Muitos conhecem a maneira como são organizados os retiros da Renovação Carismática Católica e estou ciente da avaliação que alguns fazem deles. Não me deterei nisso. O que importa aqui é simplesmente isto: eu fui em busca de Deus. Creio que Deus, ciente da minha sede, cuidou de saciá-la e, fazendo isso, quis conquistar minha alma. Por isso, cada palestra que eu ouvia, cada música, cada gesto dos irmãos repercutia apenas um nome, o de Jesus. Não pude evitá-Lo. Assim que eu O confrontei e já não pude mais resistir, apenas me rendi a este Rei e, no mesmo instante, apenas uma certeza inundava a minha alma: "Eu sou amado por Jesus... Deus me ama". Naquele momento, de uma só vez, eu aceitava Jesus, como Filho de Deus, como Deus e como meu Senhor e meu Salvador, e Deus saciava minha sede por Ele, amando-me por meio do Seu Filho.
"Do Vosso lado aberto pela lança de um dos soldados, jorraram Sangue e água, de tal modo que não retivestes uma gota sequer. E, enfim, como um ramalhete de mirra elevado na Cruz, Vossa Carne delicada se aniquilou, feneceu o humor de Vossas entranhas e secou a medula dos Vossos ossos." (As Quinze Orações de Santa Brígida)
Que amor é esse? Como pode alguém doar o que lhe é mais caro, sem reservas, a alguém que tantas vezes O ignorou e por tantas ações O ofendeu? As pessoas muitas vezes haviam me humilhado, me deixado de lado, abusado de mim... O que eu podia oferecer a Jesus? Só um coração duro, a raiva, as mentiras, os pecados... mas, ainda assim, Ele quis estar comigo. Pelos meus pecados gravíssimos, a graça do Espírito Santo já não habitava em mim e sei que, por isso, eu merecia o inferno. Porém, mesmo estando eu no fundo do abismo, o conhecimento do sacrifício de Jesus na Cruz só me certificava de que Deus me ama, Ele me resgata e quer que eu viva, com Ele, para sempre.
Enfim, liberdade!
Eles sentaram comigo e conversaram longamente sobre sexualidade. Contaram como eles viveram suas sexualidades durante a adolescência, como se conheceram e como foi todo o namoro até se casarem. Os dois foram unânimes em defender a castidade, que viveram quando solteiros pela abstenção e que vivem hoje pela fidelidade conjugal, e disseram que eu não deveria me desesperar com os conflitos no âmbito da sexualidade e que problemas são parte do amadurecimento.
Depois daquela conversa, eu senti como se um grande peso tivesse sido tirado das minhas costas. Eu estava livre. Por várias vezes, senti como se algo na minha consciência me torturasse e me chantagiasse com meus segredos. Depois de conversar com meus pais, eu já não era mais refém.
Meus pais me ajudaram muito. Eles conversaram, compraram livros e custearam ajuda psicológica para mim.
O primeiro livro que li sobre homossexualidade foi "A luta pela normalidade sexual", de Gerard Aardweg (sobre esse livro, há um comentário de Dom Estevão Bettencourt, muito elucidativo, presente o Pergunte e Responderemos, n. 467, abril de 2001, a partir da página 177. Disponibilizado pelo site Veritatis Splendor: aqui). A cada página, eu via a minha própria história nas letras escritas por Aardweg. Ele havia tratado de homens com atrações pelo mesmo sexo durante anos e havia notado algo em comum entre esses homens: seu complexo de inferioridade e sua tendência a fazer-se vítima, achando que o resto do mundo está em débito com eles. Com base nisso, Aardweg propunha algo que calou fundo em mim: a auto-ironia.
Durante muito tempo eu me fiz de vítima. De fato, achava que todos estavam em débito comigo. Ignorava que eu mesmo já tinha feito coisas odiosas com os outros. Mas via apenas a minha dor e achava que todos os outros estavam em comum acordo de me fazer sofrer. Ora, naquele livro estava alguém me chamando a atenção para o fato de que eu não sou a pobre vítima. Que, apesar do que eu sofri, eu também havia causado muito sofrimento aos outros. Na verdade, não lembrava se tinha feito bem a alguém. Eu só pensava em mim mesmo. Diante disso, qual era o primeiro passo? Acabar com aquele vitimismo, ironizando-me. Dali para frente, todas as vezes que eu me sentia impelido a começar as cenas de auto-piedade, ria de mim mesmo e da situação. Ninguém me elogiava? "Nossa, pobre criatura! Ninguém reconheceu a augusta beleza e a magistral sapiência de Sua Magnanimidade! Que crime horrível foi cometido contra a humanidade! É verdade que Sua Alteza nem prestou atenção aos outros. Mas, não. Para você, os Céus, a terra, os mares, as constelações e as gentes todas têm que parar, prestar atenção e ainda aplaudir". Com brincadeiras como essa, que eu fazia comigo mesmo, eu acabava me dando conta de muitas verdades e o vitimismo dava lugar a uma postura mais madura em relação ao mundo.
Antes parecia tudo fechado diante de mim. Uma bolha cinza de tristeza e pessimismo me isolava de tudo. Fora das suas membranas, não havia rumor de possibilidades. Porém, os gracejos da auto-ironia junto com a graça de Deus estouraram minha prisão. Pela primeira vez, vi adiante chances. Mais à frente, o Sol da Esperança iluminava meus estudos, minha vocação, minha afetividade, minha família. Pela primeira vez, meus olhos abriam e eu não estava chorando, dormia e não me sentia só.
Certo é que já havia acabado o tempo de viver no cárcere das mentiras, do coitadismo, do eu e as minhas misérias. Deus havia estendido Sua mão para mim e me tirou de um buraco cavado há muitos anos. Dali para frente, haveria sem dúvida desafios, precisaria sair de outros buracos, apareceriam obstáculos, mas aprenderia muito e, com a graça de Deus, os superaria todos — cada um de uma vez. Todavia, mesmo que a jornada adiante se revelasse a cada dia difícil, eu já não estava mais fugindo do meu passado e não estava mais me escondendo de mim mesmo ou da minha família.
Por todo relatado, creio que Deus me ama e sei que O amo. Creio que Jesus Cristo me fez livre para sempre e, sendo livre, posso e quero ir até Ele. Agora, mais do que nunca, estou persuadido de que o amor de Deus é real e é para sempre. Por isso creio que você, que lê minha história, também é amado, também é amada, por Ele.
Se você está no cárcere, saiba que Jesus está à porta. E Ele bate.
Transmitir que Deus te ama sobre todas as coisas é muito importante, por ser assim nos sentimos muito indiferentes e acabamos machucados
ResponderExcluirTransmitir que Deus te ama sobre todas as coisas é muito importante, por ser assim nos sentimos muito indiferentes e acabamos machucados
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