Pequei contra a castidade! Tive uma relação sexual com outra pessoa, recorri à masturbação, vi pornografia, tive pensamentos sexuais... O que fazer? Arrepender-se e confessar-se, óbvio. Mas como manter a graça em minha alma, já que é tão difícil, nesse mundo tão sexualizado em que vivemos, seja ao ligar uma televisão, colocar os pés fora de casa, resistir ao apelo da carne, do mundo ou do demônio? É tão fácil ceder à tentação... São Francisco de Sales tem algumas respostas para isso. Cabe a cada um de nós colocar, com sabedoria e firmeza, esses conselhos em prática. Não seja extremista, achando que qualquer abraço agora está proibido, só que sabemos bem que há abraços e "abraços", há brincadeiras e "brincadeiras". Seja honesto consigo mesmo, não se sabote, e siga em frente praticando esta virtude que nos faz semelhantes aos anjos.
CONSELHOS PARA CONSERVAR A CASTIDADE
Estejas sempre de sobreaviso para
afastar logo de ti tudo o que te possa inclinar à sensualidade; pois este mal
se vai alastrando insensivelmente e de pequenos princípios faz rápidos
progressos. Numa palavra, é mais fácil fugir-lhe que curá-lo.
Parecem-se os corpos humanos com
os vidros, que não se pode levar juntos, tocando-se, sem correr perigo de se
quebrarem, e com as frutas, que, embora inteiras e bem maduras, recebem
manchas, chocando umas com as outras. A água mais fresca que se quer conservar
num vaso perde logo a sua frescura mal um animal a toca.
Nunca permitas, Filotéia, nem a
outros nem a ti mesma, todo esse tocar exterior das mãos igualmente contra a
modéstia cristã e contra o respeito que se deve à qualidade e à virtude duma
pessoa; pois, ainda que não seja de todo impossível conservar o coração puro
entre essas ações mais levianas que maliciosas, todavia sempre se recebe daí
algum dano; nem falo aqui desses tactos desonestos que arruínam por completo a
castidade.
A castidade depende do coração,
quanto à sua origem, mas sua prática exterior consiste em moderar e purificar
os sentidos; por isso podemos perdê-la tanto pelos sentidos exteriores como por
pensamentos e desejos do coração. É impudicícia olhar, ouvir, falar, cheirar,
palpar coisas desonestas, quando nisso o coração se demora e toma gosto. S.
Paulo chega a dizer: Meus irmãos, a fornicação nem se nomeie entre vós.
As abelhas não só não pousam num
cadáver corrompido, mas até fogem do mau cheiro que exala.
Observe o que a Sagrada Escritura
nos diz da Esposa dos Cantares: tudo aí é místico: suas mãos destilam mirra e
este líquido, como sabes, preserva da corrupção; seus lábios são fitas de rubim
vermelho, o que nos indica o seu pudor até à palavra menos desonesta; seus
olhos são comparados aos olhos da pomba, por causa da sua inocência; suas
orelhas têm brincos de ouro, desse metal precioso que significa a pureza; seu
nariz é comparado ao cedro do Líbano, cujo odor é suavíssimo e que tem uma
madeira incorruptível. Que quer dizer tudo isso? A alma devota deve ser casta,
inocente, pura e honesta em todos os sentidos exteriores.
Nunca trates com pessoa de
indubitáveis costumes corrompidos, sobretudo se forem também imprudentes, como
quase sempre o são.
Diz-se que os cabritos, tocando
com a língua nas amendoeiras doces, tornam os seus frutos amargos; e essas
almas brutais e infectas, falando a pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente,
causam grande dano ao pudor, assemelhando-se também aos basiliscos, que têm o
veneno nos lábios e no hálito.
Ao contrário, procura a companhia
de pessoas castas e virtuosas; ocupa-te muitas vezes com a leitura da Sagrada
Escritura; porque a palavra de Deus é casta e torna castos os que a amam. Daí
vem que Davi a compara a esta pedra preciosa que se chama topázio e que tem a
propriedade especial de mitigar o ardor da concupiscência.
Conserva-te ao lado de Jesus
Cristo crucificado, quer espiritualmente — pela meditação, quer real e
corporalmente — na santa comunhão. Sabes de certo que os que se deitam sobre
aquela erva agnus castus vão tomando
insensivelmente disposições favoráveis à castidade; estejas certa que, se teu
coração descansar em Nosso Senhor, que é realmente o Cordeiro Imaculado, bem
depressa purificarás tua alma, teu coração e teus sentidos, inteiramente, de
todos os prazeres sensuais.
(São Francisco de Sales - Filotéia ou Introdução à vida devota - Parte III, Capítulo XII)
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