[Continuamos aqui a tradução do capítulo 6 da obra "A homossexualidade e a Igreja Católica. Respostas claras a questões difíceis" escrita pelo fundador do Courage, o padre John F. Harvey. A 1ª parte pode ser encontrada aqui.]
As amizades humanas:
benefícios e limites
(2ª parte)
6. As pessoas com AMS podem desenvolver amizades com outras pessoas de ambos os sexos e se manterem castas?
Sim.
Elas podem desenvolver amizades íntimas e castas com outras pessoas de ambos os
sexos. A segunda parte do vídeo Retratos
do Courage, intitulada “O Grito dos Fiéis”, mostra que pessoas com AMS
podem e devem ter amigos próximos que partilham o objetivo comum da castidade (esse
vídeo pode ser solicitado ligando internacionalmente ou
online no website do Courage International).
Nesse vídeo, os membros do Courage podem ser vistos juntos em reuniões, jogos,
oração e eventos sociais, demonstrando que que o apoio de outros membros do
Courage é, junto com a graça de Deus, um fator importante para viver uma vida
casta.
Quando
algumas pessoas com AMS podem ser tentadas a formar uma relação próxima muito
exagerada com um amigo excluindo todos os outros, elas percebem que terão de
pagar um preço muito alto por tal tentativa de intimidade. Como foi apontado
pelo Dr. William Consiglio, terapeuta, essas pessoas serão muito melhores se passarem
tempo com o grupo.
Então,
uma pessoa pode formar amizades próximas com muitos membros do grupo (ou até
mesmo fora do grupo) enquanto pratica meditações diárias sobre Jesus. Mas isso
significa que alguém não pode dar preferência a um amigo em vez de outro? Não, isso
enquanto ela continuar participando do grupo e considerando todas as pessoas do
grupo como dignas de seu amor. Quando um membro do Courage forma uma amizade
exclusiva com outro membro, no entanto, há o perigo da dependência emocional e
da sexualização do relacionamento. Os limites morais, geralmente, são violados.
7. Que tipos de limites são necessários
para que alguém com atrações pelo mesmo sexo mantenha uma amizade distante de
se tornar sexualizada?
Ao
aconselhar pessoas com AMS, eu realcei o valor de expressar afeição de uma
maneira casta quando se está na companhia de outras pessoas do mesmo sexo com
AMS. Alguém pode observar os mesmos limites de como homens e mulheres
heterossexuais fazem ao evitar qualquer ação que diretamente excite diretamente
sentimentos de luxúria com ela mesma ou com a outra pessoa. Tal conduta inclui
conversas longas ao telefone, troca de carícias, ou uso da Internet para o
mesmo propósito. Evitar tais comportamentos pode ser descrito como pôr um
limite externo em prática.
Mas
há também um limite ou proteção interna encontrada nas emoções e no coração da
pessoa. Se a pessoa pratica a oração do coração regularmente, e coloca o amor
de Cristo acima de toda e qualquer pessoa, ela terá uma consciência sensível, evitando
no geral as ocasiões próximas de pecado. Assim, mantendo a pureza de coração,
ela criou um limite dentro de sua consciência. Resumindo, a vida interior de
oração é o mais importante limite.
Se,
no entanto, uma pessoa carece de limites em sua consciência, ela está mais
próxima de violar os limites externos, muitas vezes racionalizando que ela pode
lidar com uma ocasião de pecado, e mais ainda, de que não pode cair contra
pureza. Essa é a minha experiência como diretor espiritual de que uma consciência
honesta, que reconhece a própria vulnerabilidade de fantasiar e cobiçar, é a
guardiã da pureza de coração.
Há
outra consideração a qual pode ajudar uma pessoa com AMS que tende a ser superdependente
de outra pessoa, chegando ao ponto de fazer da outra pessoa um ídolo. Toda a
sua vida emocional é centrada naquela pessoa. Embora a outra pessoa possa não
sentir uma dependência recíproca, ele ou ela devem se retirar de
relacionamentos íntimos com indivíduos superdependentes.
Nas
suas Confissões, o jovem bispo
Agostinho descreve sua própria superdependência no passado de um rapaz o qual
ele havia convertido ao maniqueísmo. O rapaz, no entanto, retornou à fé cristã,
mas morreu logo depois. Agostinho mergulhou em uma depressão muito profunda.
