Quantas vezes não nos vimos atormentados por pensamentos que, de tão fortes, nos deixam confusos, parecendo não ser possível saber se pecamos ou não? Num mundo que nos oferece contínuos estímulos sexuais, seja pela falta de modéstia das pessoas, seja pelos outdoors indecentes espalhados por todos os lugares, pela televisão (que é algo a ser evitado se não for realmente necessário e trataremos disso em outro post), pelas publicações, é quase impossível não cair alguma vez os olhos sobre algo que fere o pudor e não deixe depois imagens marcadas em nossa memória que se transformarão em pensamentos. Que fazer? Como evitar esses pensamentos? Como saber se consenti ou não neles? Um Santo Doutor da Igreja nos dá a resposta. Mas não se esqueça: cabe a VOCÊ pôr em prática esses sábios conselhos.
DA
VIGILÂNCIA SOBRE OS PENSAMENTOS
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1) A respeito dos
maus pensamentos encontra-se, muitas vezes, um duplo engano:
a) Almas que temem a
Deus e não possuem o dom do discernimento e são inclinadas aos escrúpulos,
pensam que todo mau pensamento que lhes sobrevêm é já um pecado. Elas estão
enganadas, porque os maus pensamentos em si não são pecados, mas só e
unicamente o consentimento neles. A malícia do pecado mortal consiste toda e só
na má vontade, que se entrega ao pecado com claro conhecimento de sua maldade e
plena deliberação de sua parte. E, por isto, Santo Agostinho ensina que não
pode haver pecado onde falta o consentimento da vontade.
Por mais que sejamos
atormentados pelas tentações, pela rebelião de nossos sentidos, pelas comoções
ou sensações desregradas de nossa natureza corpórea, não existe pecado algum
enquanto faltar o consentimento, como ensina também São Bernardo, dizendo:
"O sentimento não causa dano algum, contanto que não sobrevenha o
consentimento".
Para consolar tais
almas timoratas e escrupulosas, quero oferecer-lhes aqui uma regra prática,
aceita por quase todos os teólogos: Quando uma alma que teme a Deus e detesta o
pecado, duvida se consentiu ou não em um mau pensamento, não está obrigada a
confessar-se disso, porque, em tal caso, se tivesse realmente cometido um
pecado mortal, não estaria em dúvida a esse respeito, porque o pecado mortal,
para uma alma que teme a Deus, é um monstro tão horrendo, que não poderá ter
entrada em seu coração sem o perceber.
b) Outros, que
possuem uma consciência mais relaxada e são mal instruídos, julgam, pelo
contrário, que os maus pensamentos nunca são pecados, mesmo havendo consentimento
neles, contanto que não se chegue a praticar. Este erro é muito mais pernicioso
que o primeiro. O que se não pode fazer, não se pode também desejar; por isso,
o mau pensamento em si contêm toda a malícia do ato. Assim como as más obras
nos separam de Deus, também os maus pensamentos nos afastam d'Ele e nos privam
de Sua graça. "Pensamentos perversos nos separam de Deus" (Sab 1, 3).
Como as más obras estão patentes aos olhos de Deus, também Sua vista alcança
todos os nossos maus pensamentos para condená-los e puni-los, pois "um
Deus de ciência é o Senhor, e diante d'Ele estão patentes todos os
pensamentos" (I Rs 2, 3).
2) Logo, nem todos os
maus pensamentos são pecados, e nem todos os que são pecados trazem em si o
mesmo cunho de malícia. Devemos considerar três coisas quando se trata de um
pecado de pensamento, a saber: a sugestão, a deliberação e o consentimento.
Alguns esclarecimentos a esse respeito:
a) Sob a palavra
sugestão entende-se o primeiro pensamento que nos incita a praticar o mal que
nos vem à mente. Esta instigação ou incitamento ainda não é pecado; se a
vontade a repele imediatamente, é mesmo uma fonte de merecimentos. "Para
cada tentação a que opuseres resistência, se te deverá uma coroa", diz
Santo Antão. Até os Santos foram perseguidos por tais pensamentos. São Bento
revolveu-se sobre os espinhos para vencer uma tentação impura, e São Pedro de
Alcântara lançou-se em poço de água gelada. São Paulo nos informa que também
ele foi tentado contra a pureza: "E para que a grandeza das revelações não
me ensoberbece, foi-me dado um espinho em minha carne, um anjo de satanás para
me esbofetear" (2 Cor 12, 7). O Apóstolo suplicou várias vezes ao Senhor
que o livrasse desse inimigo: "Por essa causa roguei ao Senhor três vezes
que o afastasse de mim". O Senhor não quis, porém, dispensá-lo do combate,
e respondeu-lhe: "Basta-te a minha graça". E por que não queria o
Senhor livrá-lo? Para que adquirisse maiores méritos por sua resistência à
tentação: "Porque a virtude se aperfeiçoa na fraqueza". São Francisco
de Sales diz que quando um ladrão procura arrombar uma porta, é porque não está
ainda dentro da casa; assim também, quando o demônio tenta uma alma, é porque
se acha ela ainda na graça de Deus.
Santa Catarina de
Sena foi uma vez horrivelmente atormentada pelo demônio, durante três dias, com
fortes tentações impuras. Apareceu-lhe então o Senhor para consolá-la, e ela
perguntou-lhe: -Mas onde estivestes, Senhor meu, durante estes três dias? Jesus
respondeu-lhe: Dentro do teu coração, dando-te força para resistires à
tentação. E o Senhor deu-lhe a conhecer que o seu coração estava, depois da
tentação, mais puro que antes.
b) À sugestão
segue-se a deleitação. Quando não nos damos ao trabalho de repelir imediatamente a
tentação, sentimos nela uma certa complacência ou prazer, que nos vai
arrastando ao consentimento. Mesmo então, se a vontade não dá seu assentimento,
não há pecado mortal; quando muito, poderá haver pecado venial. Se, porém, não
recorrermos então a Deus e não nos esforçarmos por resistir à tentação,
facilmente nos sentiremos arrastados ao consentimento e perdidos, segundo as
palavras de Santo Anselmo (De similit.., c. 40): "Se não procuramos
impedir a deleitação, ela se transformará em consentimento e matará a
alma".
