COMO COMPORTAR-NOS NA LUTA
Antes de tudo, deveis
saber que estas coisas (pensamentos, desejos, sensações, etc.) acontecem em nós
sem a nossa cooperação, como atos involuntários, e não podemos impedir a
primeira impressão. Até aqui, nenhum pecado; e ainda que o advirtamos, não
somos obrigados a quebrar a cabeça para afastá-los. Certos querem combate-los,
angustiam-se e não resolvem nada. Não devemos alarmar-nos. Antes, não convém combate-los
diretamente, pois se imprimiriam ainda mais na nossa fantasia. Devemos combate-los
só indiretamente, fugindo deles, esquecendo-os e pensando em outras coisas. São
Filipe declara com muito acerto: “Nesta luta, os fujões é que vencem”. Tanto
nas tentações contra a fé, como nas tentações contra a castidade só devemos
fugir. Em se tratando de pensamentos contrários à caridade, então sim deveríamos
enfrentá-los, combatê-los e vencê-los, mas nesta matéria só nos resta uma
saída: a fuga.
Desabam sobre nós
aqueles dias tristes, incompreensíveis; até parece que estamos endiabrados...
Que fazer? Quebrar a cabeça por causa dos maus pensamentos? Não, não podemos
fazer isto. Ora, se não quiserem sair, que fiquem; eu não quero consentir
neles. Vendo que não se lhes dá importância, irão embora. Ao invés, se a gente
se angustia... Pronto! O diabo só conta com este recurso, mas é quanto basta;
ele nos quer perturbar. O indivíduo vai se confessar e faz confissões
preocupadas... Vai à aula ou ao estudo com a cabeça dissipada... Assim não. Não
combatamos com o diabo. É hora de trabalhar? – trabalhemos mais; é hora de
rezar? – rezemos mais e melhor; é hora de estudar? – empenhemo-nos com mais
energia. O demônio, vendo que não lhe damos importância, vai embora. Não
fiquemos dizendo: “Não, não, não!” Basta que não digamos “sim”; e para não
dizer “sim”, é preciso fugir.
Conheci um padre, por
sinal muito zeloso, que vivia sempre assediado por esta prova; enlouquecia à
força de querer afastar aqueles pensamentos e murmurava sem cessar: “Não, não,
não!” até que se cansava e não sabia mais se tinha consentido ou não. Queria
sempre examinar-se, mas era como bater na bigorna. Não queria celebrar a missa,
sem confessar-se diariamente. Eu lhe disse: “Se souber que é só por este
motivo, obrigo-o a ficar quinze dias sem se confessar. E não faça mais exames!”
– “Mas, irei celebrar a missa em pecado mortal?” — “Sim, vá por obediência.” E
superou a prova com êxito.
Quero dizer-vos ainda
outra coisa para vosso consolo. Os teólogos, comumente, dizem que há sempre
culpa grave. Agora escutai-me e não andeis a investigar nos livros. Não, também
nesta matéria pode haver pecado venial, “pela imperfeição do ato,” etc. Sabeis
o que se requer para cometer pecado mortal? É preciso que haja matéria grave,
pleno conhecimento do que se faz e pleno consentimento naquilo que se sabe que
é grave. Portanto, todas estas três condições, e não depois da tentação, mas no
mesmo momento. Ora, existem sempre estas três condições? Em todas as pequenas
fragilidades que passam pela cabeça, há sempre tudo isto? Espero que não. Mas,
supondo também que a matéria seja grave, nem sempre existem as outras duas
condições: o pleno conhecimento de um mal grave e a plena advertência de
cometer esse mal grave. Nem sempre se verifica tudo isto; e se falta uma só
condição, não há mais pecado mortal. Se faltasse um fio de advertência ou de
consentimento, devo considerar que não é mais pecado mortal. É preciso pedir a
graça de Deus, mas depois não devemos colocar maior mal do que na realidade
existe. Portanto, como fazer? Atende-vos a estas regras:
1. Considerai
como nada, como nada mesmo o que acontece durante o sono; nem investigueis a
causa; nenhum exame. Ao despertardes, dizei: “Deo gratias!”, e não penseis mais
naquilo.