Ele ainda não era convertido. Tudo parecia trevas ao seu redor por algum tempo,
mas ele se recuperou e mais tarde recebeu a graça da conversão. Descrevendo o
estado de sua alma, Agostinho medita “Ó loucura que não sabe amar homens como
homens” (Confissões, 4, 7, 1). Agostinho acertou o alvo. Nenhuma pessoa, por
mais que seja santa, pode satisfazer os profundos anseios do coração humano;
somente Deus o pode fazer. “Tu nos fizeste para Ti, ó Senhor, e nosso coração
nunca está em repouso enquanto não repousar em Ti” (Confissões, 1, 1, 1).
São
Francisco de Sales adiciona que em toda amizade humana há algo faltando, porque
os nossos corações são feitos para a união com Jesus Cristo.
8. Qual o papel da amizade nas vidas dos
membros do Courage?
Um
dos membros do Courage escreveu um texto chamado de “Os Três Pilares do
Courage”. A importância da amizade aparece em muitos lugares do texto, e eu
gostaria de compartilha-lo aqui:
Os Três Pilares do Courage
Eu
penso nisso como os três pilares do Courage – o grupo de apoio, a sólida espiritualidade
Católica e a camaradagem. No grupo nós nos recordamos das Cinco Metas, especialmente
nosso foco desenvolver vidas de castidade interior (Meta Primeira). No meu
grupo de apoio do Courage padres atenciosos ouvem com compaixão, e gentilmente,
porém firmemente, nos instruem na verdade completa dos ensinamentos da Igreja.
Eles trazem remédio para nossas almas nos dando a verdade com amor e paciência.
No grupo do Courage eu também encontrei apoio e encorajamento moral de irmãos e
irmãs em Cristo que compartilham das minhas lutas e tentações. Tem sido de
grande conforto ser ouvido e entendido por aqueles que “estiveram lá” e sabem
como é andar nesse caminho. Algumas vezes quedas podem acontecer. Mas, se
reconhecermos uma queda pelo que ela é, nós chamamos o pecado pelo seu nome,
vamos nos confessar e continuamos a viver. Nós tomamos medidas para evitar ocasiões
futuras de pecado, e prestamos contas a nosso confessor/diretor espiritual.
O
segundo pilar do Courage é o encorajamento de se aprofundar em nossa
espiritualidade católica e vivê-la. Aqueles de nós com atrações pelo mesmo sexo
e desejo pela castidade sabemos que precisamos da graça para atingir essa meta,
e somente encontramos essa graça nas riquezas espirituais de nossa Igreja
Católica – através da liturgia e recepção da Santa Eucaristia, através da
confissão, adoração, do Rosário, através da oração individual e em grupo, leitura
da Escritura, meditação e direção espiritual. Nós aprendemos nos apresentar
para Deus com uma honestidade absoluta sobre nossas fraquezas emocionais e
tentações, e nossa fome por amor - e lá, diante do Santíssimo Sacramento, nós
recebemos amor, paz, aceitação e cura espiritual.
O
terceiro pilar do Courage é a camaradagem. Sou afortunado por viver em uma
parte do país onde membros se encontram regularmente para um convívio, seja
para comermos alguma coisa, ir ao retiro juntos, ir ao cinema, ou somente para
tomar uma xícara de café. Nós também estamos aprendendo a nos envolver em
atividades sociais e espirituais fora do Courage como uma parte da grande
Igreja.
Esses
três pilares – o grupo de apoio, nossa espiritualidade Católica e a boa
camaradagem – todos são auxílios para os membros de Courage, não importa qual
seja nosso estado na vida, ajudando-nos a viver vidas plenas de santidade e
alegria, em comunhão um com o outro e com o grande corpo de Cristo.
9. Você pode resumir tudo o que foi dito
sobre amizades castas, especialmente para pessoas com AMS?
Usando
citações de santos e estudiosos, eu revi o grande benefício das amizades castas.
Também apontei as diferenças entre limites externos ou limitações e a
necessidade de limites internos. Ambos são importantes, mas o interior é mais
necessário porque vem da parte mais profunda da pessoa – o que os autores
bíblicos definem como o coração. O coração é verdadeiramente o compromisso
total da vontade por uma meta particular, por exemplo, em ser totalmente casto
em nossos pensamentos e ações. Isso é possível somente pela graça de Deus. Nas
palavras de Santo Agostinho, castidade é um presente de Deus que depende da
oração.