Uma senhora, que tinha
fama de santa, teve, um dia, um mau pensamento, que não repeliu imediatamente,
e pecou por pensamento. Por vergonha deixou de confessar esse pensamento
criminoso e morreu, pouco depois, em estado de pecado. Porque morreu com fama
de santidade, mandou o bispo que fosse sepultada em sua própria capela. No dia
seguinte, porém, apareceu-lhe ela, toda circundada de fogo, e confessou-lhe,
infelizmente já tarde demais, que estava condenada por ter consentido num mau
pensamento.
c) Toda a malícia do
mau pensamento está, porém, no consentimento. Havendo pleno consentimento,
perde-se a graça de Deus e chama-se sobre si a condenação eterna, quer se tenha
o desejo de cometer um pecado determinado, quer se pense ou reflita com prazer
no pecado como se o estivesse cometendo. Esta última espécie de pecado chama-se
uma deleitação deliberada ou morosa, e deve-se distinguir bem da primeira, isto
é, do pecado de desejo.
3) Se fores, pois,
molestada por tais tentações, alma cristã, não deves perder a coragem, antes,
animosamente combater, empregando os meios que te vou indicar, e não
sucumbirás:
a) O primeiro é
humilhar-se continuamente diante de Deus. O Senhor castiga muitas vezes os
espíritos soberbos, permitindo que caiam em qualquer pecado impuro. Sê, pois,
humilde, e não confies em tuas próprias forças. Davi confessa que caiu no
pecado por não ter se humilhado e ter confiado demais em si mesmo: "Antes
de me haver humilhado, eu pequei" (Sl 118, 67). Devemos temer sempre a
nossa própria fraqueza e colocar em Deus toda a nossa confiança, esperando
firmemente que nos preserve desse vício.
b) O segundo meio é
recorrer imediatamente a Deus, sem entrar em diálogo com a tentação. Logo que
se apresentar ao nosso espírito um pensamento impuro, devemos elevar a Deus
imediatamente o nosso pensamento ou dirigi-lo a qualquer objeto indiferente. A
coisa melhor será invocar imediatamente os Santíssimos Nomes de Jesus e Maria,
e não cessar de repeti-los até desaparecer a tentação. Se ela for muito forte,
será bom repetir muitas vezes o seguinte propósito: Ó meu Deus, prefiro morrer
a Vos ofender. Peça-se socorro, dizendo: Ó meu Jesus, socorrei-me. Maria,
assisti-me. Os Nomes de Jesus, Maria e José possuem uma força especial para
afugentar as tentações do demônio.
c) O terceiro meio é a
recepção assídua dos Santos Sacramentos da Confissão e da Comunhão. É de suma
importância revelar quanto antes ao confessor as tentações impuras. "Uma
tentação revelada já está meio vencida", diz São Filipe Néri. E se alguém
teve a infelicidade de consentir em uma tentação, não se demore nenhum instante
em se confessar disso. São Filipe Néri livrou um rapaz desse vício, induzindo-o
a confessar-se logo depois de cada queda.
A Santa Comunhão,
está fora de dúvida, confere uma grande força na resistência às tentações
desonestas. O Sangue de Jesus Cristo, que recebemos na Sagrada Comunhão, é
chamado pelos Santos de 'Vinho gerador de Virgens' (Zac 9, 17). O vinho natural
é um perigo para a castidade; este Vinho Celestial é o seu conservador.
d) O quarto meio é a
devoção à Imaculada Mãe de Deus, que é chamada a Virgem das Virgens.. Quantos
jovens não se conservaram puros e castos como Anjos, devido à devoção à
Santíssima Virgem!
e) O quinto meio é a
fuga da ociosidade. O Espírito Santo diz (Ecli 33, 21): "A ociosidade
ensina muita coisa má", isto é, ensina a cometer muitos pecados. E o
profeta Ezequiel (Ez 16, 49), assevera que foi a ociosidade a causa das
abominações e ruína final dos habitantes de Sodoma. Conforme São Bernardo, a
ociosidade motivou a queda de Salomão. Por isso São Jerônimo exorta a Rústico
(Ep. ad Rust., 2) que esteja sempre ocupado, para que o demônio não o preocupe
com suas tentações. "Quem trabalha é tentado por um demônio só; quem vive
ocioso, é atacado por uma multidão deles", diz São Boaventura.
f) O sexto meio
consiste no emprego de todas as precauções exigidas pela prudência, tais como a
modéstia dos olhos, a vigilância sobre as inclinações do coração, a fugida das
ocasiões perigosas, etc.
SANTO
AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Escola da Perfeição Cristã, compilação de textos do
Santo Doutor pelo padre Saint-Omer, CSSR, tradução do padre José Lopes, CSSR,
IV Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1955
Muito obrigado ! Salve Maria !
ResponderExcluirSalve Maria!
ExcluirMuito bom este texto. Me esclareceu sobre esta dúvida que estou vivendo. Obrigada.
ResponderExcluirINTERESSANTE O ASSUNTO BORA DE LIVE
ResponderExcluirVAMOS MARCAR UMA LIVE SOBRE ASSUNTO? ESTA CONVIDADO
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