(1ª parte)
Courage International, Inc. é um apostolado da Igreja Católica, fundado em 1980 pelo padre John F. Harvey, presente no Brasil e em outros países, que oferece apoio pastoral a homens e mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo e que tenham escolhido viver uma vida casta. Em 28 de novembro de 2016 Courage International recebeu o status canônico na Igreja Católica de associação pública clerical de fiéis, fazendo-o o único apostolado canonicamente aprovado de sua espécie.
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segunda-feira, 3 de abril de 2017
[Esp] AMS e amizade (1ª parte)
[O fundador do Courage, o padre John F. Harvey, escreveu a obra "A homossexualidade e a Igreja Católica. Respostas claras a questões difíceis". Agradecemos a tradução feita por um de nossos caros irmãos, referente à uma de nossas metas, a amizade, do capítulo 6 dessa excelente obra.]
As amizades humanas: benefícios e limites
(1ª parte)
(1ª parte)
1.
Como os escritores de espiritualidade, incluindo-se São Francisco de Sales,
descrevem as boas amizades?
Os escritores espirituais
aplicam a noção de amizade ao nosso relacionamento com Deus. Na Última Ceia,
Jesus diz aos apóstolos que Ele não mais os chamará de servos, mas de amigos
(v. Jo 15,15). Ele fala de Sua unidade com Seu Pai Celestial e de nossa unidade
com Ele. Além disso, Jesus promete enviar o Espírito Santo para nos fortalecer.
Como Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são todos um numa amizade
eterna. Refletindo na verdadeira natureza da amizade em seu clássico Introdução à Vida Devota, São Francisco
de Sales escreve: “Quanto mais altas são
as virtudes que você divide e troca com as outras pessoas, mais perfeita será a
sua amizade. Se as suas trocas mútuas e recíprocas disserem respeito à caridade
e à perfeição cristã... como será preciosa essa amizade. Ela será excelente
porque ela vem de Deus, excelente porque ela leva a Deus e excelente porque seu
vínculo durará eternamente em Deus.” (Introdução à Vida Devota, Parte III,
Capítulo XIX).
O entendimento de São
Francisco de Sales a respeito das várias formas de amizade é discutido em seis
capítulos da Introdução à Vida Devota
(Parte III, Capítulos XVII-XXII). São Francisco distingue primeiramente o amor
da amizade. Pode acontecer, por exemplo, que uma pessoa ama a outra, mas esta
última não corresponde à afeição. Na amizade, o amor é recíproco; além disso,
ambas as pessoas reconhecem seu amor mútuo, e elas buscam compartilhar ideias e
carinho enquanto se comunicam regularmente entre si.
Ainda, São Francisco
acredita que a amizade “é um dos mais perigosos
tipos de amor, uma vez que os outros tipos podem existir sem intercomunicação,
mas amizade é completamente baseada nisso, e nós mal podemos ver tal
comunicação com uma pessoa sem compartilhar das qualidades da outra pessoa.”
(Introdução à Vida Devota, Parte III, Capítulo XVII).
2.
Existem outros tipos de amizade?
Sim. As amizades diferem de
acordo com os tipos de bens que são trocados. Se os bens são falsos e vazios, a
amizade é falsa e vazia. Se os bens trocados são verdadeiros, a amizade é verdadeira
– e quanto melhores são os bens, melhor é a amizade (Introdução à Vida Devota,
Parte III, Capítulo XVII). O casamento é um exemplo de troca de bens. No
casamento, “existe uma troca de vida,
trabalho, bens, carinho e fidelidade indissolúvel. O casamento é, portanto, uma
verdadeira amizade santa.” (Introdução à Vida Devota, Parte III, Capítulo
XVII).
Em um nítido contraste, as relações
sexuais fora dos limites do casamento são imorais e desumanas. Como São
Francisco coloca “A comunicação dos
prazeres carnais é uma propensão mútua e uma isca brutal, que entre os homens
não merece o nome de amizade mais do que a dos jumentos e cavalos, pela
semelhança dos efeitos.” (Introdução à Vida Devota, Parte III, Capítulo XIXI).
Em relação às más amizades, ou até mesmo às amizades que podem ser
classificadas como perigosas para ambas as partes por conta da imaturidade
mútua e vulnerabilidades, o habitualmente gentil São Francisco declara “Cortai, despedaçai, quebrai... é preciso
rasga-las e despedaça-las... Não há razão para fazer caso de um amor que é tão
contrário ao amor de Deus.” (Introdução à Vida Devota, Parte III, Capítulo
XXI). Ele complementa que precisamos não nos enganar em acreditar que podemos
lidar com tal situação.
3.
Como escolhemos nossos amigos?
São Francisco de Sales
repete que uma pessoa deve formar amizades somente com aqueles que podem trocar
virtudes com você. Quanto maior as virtudes que alguém pode dividir com o
outro, mais perfeita a amizade será. São Francisco chama isso de “amizade espiritual”.
