A ORAÇÃO
Além dos dois meios
especiais que constituem como que a clausura moral para a defesa da castidade,
existem outros gerais, que é absolutamente necessário usar para se manter
casto. Foram-nos propostos por Nosso Senhor no Evangelho. Os apóstolos, perante
a incapacidade de libertar um endemoninhado, perguntaram a razão ao Divino
Mestre; ele lhes respondeu: “Este tipo de demônio não pode ser expelido a não
ser por meio da oração e do jejum” (Mc 9, 29). Os Santos Padres reconhecem
unanimemente neste demônio o da luxúria, da incontinência. Os meios, portanto,
para nos mantermos castos, além da vigilância, são dois: oração e mortificação.
A oração nos alcança a graça; a mortificação desbarata as tramas dos inimigos.
Em primeiro lugar, a
oração. Ah! Esta bela virtude só pode ser defendida pela oração. Todos
proclamam isto: a Sagrada Escritura, os Santos Padres, os mestres de
espiritualidade. Rezar, rezar bem, “rezar sempre” (Lc 18, 1). Se precisamos da
oração para obter todas as graças, necessitamos dela sobretudo para nos
mantermos castos. É bem assim, como acertadamente afirma Cassiano pois a
inclinação ao vício impuro é muito forte; e contar apenas com as próprias
forças, sem uma ajuda especial de Deus, é impossível conservar-se casto, a
menos que intervenha um milagre. São Cipriano confirma esta sentença, dizendo: “Dos
meios para obter a castidade, o primeiro e principal é implorar o auxílio do
alto”. São Gregório, por sua vez, declara: “A oração é a tutela da pureza”. São
João Crisóstomo assevera: a oração e o jejum são como duas asas que erguem a
alma por sobre as tempestades, tornando-a mais ardente que o fogo e terrível
aos inimigos. E conclui: “Nada e ninguém é mais forte de quem reza”.
Santo Tomás de Aquino,
tendo decidido abraçar a vida religiosa, certo dia pôs-se a caminho de Paris,
mas seus irmãos foram-lhe ao encalço trancafiaram-no numa torre e introduziram uma
mulher infame com o fito de perverte-lo. O santo, assim que notou o perigo,
dirigiu-se a Nosso Senhor e à Virgem Maria com todo o fervor da sua alma: “Ó
Senhor, não permitais que eu caia! Virgem Santa, ajudai-me!” Em seguida,
empunhando um tição aceso, afastou aquela mulher e continuou a rezar. No mesmo
momento os anjos desceram do céu e o cingiram com um cíngulo milagroso; daí por
diante nunca mais experimentou tentações contra a castidade. Vede, bastou uma
breve oração.
Peçamos a Nosso Senhor,
portanto, esta virtude tão bela e necessária; peçamo-la para os dias de hoje e
para quando nos encontrarmos cercados de numerosos perigos, inclusive de inimigos
externos, que lhe armarão ciladas. Peçamo-la sempre. Atenção, porém: não basta
rezar a intervalos e na capela; não basta rezar três Ave Maria de manhã e à
noite; não basta fazer as costumeiras práticas de piedade durante o dia; para
vencer estas tentações é preciso ter o espírito de oração, o hábito da oração
mental, vocal e das jaculatórias. Devemos manter-nos em constante união com
Deus e ter o gosto da oração; não gosto sensível, mas da vontade. E para que a
tentação não encontre acolhida, é mister conservar a mente sempre ocupada com
bons pensamentos: o ramalhete espiritual da meditação, uma comunhão espiritual,
uma jaculatória, etc. Para não vivermos unidos ao demônio, devemos viver unidos
a Deus. Santo Agostinho dizia: “Senhor, prescreveis a castidade? Dai-nos o que
prescreveis e pedi-nos o que quiserdes”. Com o espírito de oração tudo se
alcança. “Pedi e recebereis” (Jo 16, 24). Assim procediam os santos; alguns
deles passavam a noite em fervorosa oração para afastar as tentações impuras. A
oração nos ergue da terra e nos eleva ao céu.
