Caríssimos, nesta semana, voltamos à nossa coluna sobre Teologia
do Corpo. Nesta série, queremos
apresentar o ensino do Magistério sobre o sentido da sexualidade no plano de
Deus. O presente post começamos a tratar da troca do dom do corpo cria
autêntica comunhão.
“A situação descrita [em Gn 2,23-25] revela a experiência beatificante
do significado do corpo que, no
âmbito do mistério da criação, o homem
atinge, por assim dizer, na complementaridade do que é masculino e feminino.
Todavia, nas raízes desta experiência
deve haver a liberdade interior do dom, unida, sobretudo à inocência; a vontade humana é originariamente inocente e, deste modo, é facilitada a reciprocidade e troca do dom
do corpo, segundo a sua masculinidade e feminilidade, como dom da pessoa. Consequentemente,
a inocência atestada em Gênesis 2, 25 pode definir-se como inocência da
experiência recíproca do corpo. A frase “estavam
ambos nus, tanto o homem como a mulher, mas não sentiam vergonha”, exprime
exatamente esta inocência na recíproca ‘experiência do corpo’, inocência que
inspirava a interior troca do dom da pessoa, que, na relação recíproca, realiza
em concreto o significado esponsal da masculinidade e da feminilidade. Assim,
portanto, para compreender a inocência da mútua experiência do corpo, devemos
procurar esclarecer em que coisa consiste a inocência interior na troca do dom
da pessoa. Tal troca constitui, de fato, a verdadeira fonte da experiência da
inocência.
Podemos dizer que a inocência interior (isto é, a retidão de
intenção) na troca do dom consiste numa recíproca ‘aceitação’ do outro, a
corresponder à essência mesma do dom; deste modo, a doação recíproca cria a
comunhão das pessoas. Trata-se, por isso, de ‘acolher’ o outro ser humano e
de ‘aceitá-lo’, exatamente porque nesta relação mútua, de que fala Gênesis 2,
23-25, o homem e a mulher se tornam dom
um para o outro, mediante toda a verdade e a evidência do seu próprio corpo, na
sua masculinidade e feminilidade. Trata-se, portanto, de tal ‘aceitação’ ou
‘acolhimento’ que exprima e sustente na recíproca nudez o significado do dom e
por isso aprofunde a dignidade recíproca dele. Tal dignidade corresponde
profundamente a ter o Criador querido (e continuamente quer) o ser humano,
masculino e feminino, ‘para si mesmo’. A inocência ‘do coração’, e, por
conseguinte, a inocência da experiência significa participação moral no eterno
e permanente ato da vontade de Deus.
O contrário de tal ‘acolhimento’ ou ‘aceitação’ do outro ser
humano, como dom, seria privação do dom mesmo e por isso mudança e até redução
do outro a ‘objeto para mim mesmo’ (objeto de concupiscência, de ‘apropriação indevida’, etc.). [...]
É preciso, contudo, já aqui, no contexto de Gênesis 2, 23-25, verificar que esse extorquir ao outro ser humano o seu
dom (à mulher por parte do homem e vice-versa) e reduzi-lo interiormente a puro
‘objeto para mim’, deveria mesmo assinalar o princípio da vergonha. Esta,
na verdade, corresponde a uma ameaça
feita ao dom na sua pessoal intimidade, e testemunha o desabar interior da
inocência na experiência recíproca.
Segundo Gênesis 2,
25, “o homem e a mulher não sentiam
vergonha”. Isto permite-nos chegar à conclusão que a troca do dom, na qual participa toda a humanidade deles — alma e
corpo, feminilidade e masculinidade — se realiza conservando a característica interior (isto é precisamente
a inocência) da doação de si e da aceitação do outro como dom. Estas duas funções da
mútua troca estão profundamente ligadas dentro de todo o processo do ‘dom de si’:
o dar e o aceitar o dom compenetram-se: de maneira que o dar mesmo, torna-se
aceitar; e o aceitar, transforma-se em dar”.
(continua...)
[beato João Paulo II,
Alocução ‘Il dono del corpo’, 06.II.1980].
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