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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

[FH] Munilla, sobre por que a Igreja não pode abençoar pares homossexuais: “Não temos esse poder"

"A declaração feita pelo cardeal Ladaria, e confirmada pelo Papa, foi muito clara e muito diáfana. O Evangelho é nítido e simples", diz o bispo de Orihuela-Alicante em um vídeo.

10 de outubro de 2023 10:20

 

O prefeito emérito da Doutrina da Fé, o cardeal espanhol Luis Francisco Ladaria, em 22 de fevereiro de 2021, respondeu a algumas "dubia" sobre se a Igreja tinha poder para ministrar a bênção a uniões de pessoas do mesmo sexo. A resposta do prelado foi negativa e assim o ratificou também o Papa Francisco.

 

Dois anos depois, formularam-se, por parte de um grupo de cardeais, outras "dubia" ao Papa sobre este mesmo tema, que Francisco também respondeu, e de cujas posições  se faz eco o bispo de Orihuela-Alicante, José Ignacio Munilla, que apresentou um vídeo explicativo sobre qual é, a seu modo de ver, a postura da Igreja. 

 

Respostas "universais" e "valentes"

 

O bispo começa defendendo que a mensagem da Igreja deve ser sempre constante e universal. "Quando Jesus falou da indissolubilidade do matrimônio, e a Igreja a prega hoje, tem que pregar em lugares onde a poligamia está assumida culturalmente ou onde é mais fácil pregá-la. A questão é que estamos diante de um dilema recorrente entre 'verdade' e 'caridade', e é isso que nos divide. Ou confessamos uma verdade de forma dolorosa, faltando à caridade, ou proclamamos uma caridade complacente", comenta.

 

Outro tema importante para Munilla é que Deus abençoa as pessoas, mas não seus atos pecaminosos. "Dizia Santo Agostinho: 'Deus nos toma como somos, mas nunca nos deixa como somos'. Deus te ama como és, mas, quando te deixas amar, te transforma, te santifica. Deus abençoa os pecadores, mas não os pecados (...). Deus pode ter paciência em nosso caminhar, mas não pode abençoar um caminho que vá na direção equivocada", destaca.

 

"Temos que ter valentia para proclamar o que a Igreja Católica crê na verdade moral sobre a homosexualidade. Da mesma forma que o Catecismo diz que as pessoas homossexuais devem ser acolhidas com respeito (...), diz, também, em relação aos atos homossexuais, que são intrinsecamente desordenados, contrários à lei natural (...), que não podem receber a aprovação em nenhum caso. A Igreja distingue entre as pessoas e os atos", explica o bispo.

 

Três razões para não abençoar pares homossexuais

 

Munilla explica neste ponto os três motivos pelos quais não se podem abençoar as uniões homossexuais. "O primeiro é que as bênçãos são ações litúrgicas que exigem uma consonância de vida com aquilo que significa; uma bênção sobre uma relação humana exige que esta relação esteja ordenada com o desígnio de Deus. Por isso, outro tipo de uniões, que não necessariamente sejam homossexuais, mas sim irregulares, também não podem receber uma bênção", comenta Munilla.

 

"A segunda razão é que o desígnio de Deus em relação ao amor conjugal é o de um homem e uma mulher abertos à transmissão da vida. Isso não acontece em uma união homossexual. E o terceiro motivo seria que essa bênção é uma simulação sacramental. A encíclica Amoris Laetitia diz que não existe nenhum fundamento para estabelecer analogias remotas entre as uniões homossexuais e o matrimônio e a família", explica o bispo.

 

As respostas de Ladaria em 2021

 

Sobre as respostas de 2021, Munilla comenta que foram muito explícitas. "A declaração que o cardeal Ladaria fez, e confirmada pelo Papa, foi muito clara e muito diáfana. O Evangelho é nítido e simples, isto que estou explicando o entende um catedrático e uma pessoa que não se formou na escola", diz o bispo.

 

"Aquele documento diz que o Papa deu sua aprovação à resposta de Ladaria. Ressalto isso porque o Santo Padre está dizendo que a Igreja não tem poder para ministrar a bênção às uniões homossexuais, não é que não queira (...), é que a Igreja não tem autoridade e não pode mudar. Não pode vir um sínodo e mudar isso, nem um concílio nem o Papa seguinte. O Papa pode vir dois anos depois e mudá-lo? Não, seria uma ruptura com o magistério da Igreja", assegura Munilla.

