Estamos iniciando o tempo da Quaresma.
Para a Igreja, a Quaresma é um tempo de “um mais aplicado serviço do Senhor”, nos dizeres de São Leão Magno. Sobre a Quaresma, assim afirma Dom Prósper Guéranger,
no seu ‘Ano Litúrgico’: “uma época, tão sagrada como esta da Quaresma, é rica
em mistérios. A Igreja fez dela um tempo de recolhimento e de penitência, em
preparação para a maior de todas as suas festas; ela incluiria, portanto,
tudo o que poderia estimular a fé dos seus filhos, e incentivá-los a realizar o
árduo trabalho de expiação dos seus pecados”.
Tendo escolhido andar com Deus, o homem é chamado a participar da sua
santidade e por isso deve se converter. No inicio da sua vida pública, disse
assim Nosso Senhor: “Convertei-vos e
crede no Evangelho” (Mc 1,15). Conversão, metanóia, mudança de mentalidade. É esse o trabalho que somos
chamados a empreender a vida toda se queremos participar um dia da felicidade
eterna com Cristo. Para vivermos isso, devemos trabalhar para operar nossa
transfiguração em Cristo até que possamos dizer: “não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Dietrich von Hildebrand, no seu livro ‘A nossa transformação em
Cristo’ afirma que “Deus nos chamou a transformar-nos em homens novos em
Cristo. Nos outorga uma vida nova sobrenatural no Santo Batismo, nos faz
participes da sua vida divina. Mas essa vida não está destinada a descansar
escondida como um segredo no fundo da nossa alma, mas a transformar toda a
nossa pessoa. A meta a que Deus nos chamou em sua inconcebível misericórdia,
não é só uma perfeição ética, que não se diferenciaria qualitativamente da
natural e que só receberia significado sobrenatural pela graça oculta, mas
também a plenitude sobrenatural de todas as virtudes de Cristo”.
Para estimularmo-nos nesse caminho em busca da plenitude de todas as
virtudes de Cristo na nossa vida, a Igreja nos favorece com a Quaresma. As
obras de mortificação e renuncia a que somos convidados nesse tempo quer nos
capacitar para que tenhamos uma maior abertura e disponibilidade para que o
Senhor realize em nós a maturação necessária para que possamos nos configurar
perfeitamente a Cristo e assim chegarmos à sua estatura completa (cf. Ef 4,13) e
colher os frutos da sua paixão, morte e ressurreição.
O cerne da espiritualidade da Quaresma é, portanto, este trabalho de
penitencia e recolhimento que nos capacita à configuração com Cristo. O sentido
da mortificação, muito esquecido nos dias atuais é o de pelo espírito de penitência, associarmos
nossos pequenos sacrifícios à obra redentora do Salvador.
“Eis o tempo favorável,
eis os dias da Salvação” (II Cor 6, 2). Para nós, a Quaresma deve ser um
longo retiro, um treino, em que a Igreja nos exercita na prática de uma vida
cristã mais perfeita. Aponta-nos o exemplo de Jesus e, através do jejum e da
penitência, associa-nos aos seus sofrimentos, para nos fazer participar da
Redenção.
Assim sendo, peçamos ao Santo Espírito do
Senhor que nos ilumine nessa Quaresma a fim de que pelos exercícios de piedade
propostos pela Santa Igreja corrijamos nossos vícios e elevemos nossos sentimentos às coisas do alto
(cf. Cl 3,1).
P.S.: Para aprofundar mais sobre o assunto, recomendamos a leitura da formação publicada algum tempo atrás.
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