Abordando a Homossexualidade
com ‘Verdadeira Compaixão’,
não com ‘Sentimentalismo’
O
Padre Paul Check, diretor executivo do Courage
International, diz que seu apostolado tem respostas para as questões
pastorais que a Igreja possui sobre como prover um testemunho convincente para
pessoas com atrações pelo mesmo sexo.
Por Peter Jesserer Smith – 29/05/2015
WASHINGTON
– Se a mensagem do recente referendo na Irlanda à Igreja Católica (que visava redefinir
o casamento) pudesse ser expressa em várias palavras, soaria como “Roma, temos
um problema”.
O
Arcebispo de Dublin, Dairmiud Martin resumiu efetivamente o problema de
comunicação da Igreja em seus ensinamentos sobre casamento e atração pelo mesmo
sexo: “A Igreja tem uma grande tarefa à frente: encontrar uma linguagem que
seja aberta a conversa e que leve sua mensagem através dos jovens”.
O
Padre Paul Check, diretor executivo do Courage
International, acredita que seu apostolado possui uma abordagem efetiva em
falar essa linguagem ao mundo moderno. Os membros do Courage estão buscando mostrar sua abordagem no próximo Encontro
Mundial das Famílias e no Sínodo Ordinário dos Bispos sobre a Família e prover
recursos pastorais através do documentário Desejo
pelas Colinas Eternas, que é acompanhado de um guia de estudo – disponível
em nove idiomas até então – uma série catequética em cinco partes e dois
volumes de ensaios publicados pela Ignatius
Press.
Nesta
entrevista com o Register, o Padre
Check discute como o cuidado pastoral da Igreja para com as pessoas com atrações
pelo mesmo sexo deve navegar entre os extremos da severidade e do sentimentalismo
para mostrar o amor autêntico e o exemplo paciente de Jesus quando falava com a
Samaritana no Poço.
Qual é a imagem do cuidado
que a Igreja possui para com as pessoas com atração pelo mesmo sexo que o
senhor deseja mostrar às pessoas no Encontro Mundial das Famílias?
A
imagem de que a Igreja entende essa questão, pois ela entende a pessoa humana: tanto
em termos de como Deus nos criou à sua imagem e semelhança quanto como quem Ele
nos criou para ser, e ela também compreende isso do ponto de vista da
experiência vivida por aqueles que possuem atração pelo mesmo sexo, aqueles que
encontraram seu caminho, ou foram atraídos, para o coração de Cristo na Igreja.
Em razão da verdade e do amor do Evangelho se aplicarem tanto a essa parte de
nossa comunidade como a qualquer outra parte, eu penso que a Igreja está ansiosa
para demonstrar que esse é o caso de maneira muito prática e pessoal.
Existe uma maneira de
falar sobre a homossexualidade que possa levar as pessoas a se afastarem da
Igreja e do cuidado que a Igreja oferece para as pessoas com atrações pelo
mesmo sexo?
Infelizmente
sim. Nós provavelmente temos algumas experiências disso na Igreja, onde
acontece uma falta de entendimento, acolhida e consideração corretos para cada
pessoa individualmente. Acho que um dos desafios que a Igreja enfrenta é de que
ela, quase ao mesmo tempo, precisa passar duas mensagens. Uma é de que as
forças que estão trabalhando largamente na sociedade civil são contrárias ao
bem humano: digamos, por exemplo, a aprovação do “casamento” entre pessoas do
mesmo sexo. Então ela precisa passar essa mensagem [sobre a verdade do
matrimônio] para o benefício do bem comum.
Mas,
ao mesmo tempo, ela tem que anunciar a misericórdia e a compreensão, o amor da
verdade, do Evangelho e de Jesus Cristo para os indivíduos que possuem essa
realidade em suas vidas. Então eu receio que às vezes a primeira parte da
mensagem é ouvida como um sonoro “não”, mas nem sempre é entendida ou recebida
como a mão estendida da caridade pastoral. Essa é uma dificuldade particular.