Para
manter amizades castas uma pessoa deve admitir totalmente suas próprias
vulnerabilidades e não fingir que pode lidar com a situação, a qual é
geralmente uma ocasião próxima de pecado. A humildade – a admissão amorosa das
próprias limitações – ajuda a preservar a castidade.
A próxima
observação é feita principalmente para pessoas com AMS. Recentemente, um
conselheiro renomado de uma universidade Católica me disse que pessoas com AMS
cometem um erro quando limitam suas amizades próximas a outras pessoas com AMS.
Tenho percebido esse fenômeno tanto entre os homens como entre as mulheres. O
conselheiro recomendou que homens com AMS também formem amizades castas com
homens heterossexuais, e que mulheres com AMS façam isso também com mulheres
heterossexuais. Esse é um bom conselho.
Quase
no fim da primeira conferência do Courage, feita em Riverdale, Nova Iorque, em
1989, Dra. Maria Valdes fez uma observação de que homens com AMS devem cultivar
amizades com homens heterossexuais tanto quanto com outras pessoas com AMS. No
período de perguntas e respostas depois de sua apresentação, Dra. Valdes
recebeu uma objeção de um dos homens, que disse “Estou com medo de formar uma
amizade íntima com um homem heterossexual, porque ele pode me rejeitar como um
rapaz gay”. Ela respondeu: “Esse é o problema... Você assume que todas as
pessoas heterossexuais irão te rejeitar. Depois de um, dois, três strikes –
você está fora.” Isso é uma suposição falsa. Muitas pessoas com AMS têm
aprendido o valor de amizades próximas com homens e mulheres heterossexuais. Aqueles
que não agem assim restringem desnecessariamente suas escolhas de formar
amizades castas, e frequentemente se tornam dependentes em excesso de outra
pessoa com AMS.
Durante
os últimos vinte e quatro anos conheci muitas pessoas superdependentes e tentei
ajudá-las. Geralmente a pessoa superdependente é a mais jovens, à procura de um
pai; às vezes a outra pessoa não sabe o que fazer. Ela tenta evitar o jovem,
mas sem sucesso porque o jovem a persegue. Eu persuadi um jovem nessa situação
a procurar um psicólogo clínico. O homem mais velho manteve sua distância e
sabiamente decidiu romper a relação.
Cada
um de nós precisa reconhecer que as amizades humanas nos ajudam a encontrar paz
de coração neste mundo, desde que nós as tragamos para nosso relacionamento pessoal
com Cristo. A pessoa superdependente necessita, acima de tudo, de um
relacionamento com Cristo para combater as buscas fantasiosas pela pessoa
perfeita.
A
pessoa que busca a pureza de coração não terá espaço para uma atitude
casuística, por assim dizer, “Quão longe eu deverei ir antes que eu vá muito
longe e ceda à luxúria?” Outra forma casuística é atribuir as falhas de alguém
à fraqueza da vontade. Santo Agostinho responde a isso afirmando que não é a fraqueza
de vontade, mas uma vontade dividida, por assim dizer, que é a fonte de nossa
dificuldade. Como uma faculdade espiritual, a vontade tem sua unidade própria
e, assim, não pode estar dividida. A vontade, no entanto, é pega entre um
desejo ilícito (luxúria) e um bom desejo (castidade). Enquanto a pessoa somente
quer parcialmente a castidade, ela não vai a lugar nenhum. Tão logo ela queira
completamente a castidade – e rejeite completamente a luxúria – vai se tornar
unificada, e pode agir pela castidade. A graça para fazê-lo vem do Espírito
Santo. Assim, existe apenas uma vontade unificada ou uma vontade dividida.
Quando trata sobre a amizade, São Francisco de Sales exorta seus leitores a
serem rigorosamente honestos consigo mesmos, evitando a miríade de racionalizações
do maligno. Quero reiterar que o limite mais importante é a determinação de
como uma pessoa praticará a castidade, a qual se deve ter como um dom precioso.
Podemos
ter a esperança de que, através da prática da castidade e do cultivo das boas
amizades, seja possível vir a abraçar mais completamente a castidade interior,
ou castidade do coração, através da amizade profunda com Cristo.
Ótima postagem, tanto esta parte II, quanto a parte I! Salve Maria e que ela proteja e fecunde esse apostolado tão santo e indispensável da Courage Brasil!
ResponderExcluirExcelente reflexão! Deus fortaleça nossa vontade para vivermos a castidade.
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