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"A declaração feita pelo cardeal Ladaria, e confirmada pelo Papa, foi muito clara e muito diáfana. O Evangelho é nítido e simples", diz o bispo de Orihuela-Alicante em um vídeo. |
10 de outubro de 2023 10:20
O prefeito emérito da Doutrina da Fé, o cardeal espanhol Luis
Francisco Ladaria, em 22 de fevereiro de 2021, respondeu a algumas
"dubia" sobre se a Igreja tinha poder para ministrar a bênção a
uniões de pessoas do mesmo sexo. A resposta do prelado foi negativa e assim o
ratificou também o Papa Francisco.
Dois anos depois, formularam-se, por parte de um grupo de
cardeais, outras "dubia" ao Papa sobre este mesmo tema, que Francisco
também respondeu, e de cujas posições se
faz eco o bispo de Orihuela-Alicante, José Ignacio Munilla, que apresentou um
vídeo explicativo sobre qual é, a seu modo de ver, a postura da Igreja.
Respostas
"universais" e "valentes"
O bispo começa defendendo que a mensagem da Igreja deve ser
sempre constante e universal. "Quando Jesus falou da indissolubilidade do
matrimônio, e a Igreja a prega hoje, tem que pregar em lugares onde a poligamia
está assumida culturalmente ou onde é mais fácil pregá-la. A questão é que
estamos diante de um dilema recorrente entre 'verdade' e 'caridade', e é isso
que nos divide. Ou confessamos uma verdade de forma dolorosa, faltando à
caridade, ou proclamamos uma caridade complacente", comenta.
Outro tema importante para Munilla é que Deus abençoa as
pessoas, mas não seus atos pecaminosos. "Dizia Santo Agostinho: 'Deus nos
toma como somos, mas nunca nos deixa como somos'. Deus te ama como és, mas,
quando te deixas amar, te transforma, te santifica. Deus abençoa os pecadores,
mas não os pecados (...). Deus pode ter paciência em nosso caminhar, mas não
pode abençoar um caminho que vá na direção equivocada", destaca.
"Temos que ter valentia para proclamar o que a Igreja
Católica crê na verdade moral sobre a homosexualidade. Da mesma forma que o
Catecismo diz que as pessoas homossexuais devem ser acolhidas com respeito
(...), diz, também, em relação aos atos homossexuais, que são intrinsecamente
desordenados, contrários à lei natural (...), que não podem receber a aprovação
em nenhum caso. A Igreja distingue entre as pessoas e os atos", explica o
bispo.
Três razões para não
abençoar pares homossexuais
Munilla explica neste ponto os três motivos pelos quais não
se podem abençoar as uniões homossexuais. "O primeiro é que as bênçãos são
ações litúrgicas que exigem uma consonância de vida com aquilo que significa;
uma bênção sobre uma relação humana exige que esta relação esteja ordenada com
o desígnio de Deus. Por isso, outro tipo de uniões, que não necessariamente
sejam homossexuais, mas sim irregulares, também não podem receber uma
bênção", comenta Munilla.
"A segunda razão é que o desígnio de Deus em relação ao
amor conjugal é o de um homem e uma mulher abertos à transmissão da vida. Isso
não acontece em uma união homossexual. E o terceiro motivo seria que essa
bênção é uma simulação sacramental. A encíclica Amoris Laetitia diz que não
existe nenhum fundamento para estabelecer analogias remotas entre as uniões
homossexuais e o matrimônio e a família", explica o bispo.
As respostas de Ladaria
em 2021
Sobre as respostas de 2021, Munilla comenta que foram muito
explícitas. "A declaração que o cardeal Ladaria fez, e confirmada pelo
Papa, foi muito clara e muito diáfana. O Evangelho é nítido e simples, isto que
estou explicando o entende um catedrático e uma pessoa que não se formou na
escola", diz o bispo.
"Aquele documento diz que o Papa deu sua aprovação à
resposta de Ladaria. Ressalto isso porque o Santo Padre está dizendo que a
Igreja não tem poder para ministrar a bênção às uniões homossexuais, não é que
não queira (...), é que a Igreja não tem autoridade e não pode mudar. Não pode
vir um sínodo e mudar isso, nem um concílio nem o Papa seguinte. O Papa pode
vir dois anos depois e mudá-lo? Não, seria uma ruptura com o magistério da
Igreja", assegura Munilla.
As 'dubia' dos cinco
cardeais
Uma vez analisadas as respostas do cardeal Ladaria, de 2021,
o bispo de Orihuela-Alicante comenta as outras respostas do Papa que foram
publicadas mais recentemente sobre este tema, depois das “dubia” de um pequeno
grupo de cardeais. Entre as perguntas que os prelados fizeram, uma delas também
se referia à bênção das uniões homossexuais.