Por isso, “... Duas, três ou mais pessoas
se comunicam mutuamente as suas devoções, bons desejos e resoluções por amor de
Deus, tornando-se um só coração e uma só alma... Todas as outras amizades são
como as sombras desta e seus laços são frágeis como vidro, ao passo que estes
corações ditosos, unidos por um espírito de devoção, estão presos a uma
corrente de ouro.” (Introdução à Vida Devota, Parte III, Capítulo XIX) (Ele
deixa claro que ele está se referindo à amizade que uma pessoa escolhe, não do
amor da família). São Francisco continua a dizer que amizades baseadas no amor
do Cristo são as melhores. Aqui, ele está falando sobre amizades que alguém
escolhe para si mesmo, e ele também quer que nós valorizemos as amizades entre
membros da família e parentes. São Francisco não para aqui. Referindo-se aos leigos
católicos, ele diz que é necessário se unir em uma amizade sagrada. Dessa
maneira, ele encoraja a viver vidas em união com Cristo. São Francisco recorda
que Jesus mesmo teve amigos especiais como São João Apóstolo, Maria Madalena,
Marta, Maria e Lázaro. Entre os santos se encontra muitos exemplos de profundas
amizades, tais como Basílio Magno e Gregório Nazianzeno, Francisco de Assis e
Clara, e Francisco de Sales e Joana de Chantal. Para aqueles que buscam a Deus,
amizades santas são um grande benefício (Introdução à Vida Devota, Parte III,
Capítulo XIX). Será necessário mais tarde, no entanto, discutir os limites da
amizade.
4.
Santo Agostinho também não ensinou sobre a amizade?
Sim. Jesus, em sua natureza
humana e divina, buscou amizade com cada pessoa. Santo Agostinho amplia sobre a
noção de Deus o laço da amizade humana quando diz, “Feliz o que Vos ama, feliz o que ama o amigo em Vós, e o inimigo por
amor de Vós. Só não perde nenhum amigo a quem todos são queridos Naquele que
nunca perdemos. E quem é esse, senão nosso Deus.” (Confissões, 4,9, 14).
De acordo com Santo
Agostinho, a solução para o problema da amizade humana está na integração do amor
do homem com o amor de Deus. Uma pessoa ama o amigo como a imagem de Deus; seu
inimigo porque Deus assim ordenou, e porque as almas pecadoras ainda retém a
imagem divina, ainda que embaçadas, assim como a capacidade para a graça
divina.
Não se deve esquecer de que
a bondade com que uma pessoa ama seu amigo vem de Deus e a Ele deve ser
referida. As pessoas devem ser amadas em Deus. A pessoa apresenta, como se
fosse, seu amigo a Deus. Preenchido com amor, ela exorta seu amigo a amar Deus
percebendo que qualquer coisa linda em sua amizade é um presente divino. Por
outro lado, a pessoa que abandona Deus em sua busca pelo amor humano irá sofrer
a amargura de uma falsa amizade. Deus deve estar nas amizades humanas, ou elas
não conterão a felicidade verdadeira (Padre Harvey, Teologia Moral, páginas 36-38).
Desenvolvendo o dom da
caridade infundida em nossos corações pelo Espírito Santo, o indivíduo está
aberto a amar a bondade divina em suas criaturas. Dessa maneira, a virtude da
caridade nos prepara para amizades humanas. De novo, como Santo Agostinho
aprendeu por experiência amarga, Deus deve estar nas amizades humanas ou elas
não irão conter felicidade verdadeira.
Esse princípio genérico leva
a duas perenes conclusões práticas: 1) Uma verdadeira amizade não existe a não
ser que Deus seja o elo entre os amigos; e 2) A solução do problema da amizade
humana está na integração do amor do homem com o amor de Deus. Longe de opor a amizade
humana coma amizade divina, percebe-se que qualquer beleza em sua amizade é um
presente de Deus. (Padre Harvey, Teologia
Moral, página 37).
No livro Os Quatro Amores, C.S. Lewis faz uma
importante distinção entre o puramente afetivo, relações sentimentais e
verdadeiras amizades. Uma verdadeira amizade é a comunhão de ideais e carinho
no qual duas pessoas compartilham sua busca de um objetivo comum; por exemplo,
duas pessoas tem a intenção de defender a vida da criança não nascida. Ao
buscar esse objetivo comum, eles descobrem que são amigos. Lewis adiciona que
cada um pensa que sabe quando a amizade começou; na verdade, ela começou antes
que percebessem. (C.S. Lewis, Os Quatro
Amores, páginas 81-83, 87-111).
5.
Como deve uma pessoa com atrações pelo mesmo sexo desenvolver boas amizades?
Uma pessoa com AMS precisa
colocar Jesus Cristo em primeiro lugar em seus desejos e afeições. Por mais que
ela queira intimidade e amizade com outras pessoas, ela percebe que não é
possível expressar suas afeições e desejos por atos que são contrários a seu
amor por Cristo e ao significado da sexualidade humana, como descrito nos
primeiros dois capítulos de Gênesis e em Mateus 19, 3-8. Ela percebe que deve
achar maneiras de expressar carinho castamente, ou seja, maneiras nas quais ela
tenha controle sobre os desejos ilícitos e impuros, para não tentar outra
pessoa com desejos impuros. A castidade é encontrada nas puras afeições do
coração, e é nutrida pela oração. Assim, membros do Courage buscam amizades com
outras pessoas – incluindo membros do Courage – que compartilham do ensinamento
da Igreja sobre os desejos e comportamentos sexuais.
A pessoa com AMS terá mais
dificuldades em praticar a castidade do que uma pessoa heterossexual, por uma
simples razão: o heterossexual pode buscar a especial e exclusiva amizade do
casamento para completar seu desejo por intimidade sexual com a pessoa do sexo
oposto. Mas o homem ou mulher com AMS não têm essa opção porque eles não têm
atração física e genital em relação às pessoas do sexo oposto. Eles são
obrigados a viver uma vida enraizada na castidade – algo não possível puramente
por seus poderes humanos, mas possível pela graça de Deus, como é comprovado
por muitas pessoas com AMS que vivem vidas castas.
(continua)
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ResponderExcluirSao Francisco Sales sofria de AMS ?
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