2. Se
algo acontece enquanto se dormita, examinai logo se havia advertência e
consentimento; e se faltasse um fio, deveis considerar que não há pecado grave.
E tranquilizai-vos, porque, dormitando, sempre falta alguma coisa ou outra, ao
menos em parte. O que não faria em pleno dia, por que iria fazê-lo enquanto
dormito? E ainda que, dormitando, algo houvesse acontecido (porque sempre nos
parece que houve vontade), não passaria de pecado venial; neste caso faço um
bonito sinal da cruz com água benta e me aproximo tranquilamente da sagrada
comunhão, que purifica tudo.
3. A
respeito do que pode acontecer durante o dia? Aqui há um método. Quem,
habitualmente, não admite estas coisas, é preciso que tenha tamanha certeza de
haver cometido aquele pecado, que não fique sombra de dúvida. Quando permanece
uma pequena dúvida, deve-se considerar que não houve pecado grave. Vede, em se
tratando de um indivíduo que vive mergulhado no pecado mortal, que bebe o mal
como se fora um copo de água, então se deveria presumir que, realmente, em tais
condições, tenha caído. Porém, se habitualmente não queremos estes pensamentos
e estas coisas, ou se os evitamos e usamos todos os meios de que falaremos, a
presunção pende em nosso favor e podemos ficar tranquilos que não consentimos.
Quando alguém ofende a Nosso Senhor nesta matéria, não tem nenhuma dúvida.
Depois, tratando-se de pessoas escrupulosas, não basta nem mesmo o seu
juramento, que estão sempre dispostas a fazer... Com os escrupulosos é preciso
ir devagar, pois maquinam ininterruptamente... e então o pecado se agiganta, a
ponto de se parecer com um mapa-múndi!
Deveis distinguir
sempre, portanto, entre tentação e pecado, entre sentir e consentir. A tentação
não é nada. Deixemos o cão ladrar, tratemos de nos distrair, não nos inquietemos,
depois aconteça o que quiser. Neste caso, faço a comunhão da mesma forma, e sem
me confessar. Um bonito e perfeito ato de amor e... pronto! Quando for assim,
não façamos da confissão uma necessidade, porque se trataria somente de
satisfação do amor próprio e só serviria para gravar na mente aquilo que não
queremos. O demônio inquieta certas pessoas, porque não consegue arrastá-las ao
pecado; quer apenas atormentá-las. Não abusemos, não; mas precisamente para
demonstrar a Nosso Senhor que o amamos muito, procuremos não nos atormentar.
Nesta matéria — já
acenei a isso – não devemos insistir nos exames, para ver se caímos ou não;
porque, depois de fazê-los, sabemos tanto quanto primeiro. Não só, mas após tantos
exames, alguns acreditam que consentiram de fato e quase se desesperam. Da
mesma forma, não agem corretamente os que querem repetir as confissões
passadas, fazer novas confissões gerais, para explicar melhor estes pecados já
confessados. A gente diz e desdiz, porque não pode dizer o “sim” com garantia,
é inútil. Temos sempre uma avalanche de confissões por fazer. Em se tratando de
um pecado grave, certo e claro, que tivéssemos silenciado ou esquecido na
confissão, a coisa seria diferente: então haveria obrigação. Dos outros casos
não se fale mais. Obedecei ao confessor que vos manda ficar tranquilos e pede
que não toqueis mais no assunto; não queirais oferecer-lhe sempre o mesmo
prato... Pode-se fazer confissões gerais, sem descer aos pormenores. A respeito
destas coisas não se deve nem fazer o exame particular, especialmente se alguém
é frágil.
Em suma: sejamos
humildes e confiantes; vamos para frente apoiados em Nosso Senhor. Cuidemos de
não nos afogar num copo de água. Tenhamos um pouco de caridade para conosco
mesmos! Temos tanta para com os outros! Usemos um pouco também para conosco!
Minha alma, por que te perturbas? Espera em Deus e tem um pouco de paciência! “O
Senhor não está na confusão” (1 Rs 19,11). Façamos, ao invés, atos de amor de
Deus; um ato de amor de Deus pode ser feito num instante; às vezes basta um
suspiro.
(A vida espiritual, do Beato José Allamano)
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