Nestas últimas respostas aos cinco cardeais, dadas pelo
cardeal Victor Manuel Fernández, atual prefeito da Doutrina da Fé, diz-se, em
relação à possibilidade de dar a bênção a pares homossexuais, que a Igreja
somente chama de 'matrimônio' a "união exclusiva, estável e indissolúvel
entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta a gerar filhos", e que
"outras formas de união apenas o realizam de modo parcial e análogo pelo
qual não se podem chamar estritamente matrimônio".
"O Santo Padre
está dizendo que a Igreja não tem poder para ministrar a bênção às uniões
homossexuais, não é que não queira (...), é que não tem autoridade".
"Por esta razão, a Igreja evita todo tipo de rito ou de
sacramental que possa contradizer esta convicção e entender que se reconhece
como matrimônio algo que não é", explica. Apesar disso, "no trato com
as pessoas, não se deve perder a caridade pastoral que deve atravessar todas as
nossas decisões e atitudes, pois a defesa da verdade objetiva não é a única
expressão dessa caridade que também é feita de amabilidade, de paciência, de
compreensão, de ternura, de encorajamento".
No texto, também se diz que a prudência pastoral pode levar a
“discernir adequadamente se há formas de bênção, solicitadas por uma ou por
várias pessoas, que não transmitam uma concepção equivocada do matrimônio,
porque, quando se pede uma bênção, se está expressando um pedido de auxílio a
Deus, uma prece para poder viver melhor, uma confiança em um Pai que pode
ajudar-nos a viver melhor".
Além disso, ressaltou-se que, "apesar de haver situações
que do ponto de vista objetivo não são moralmente aceitáveis, a mesma caridade
pastoral nos exige não tratar simplesmente como ‘pecadores’ outras pessoas cuja
culpabilidade ou responsabilidade podem estar atenuadas por diversos fatores
que influenciam na imputabilidade subjetiva".
O Papa esclarece que essas "decisões não necessariamente
devem se converter em uma norma" e que "não é conveniente que uma
diocese, uma conferência episcopal, ou qualquer outra estrutura eclesial
habilite constantemente de modo oficial procedimentos ou ritos para todo tipo
de assuntos, pois tudo que faz parte de um discernimento prático ante uma
situação particular não pode ser elevado à categoria de uma norma porque isto
daria lugar a uma casuística insuportável".
Munilla e a parte
"menos clara" das respostas
Sobre a última parte das respostas de Fernández, no que se
refere a que as conferências episcopais não devem entrar em normativas sobre
bênçãos a uniões homossexuais, Munilla entende que uma interpretação poderia
ser que "os bispos não podem entrar" porque "já está
suficientemente claro, com a declaração de dois anos atrás, que a Igreja não
tem poder para abençoar uniões homossexuais", embora "não seja essa a
interpretação que os meios de comunicação transmitiram".
Sobre o "discernimento para abençoar que se deve ter em
cada caso", Munilla comenta: "Os cinco cardeais que manifestaram
essas ‘dubia’ disseram que estas respostas lhes geram mais dúvidas. Certamente
não é fácil entender, nem para mim, o que quer dizer concretamente e como se
entendem algumas destas expressões, ou se o que acontece é que se está
renunciando a responder concretamente e se sugere que cada um discirna suas
próprias respostas de acordo com as circunstâncias; isso não tem
validade", diz Munilla.
Os cardeais reformularam a 'dubia' e voltaram a perguntar:
"É possível que em algumas circunstâncias um pastor
possa abençoar uniões entre pessoas homossexuais, sugerindo assim que o
comportamento homossexual como tal não seria contrário à lei de Deus e ao
caminho da pessoa rumo a Deus? Vinculada a esta 'dubia' é necessário apresentar
outra: segue sendo válido o ensinamento mantido pelo magistério ordinário
universal, segundo o qual todo ato sexual fora do matrimônio, e em particular
os atos homossexuais, constituem um pecado objetivamente grave contra a lei de
Deus, independentemente das circunstâncias nas quais tenha lugar e da intenção
com a qual se realize?".
Você pode ver aqui o
vídeo completo do bispo Munilla.
"As duas respostas, dadas com dois anos de diferença,
estão assumidas pelo Santo Padre. E na primeira se diz que a Igreja não tem
autoridade para ministrar bênçãos a uniões homossexuais. Devemos ater-nos ao
que está claro e pedir ao Senhor que esclareça o que não está claro",
conclui Munilla.
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