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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

[TdC] O homem-pessoa torna-se dom na liberdade do amor

Caríssimos, nesta semana, voltamos à nossa coluna sobre  Teologia do Corpo. Nesta série, queremos  apresentar o ensino do Magistério sobre o sentido da sexualidade no plano de Deus. O presente post trata da capacidade do homem em ser dom para o próximo na sua capacidade esponsal.

A revelação, e ao mesmo tempo a descoberta original do significado ‘esponsal’ do corpo, consistem em apresentar o ser humano, homem e mulher, em toda a realidade e verdade do seu corpo e sexo (“estavam nus”) e ao mesmo tempo na plena liberdade de qualquer constrição do corpo e do sexo. Disto parece dar testemunho a nudez dos que foram nossos primeiros pais, interiormente livres de vergonha. Pode-se dizer que, embora criados pelo Amor, isto é, dotados no próprio ser de masculinidade e feminilidade, ambos estão ‘nus’ porque estão livres com a liberdade mesma do dom. Esta liberdade está precisamente na base do significado esponsal do corpo. O corpo humano, com o seu sexo, e a sua masculinidade e feminilidade, visto no mistério mesmo da criação, é não só fonte de fecundidade e de procriação, como em toda a ordem natural, mas encerra desde ‘o princípio’ o atributo ‘esponsal’, isto é, a capacidade de exprimir o amor: exatamente aquele amor em que o homem-pessoa se torna dom e — mediante este dom — pratica o sentido mesmo do seu ser e existir. Recordamos agora o texto do último Concílio, onde se declara que o homem é a única criatura no mundo visível que Deus quis “por si mesma”, acrescentando que este homem “não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo”[1].

A raiz da nudez original isenta de vergonha, da qual nos fala Gênesis 2, 25, deve-se procurar precisamente naquela verdade completa sobre o homem. Homem e mulher, no contexto do seu ‘princípio’ beatificante, estão livres com a mesma liberdade do dom. De fato, para poderem manter-se na relação do “dom sincero de si” e para se tornarem um tal dom um para o outro, através de toda a sua humanidade feita de feminilidade e masculinidade (também em relação com aquela perspectiva de que fala Gênesis 2, 24), eles devem estar livres precisamente desta maneira. Entendemos aqui a liberdade sobretudo como domínio de si mesmos (autodomínio). Sob este aspecto, ela é indispensável para que o homem possa “dar a sua pessoa”, para poder tornar-se dom, para (referindo-nos às palavras do Concílio) poder “encontrar-se plenamente” por meio de um “dom sincero de si”. Assim, as palavras “estavam ambos nus mas não sentiam vergonha” podem e devem entender-se como revelação - e ao mesmo tempo descoberta — da liberdade, que torna possível e qualifica o sentido ‘esponsal’ do corpo”. 

[beato João Paulo II, Alocução ‘L’uomo-persona diventa’, 16.X.1980].


[1]  “Mais ainda, quando o Senhor Jesus pede ao Pai “que todos sejam um” (Jo. 17, 21-22), sugere abrindo perspectivas inacessíveis à razão humana — que há certa analogia entre a união das pessoas divinas entre si e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade. Esta semelhança torna manifesto que o homem, única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma, não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo” (Gaudium et Spes § 24).

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