Crede-me: os fervores
momentâneos são insuficientes para vencer este vício. Vem a tentação,
combate-se frouxamente, vacila-se, tomba-se. Dom Gastaldi, dirigindo-se aos
sacerdotes, dizia: quem não reza de boa vontade e assiduamente, já caiu ou está
para cair. Quem não se sente bem na presença de Jesus Sacramentado, quem
permanece constrangido diante dele, demonstra que já perdeu a bela virtude ou
está prestes a perde-la. Quando vejo um jovem que habitualmente reza pouco, que
reza de má vontade, não faz com empenho a meditação cotidiana e a visita ao
Santíssimo Sacramento, digo que tal jovem, se ainda não caiu, cairá no vício
impuro.
Meus caros, é por isso
que muitos sentem náusea na oração, não gostam de ficar na igreja: não são
castos, não têm coração puro. Como podem afeiçoar-se à oração, permanecer na
presença de Jesus Sacramentado, cujos olhos puríssimos se fixam nos refolhos da
alma? Não podem resistir; então sentem a necessidade de se entregar a
trabalhos, a distrações, a fim de afastar o pensamento de Jesus, que constitui
uma contínua e dolorosa repreensão ao seu comportamento. Temem que Jesus —
bondoso Médico das almas — ponha o dedo na chaga e lha faça conhecer. Por isso,
fogem dele. Infelizes! Não saram porque não querem, e tentam convencer-se de
que não estão doentes...
Se alguém dissesse: “para
que rezar tanto? Seria melhor ocupar o tempo no estudo...” Meus caros, este
indivíduo não tem o coração puro e dado que a oração constitui um peso para
ele, procura deixa-la; assim, para abafar a voz do remorso, gostaria que também
os outros a deixassem. Mais ainda: a sagrada comunhão, que leva tantos fiéis a
correr pelo caminho da perfeição, que forma os virgens e os conserva, por que
parece endurecer o coração de tantos religiosos, sacerdotes e seminaristas? A
explicação é sempre a mesma: não são castos, não têm o coração puro.
Rezemos, portanto e
Deus nos concederá a graça inestimável de nos conservarmos castos por toda a
vida, especialmente vós, missionários. Uma coisa, porém, é certa: para obtermos
esta graça, devemos rezar muito. Um missionário sem oração faz duvidar de sua
castidade.
Habituemo-nos a procurar sem demora refúgio no Coração de Jesus, especialmente nas tentações, e deixemos que ele responda por nós. Assim se comportava Santo Agostinho; procurava e salvação nas chagas do Divino Redentor: “Meu repouso seguro está nas chagas do Salvador”. Tentações haverá sempre; mas lá, no Coração de Jesus, nada pode acontecer; ele aplacará a tempestade. “Estarei com ele na tribulação, hei de livrá-lo e glorifica-lo” (Sl 90, 15). Certos, durante as tentações, estreitam o Crucifixo. É um gesto que explica tudo; não é preciso quebrar a cabeça. Outro meio poderosíssimo sem o qual é quase impossível permanecer casto, é alimentar uma terna devoção a Maria Saníssima. Ela é a dispensadora de todas as graças particularmente desta. Consagremos-lhe a nossa castidade, colocando-a sob a sua especial proteção, repetindo com frequência: “Mãe puríssima... Mãe castíssima... Virgem das virgens, rogai por nós.” Recorramos também a São José, que conhece toda a formosura desta virtude e é muito poderoso para no-Ia alcançar. Digamos-lhe de coração: “Fazei, ó José, que levemos uma vida pura!” Invoquemos o nosso bom Anjo da Guarda. Em suma, se houver orarão e união com Deus, contaremos com o auxílio divino. “Ainda que se levantem exércitos contra mim, o meu coração não temerá” (Sl 26, 3). Embora o demônio vá à procura de outros sete diabos “piores que ele”, nem assim vencerá, porque “a graça de Deus está comigo!”
(A Vida Espiritual, do Beato José Allamano)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar nosso blog
Abaixo você tem disponível um espaço para partilhar conosco suas impressões sobre os textos do Apostolado Courage. Sinta-se à vontade para expressá-las, sempre com respeito ao próximo e desejando contribuir para o crescimento e edificação de todos.