Como o senhor enfrenta o
desafio resultante de pessoas que tem uma atitude severa atraindo outros para
as questões do mesmo sexo em nome da “caridade”?
Acredito
que temos que olhar para o exemplo de Jesus Cristo e de como devemos viver o
Evangelho. Existe uma clareza com a qual Jesus anuncia a verdade. Mas a prova
de que Ele está anunciando de uma maneira atraente
– e é uma crítica que Ele faz – é que
Ele sempre está circundado pelo tipo de pessoa que, de nosso ponto de vista
[católico], precisam muito dEle.
Acredito
que exista uma maneira de encorajar as pessoas a acreditarem que a Igreja compreende
as pessoas, entende o quão complicado é o coração humano, e ela sabe como ir
além disso. Mas isso não é constituído de uma posição de complacência ou
severidade. Jesus nos diz que a verdade é libertadora. Mas ela, a verdade,
deveria nos libertar de quê? Da confusão, ignorância, egoísmo, pecado. A intenção
é nos libertar para que estejamos aptos a nos renovar. E é aí que nós
encontramos a satisfação.
A
Igreja vem anunciando o Evangelho há mais de dois mil anos, e isso nem sempre
foi feito perfeitamente em todos os casos. Mas, certamente, nós sabemos que isso
pode ser feito, pois vemos as pessoas respondendo à graça.
Mas há outros problemas no
extremo oposto, correto?
Você
mencionou severidade, e isso é um perigo real, mas acho que o problema real é o
“sentimentalismo”.
O
problema mais amplamente disseminado é que nós separamos uma resposta bem
pensada, compassiva – uma resposta sensível – da verdade.
Nos
primeiros parágrafos de sua última encíclica, o papa emérito faz uma distinção
entre “sentimentalismo” e “compaixão”. Ele indica que o primeiro é uma
falsificação e que compaixão é algo baseado na verdade. Acho que uma questão
que todos os cristãos precisam perguntar a si mesmos é bem simples: “Eu
acredito que a castidade faz parte da Boa Nova do Evangelho?”.
Não
estou certo do quanto essa convicção está disseminada, especialmente em uma
época onde a promiscuidade (de várias formas) é responsável por muitos corações
partidos, muita tristeza, muitos arrependimentos, muitas frustrações, dor,
sofrimento... Por que isso? Acredito que nós, individualmente, podemos testar a
nossa própria convicção sobre se a castidade é uma virtude e se é algo que nos
prepara para nossa satisfação de uma maneira que Deus, em sua sabedoria para
com nossa natureza, seja bem intenso para nós.
Como o senhor descreve o
tipo de abordagem pastoral – a língua e o tom – que o Courage possui para aqueles
que tem atração pelo mesmo sexo? Parece ser bem ponderada.
Nós
tentamos refletir muito sobre as palavras que escolhemos, porque nós queremos
pensar bem sobre como elas serão ouvidas. Um dos grandes pontos da pedagogia de
Santo Tomás de Aquino é que “as coisas são recebidas ao modo de quem as recebe”.
Sendo assim [os seres humanos] têm experiências e percepções de que cores ou
filtros ou influências ajudam na maneira com que percebemos as coisas.
Nós
[no Courage] estamos tentando ficar
alertas para com isso, para não parecer que estamos cutucando ninguém no olho.
Eu uso João 4 como guia, porque eu penso que o que Jesus fez nessa situação irá
nos mostrar como a Nova Evangelização deve parecer. E eu penso que é o que o
Papa Francisco está fazendo também. É como Jesus constrói um relacionamento com
a mulher no poço. Ele não começa com uma discussão de moralidade. Ele não evita
o problema moral – ele chegará nele em tempo – mas irá abordá-lo somente depois
de ter um relacionamento com a pessoa. Ele tem um interesse em comum – um monte
deles – que será o fundamento sobre o qual o relacionamento será construído.