 

As 'dubia' dos cinco cardeais

 

Uma vez analisadas as respostas do cardeal Ladaria, de 2021, o bispo de Orihuela-Alicante comenta as outras respostas do Papa que foram publicadas mais recentemente sobre este tema, depois das “dubia” de um pequeno grupo de cardeais. Entre as perguntas que os prelados fizeram, uma delas também se referia à bênção das uniões homossexuais.

 

Nestas últimas respostas aos cinco cardeais, dadas pelo cardeal Victor Manuel Fernández, atual prefeito da Doutrina da Fé, diz-se, em relação à possibilidade de dar a bênção a pares homossexuais, que a Igreja somente chama de 'matrimônio' a "união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta a gerar filhos", e que "outras formas de união apenas o realizam de modo parcial e análogo pelo qual não se podem chamar estritamente matrimônio".

 

"O Santo Padre está dizendo que a Igreja não tem poder para ministrar a bênção às uniões homossexuais, não é que não queira (...), é que não tem autoridade".

 

"Por esta razão, a Igreja evita todo tipo de rito ou de sacramental que possa contradizer esta convicção e entender que se reconhece como matrimônio algo que não é", explica. Apesar disso, "no trato com as pessoas, não se deve perder a caridade pastoral que deve atravessar todas as nossas decisões e atitudes, pois a defesa da verdade objetiva não é a única expressão dessa caridade que também é feita de amabilidade, de paciência, de compreensão, de ternura, de encorajamento". 

 

No texto, também se diz que a prudência pastoral pode levar a “discernir adequadamente se há formas de bênção, solicitadas por uma ou por várias pessoas, que não transmitam uma concepção equivocada do matrimônio, porque, quando se pede uma bênção, se está expressando um pedido de auxílio a Deus, uma prece para poder viver melhor, uma confiança em um Pai que pode ajudar-nos a viver melhor".

 

Além disso, ressaltou-se que, "apesar de haver situações que do ponto de vista objetivo não são moralmente aceitáveis, a mesma caridade pastoral nos exige não tratar simplesmente como ‘pecadores’ outras pessoas cuja culpabilidade ou responsabilidade podem estar atenuadas por diversos fatores que influenciam na imputabilidade subjetiva".

 

O Papa esclarece que essas "decisões não necessariamente devem se converter em uma norma" e que "não é conveniente que uma diocese, uma conferência episcopal, ou qualquer outra estrutura eclesial habilite constantemente de modo oficial procedimentos ou ritos para todo tipo de assuntos, pois tudo que faz parte de um discernimento prático ante uma situação particular não pode ser elevado à categoria de uma norma porque isto daria lugar a uma casuística insuportável".

 

Munilla e a parte "menos clara" das respostas

 

Sobre a última parte das respostas de Fernández, no que se refere a que as conferências episcopais não devem entrar em normativas sobre bênçãos a uniões homossexuais, Munilla entende que uma interpretação poderia ser que "os bispos não podem entrar" porque "já está suficientemente claro, com a declaração de dois anos atrás, que a Igreja não tem poder para abençoar uniões homossexuais", embora "não seja essa a interpretação que os meios de comunicação transmitiram".

 

Sobre o "discernimento para abençoar que se deve ter em cada caso", Munilla comenta: "Os cinco cardeais que manifestaram essas ‘dubia’ disseram que estas respostas lhes geram mais dúvidas. Certamente não é fácil entender, nem para mim, o que quer dizer concretamente e como se entendem algumas destas expressões, ou se o que acontece é que se está renunciando a responder concretamente e se sugere que cada um discirna suas próprias respostas de acordo com as circunstâncias; isso não tem validade", diz Munilla.

 

Os cardeais reformularam a 'dubia' e voltaram a perguntar:

 

"É possível que em algumas circunstâncias um pastor possa abençoar uniões entre pessoas homossexuais, sugerindo assim que o comportamento homossexual como tal não seria contrário à lei de Deus e ao caminho da pessoa rumo a Deus? Vinculada a esta 'dubia' é necessário apresentar outra: segue sendo válido o ensinamento mantido pelo magistério ordinário universal, segundo o qual todo ato sexual fora do matrimônio, e em particular os atos homossexuais, constituem um pecado objetivamente grave contra a lei de Deus, independentemente das circunstâncias nas quais tenha lugar e da intenção com a qual se realize?".

 

Você pode ver aqui o vídeo completo do bispo Munilla.

 

"As duas respostas, dadas com dois anos de diferença, estão assumidas pelo Santo Padre. E na primeira se diz que a Igreja não tem autoridade para ministrar bênçãos a uniões homossexuais. Devemos ater-nos ao que está claro e pedir ao Senhor que esclareça o que não está claro", conclui Munilla.

 

(o texto original pode ser encontrado aqui)


 

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