai, e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á (Lc 6,36-38)
Com uma
frase muito breve, São Josemaria Escrivá glosa estas palavras de Cristo: «Mais
do que em “dar” – diz -, a caridade está em “compreender”» (Caminho, n.
463).
É impossível
existir caridade sem compreensão. E é
impossível existir verdadeira compreensão sem a disposição de desculpar e
também, sempre que possível, de ajudar.
Todas as vezes
que julgamos uma pessoa e concluímos, como quem dita uma sentença: “é assim”,
“é insuportável”, “é maçante”, “é preguiçosa”, “é arrogante”, estamos
a condená-la. Ao fazer tais juízos, colocamos nos
outros uma etiqueta, como se faz num frasco ou num inseto colecionado, e os
fechamos nessa definição. Dizer de uma pessoa: “Ela é assim”
equivale a perder a esperança de que venha a mudar. Como se partíssemos da base
de que vai ser sempre assim, e de que o máximo de caridade que lhe podemos
dedicar é apenas sermos pacientes, suportando-a tal como é.
O contrário de
condenar é desculpar e esperar. O coração
bom está sempre inclinado a desculpar. Ao julgar os outros, evita usar o verbo
“ser” – Fulano é assim -, e prefere empregar o verbo “ter”:
essa pessoa, que – como todos os filhos de Deus – é potencialmente santa,
agora, por uma série de circunstâncias, tem tal ou qual
defeito, mas isso não quer dizer que sempre deva tê-lo. É muito provável que
uma série de dificuldades a levem a comportar-se assim. É justo tê-las em
conta. Talvez seja grosseira porque não recebeu uma educação esmerada, ou
arrogante porque foi humilhada e sente necessidade de se afirmar, ou impaciente
porque lhe dói o fígado… Sempre há uma desculpa, afetuosa, que os “bons olhos”
do cristão detectam, uma desculpa com fundamento objetivo, real, que impede que
julguemos esta ou aquela pessoa com dureza e, ainda mais, que a
desclassifiquemos.
Certamente os
outros têm defeitos, como nós os temos, mas felizmente não estão acorrentados
por eles como um sentenciado a prisão perpétua. Está nas nossas mãos – está nas mãos da nossa
caridade – desamarrar-lhes esses grilhões. Esta é uma das mais delicadas
tarefas do amor benigno (cf. 1 Cor 13,4): não deixar ninguém de
lado por impossível, antes dar-lhe a mão, ajudá-lo incansavelmente – com
infinita compreensão e paciência – a soltar um a um os elos dos defeitos que
compõem essas suas correntes.
Naturalmente,
isto pressupõe que saibamos confiar – como víamos – na
capacidade de bondade das pessoas, e portanto na sua possibilidade de mudar. Já
foi dito alguma vez que perder a confiança em alguém é matá-lo. Também é
verdadeira a afirmação contrária: confiar em alguém é dar-lhe a vida.
É claro que essa confiança não se confunde com a credulidade ingênua, que fecha os olhos e julga que, afinal, todo o mundo é bom. A verdadeira confiança é outra coisa. O homem bom não é cego nem insensível aos valores. Não deixa de ver o mal, em toda a sua dimensão perniciosa, e chama erro ao erro, e pecado ao pecado. Mas, ao mesmo tempo, acredita com todas as suas forças que aquelas “sementes de bondade” que dormem em cada coração humano podem ser ativadas, podem ser cultivadas. Por isso, arregaça as mangas e, sem reclamar dos espinhos dos outros, trabalha para que neles desabrochem as rosas.
São Josemaria,
um sacerdote que irradiou compreensão e confiança, despertando milhares de corações
para o bem, costumava dizer que cada pessoa, deve ser tratada como uma pedra
preciosa.
Não existem
duas pedras preciosas idênticas, que possam ser lapidadas da mesma maneira. O
bom lapidador estuda-as uma a uma, e daí tira conclusões sobre o modo de
extrair o máximo de perfeição e beleza de cada uma delas.
Assim deve ser
com as almas. O estudo atento do lapidador é, neste caso, a afetuosa atenção
que prestamos a cada pessoa, esforçando-nos por compreender o seu modo de
ser, o porquê das suas arestas e pontos frágeis, as linhas em que melhor pode
ser “trabalhada”. E dessa prévia compreensão, decorrerá o modo de tratá-la, de
ajudá-la.
Para tanto,
não é necessário possuir conhecimentos muito especializados de psicologia.
Basta a psicologia do afeto, que proporciona uma profunda acuidade aos olhos. O
amor de uma mãe não precisa de manuais de psicologia para intuir, de modo
certeiro, o que está acontecendo com o filho. Basta o carinho, o interesse
e a vontade de se dar.
Não
esqueçamos, por outro lado, que todo bom lapidador é paciente, o que significa
que tem a consciência de que, para transformar um diamante bruto num esplêndido
brilhante, vai precisar de tempo, de trabalho minucioso, e que só pouco a pouco
irá progredindo no seu lavor.
Este é o modo
de agir da verdadeira caridade. Assim como o carinho superficial, mole, se
contenta com dar umas pinceladas superficiais de amabilidade, a verdadeira
caridade traduz-se numa dedicação infatigável. Dá-se sem pausa, espera sem
cansaço e não desiste jamais. Persiste incansavelmente, sem abrandar a
generosidade da entrega, até ver despontar finalmente os frutos; e aguarda
confiante – permita-se-nos repeti-lo – que as “sementes de bondade” dos outros
acabem por germinar.
A doação de um
cristão que ama assim, com coração generoso e bom (cf. Lc
8,15), nunca será estéril.
(Adaptação de
trechos do livro de F. Faus, O homem bom)
(o artigo original,
de autoria do Padre Faus, pode ser encontrado aqui)
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