Por Matias Rimont
Nosso Senhor acolhe o pecador arrependido, não o que persevera no seu pecado sem desejo de mudança |
Há quem diga em seu coração ‘Eu sei que é pecado, mas contarei
com a misericórdia de Deus’, pois ‘Deus vê meu coração’ e,
ainda, ‘Deus é amor, jamais castigará’ pois ‘castigar
produz dor e Deus não permite a dor pois ela causa sofrimento’, ‘Deus dá
carinho, aconchego e conforto’, mas, pensando assim, engana-se.
Deus é misericordioso. Ele perdoa sem número de vezes os pecados dos
mais leves aos mais graves, desde o início da vida até o último fôlego antes da
morte. Ele não exige grandes sacrifícios materiais, como ouro ou honras ou
animais, mas sua única exigência é um coração arrependido e disposto a não mais
pecar.
Porém Deus também é justo e, por sua justiça, recompensa àqueles que
perseveram no bem e castiga aqueles que perseveram no mal.
Como bem explica Pe. William Saunders: “Devemos lembrar que Deus
não predestina ninguém ao inferno nem deseja que alguém seja condenado. Deus
nos confere a graça atual que ilumina o intelecto e fortalece a vontade de modo
que podemos fazer o bem e desviar do mal. Entretanto, uma pessoa, com o
consentimento do seu intelecto, pode escolher praticar o mal e com essa
escolha, cometer pecado mortal, e assim rejeitar Deus. Se uma pessoa não se
arrepende do pecado mortal, não tem qualquer remorso e persiste neste estado,
então esta rejeição de Deus continuará para a eternidade” (“Sim, existe um
inferno”, aqui)
Na Constituição Dogmática sobre a Igreja escreve-se:
“Desde que não se sabe nem o dia nem a hora, devemos seguir o conselho do Senhor e vigiar constantemente de modo que, quando o único curso de nossa vida terrena for completada, possamos merecer entrar com Ele na festa das bodas e sermos numerados entre os abençoados e não como os serventes maus e preguiçosos, sermos enviados ao fogo eterno, na escuridão exterior onde ‘haverá prantos e ranger de dentes’ (Mt 13,50)” (Lumen Gentium, 48).
Deus é misericordioso e é justo. Pela misericórdia, Deus perdoará
inúmeros pecados bastando um só ato de arrependimento, mas, pela justiça. Deus
condenará ao castigo eterno bastando um só pecado grave do qual não houver
arrependimento. Pela misericórdia, Deus perdoará uma vida inteira de ofensas e
indiferença àquele que na última hora se arrepender de todo coração, mas, pela
justiça, Deus condenará aquele que pecar gravemente na última hora, sem se
arrepender, mesmo que durante toda a vida tenha sido puro como um anjo. Pois a
misericórdia é para aqueles que se arrependem, lutam para viver santamente mas
que, por fraqueza ou por falta de vigilância, caem em pecado. Mas se não há
arrependimento, não há vontade de fazer o que é certo, mas há
vontade de persistir no caminho da desobediência em que eu me faço juiz do
certo e do errado e que conduz à morte. Aos homens que procedem assim, Nosso
Senhor dirá “Eu não vos conheço”(Mt
25,12) e ainda “Apartai-vos de mim,
malditos!” (Mt 25,41).
Mas há quem diga ainda: ‘eu estou cansado de lutar e sofro
demais com as adversidades’. Também diz ‘por isso Deus sabe que não peco porque
eu quero, mas porque não aguento mais sofrer’. Aquele que diz isso também se
engana, pois, ao invés de justificar seu pecado apelando à fraqueza, está
ofendendo gravemente a Deus pela suposição de que a graça d'Ele não é o
bastante para perseverar. Assim, quem diz isso manifesta a sua vaidade que prefere,
apoiando-se nas próprias forças, ceder ao mal a, apoiando-se na graça de Deus,
persistir no bem. Manifesta a sua malícia que, escolhendo a via fácil, sem
lutas e cheia de comodidades, espera ainda de Deus a mesma recompensa reservada
para aqueles que, lutando e sofrendo com as adversidades, seguem pela via
difícil da Cruz. Assim manifesta que não é cristão, pois prefere o caminho
largo e fácil do prazer, das riquezas e das honras humanas, ao caminho estreito
e difícil do Calvário - das dores, do desapego material e da humilhação na
penitência.
Nosso Senhor não nos disse ‘peca e confia na minha misericórdia’,
mas disse “teus pecados estão
perdoados. Vá e não peques mais” (Jo 8,11). Ele não disse: ‘Aquele que
quiser me seguir, curta a vida e satisfaça todos os seus desejos’, mas Ele
disse: “Aquele que quiser me seguir,
renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24).
Confiar na misericórdia de Deus significa arrepender-se de ter ofendido
a Deus e fazer um firme propósito de não mais fazê-lo, significa ainda confiar
que Ele, vendo a reta intenção, nos acolhe novamente como filhos seus e,
sobretudo, nos concede a força necessária para perseverar. Confiar na
misericórdia de Deus é seguir o caminho da Cruz, o mesmo caminho de Nosso
Senhor, passando pelos sofrimentos em união com Cristo. Confiar na misericórdia
de Deus é sofrer junto com o Filho de Deus e também alegrar-se com Ele. Confiar
na misericórdia de Deus é, sabendo da própria miséria, confiar-se totalmente ao
Senhor, querendo em tudo agradá-Lo pois O reconhecemos como sumamente Bom.
Confiar na misericórdia de Deus é reconhecer que estávamos errados e que
precisamos mudar de vida. Confiar na misericórdia de Deus é reconhecer que o
pecado é um caminho de morte eterna, que começa poupando a própria vida e termina
por perdê-la para sempre. Confiar na misericórdia de Deus é reconhecer que o
caminho da vida passa pelo sacrifício de si mesmo, que começa morrendo para o
pecado e termina ganhando a liberdade e a plenitude, junto de Deus. Confiar na
misericórdia de Deus é, por fim, reconhecer que Deus é a nossa favor e nos
concede todos os meios para que trilhemos o caminho da vida e evitemos o
caminho da morte.
O bom Deus conhece as grandes dores que afligem os corações daqueles que
sentem AMS. A carência de amo; a solidão; as ofensas e as injustas
discriminações; a frustração de ver os outros se casando ou se ordenando ou se
consagrando, enquanto parece que suas vidas não resultam em nada; a violência e
os abusos sofridos; as incompreensões e o silêncio temeroso dos juízos de
condenação e repúdio. Deus conhece tudo isso. Ele se une aos seus sofrimentos
pela Paixão de Nosso Senhor. Mas isso não O faz aprovar o pecado. Ao contrário,
faz com Ele o deteste ainda mais, pois
foi o pecado dos homens que os reduziu à situação tão deplorável. Deus nos quer
todos santos, trilhando o caminho da vida.
Por isso, dizemos: ‘Confie na misericórdia de Deus’; e por isso, ‘confie
que a graça de Deus é eficaz para socorrer você na sua fraqueza’. Jesus, Nosso
Senhor, é quem diz: “Basta-te a
minha graça, pois é na tua fraqueza que se manifesta minha força” (2 Cor
12,9)... “Coragem! Eu venci o mundo”(Jo
16,33).
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