Ela está interessada em Deus, em conhecer mais sobre como a vida de Deus é dada
para ela através da graça, e ela está interessada na vida eterna. E Jesus,
claro, sabe disso.
Talvez
isso seja parte daquela “lei do gradualismo” que foi trazida a nós para a
considerarmos na evangelização. E eu acredito que seja um bom modelo. Não
podemos esperar que todos entendam tudo de uma vez e, claro, aceitem na hora o
que lhes está sendo dito para mudar em suas vidas. Isso não faz o menor sentido
e não parece incluir nem a paciência e a bondade de Cristo, nem a maneira com que
ele se aproximou das pessoas.
Então,
penso que no Courage estamos muito
interessados em formar e construir relacionamentos, e deixar que a graça faça
seu trabalho: para que então pessoas venham para a verdade, em seu tempo e de
acordo com a providência de Deus, de uma maneira que seja pacífica para elas.
Quais são alguns passos
práticos que os indivíduos e as paróquias podem dar para serem autênticos e acolhedores
de verdade para com as pessoas com atrações pelo mesmo sexo?
Acho
que um bom início seria assistir os nossos filmes. Minha convicção é de que os
nossos melhores embaixadores são os nossos membros. Eles dão um rosto para a antropologia
da Igreja, ao Catecismo, à nobreza do espírito humano, à virtude e à eficácia
da graça. Agora, dessa forma, essas categorias de coisas que nós sabemos ser
parte do ensinamento da Igreja alcançam uma viva expressão nas vidas dos
indivíduos. Então, assistir o vídeo é aprender sobre o que isso significa do ponto
de vista de uma pessoa que sabe o que é a atração pelo mesmo sexo, porque elas
vivem isso. Mas elas também são atraídas ao coração de Cristo e acreditam que a
mensagem que a Igreja oferece nesse tópico é a mensagem de Cristo. Então eu
começaria por aí.
Com relação ao sínodo das
famílias, quais são as oportunidades para desenvolver o cuidado pastoral de
pessoas com atrações pelo mesmo sexo?
Nós
não podemos viver sem amizades, não podemos viver sem relacionamentos, e não
podemos viver sem pessoas que nos conheçam, entendam e nos valorizem por aquilo
que somos. Essa é uma área na qual eu acredito que possamos fazer mais.
Precisamos de amigos que nos ouçam e nos valorizem, mas se eles são verdadeiros
amigos, eles farão todas essas coisas por amor a Cristo e por amor a nós, e sem
nenhum sacrifício da verdade.
Com o que o Courage espera
contribuir para a discussão dos bispos?
Não
acredito que possamos melhorar o testemunho de tantos de nossos membros. Temos
uma seção em nosso website que é
dedicada a eles. É o lugar para o qual eu primeiramente direciono as pessoas –
e também para nossos filmes. Essas pessoas sabem alguma coisa sobre essa vida, sobre
seus sentimentos e o que os levaram à Igreja, no que diz respeito à sua auto-compreensão:
de que eles agora vêem à luz do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja.
Em
outro domínio, nós falamos sobre a importância da comunhão dos santos como uma
maneira de ajudar as pessoas a entenderem a realidade do Evangelho. Bom, aqui
estamos falando sobre a realidade do Evangelho através dos olhos das pessoas
que estão se esforçando para serem santas. Elas têm muita credibilidade, é o
que eu penso, especialmente em uma cultura na qual a “narrativa pessoal” ou a “história
de vida” é atribuída certa deferência. Ninguém diz, “essa não é a sua
experiência!”. Então eu creio que essa é uma gramática que o mundo entende. O mundo
não compreende a antropologia Cristã, até certo ponto, e eu posso ver isso. Então
aqui está uma gramática que podemos usar.
Peter Jesserer Smith é correspondente do site National Catholic Register.
A matéria original pode ser encontrada aqui.
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