Nosso
fundador, o padre John F. Harvey, que faria 100 anos de vida agora, insistia que
no plano de vida espiritual para pessoas com atração ao mesmo sexo (AMS) deveria
sempre haver uma forma de devoção aos santos. Muitos se perguntam: qual santo
escolher? Houve santos com atração pelo mesmo sexo que eu possa seguir? Essa
última pergunta leva a especulações infrutíferas, e muitas vezes tendenciosas.
Com certeza houve santos com atrações indesejadas, que se santificaram mesmo
assim, pois o que nos santifica é a graça de Deus, e todo cristão é chamado à
santidade. No lugar de ficar se questionando sobre se é possível santificar-se
tendo AMS, por que não se esforçar para ser esse santo, já que SIM, é possível,
como a própria Igreja o afirma no Catecismo? E um exemplo de santo a ser
seguido, como pedia o Padre Harvey, é S. Luiz de Gonzaga, grande exemplo de
castidade, mortificação e caridade. Sigamos seus passos em nosso caminho de santificação!
Coragem!
SÃO LUIZ DE GONZAGA
Meditaremos hoje sobre S. Luiz
de Gonzaga, e veremos quais foram: 1º - a sua inocência; 2º - a sua
mortificação; 3º - a sua caridade. Tomaremos depois a resolução: 1º - de nos
santificarmos, por mais que custe, e para isto de perguntarmos muitas vezes a
nós mesmos como faria S. Luiz de Gonzaga esta ação, esta oração, e procurarmos
fazê-lo do mesmo modo; 2º - de evitarmos até as menores culpas, e de sermos
fiéis à graça; 3º - de aspirarmos a nos mortificar e a amar a Deus cada vez
mais. O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Livro da Sabedoria a
respeito da morte do justo na flor da idade: Tendo vivido pouco, encheu a carreira de uma larga vida (Sab 4, 13).
Adoremos a Deus, admirável nos
seus santos; bendigamos a Deus principalmente por ter dotado S. Luiz de Gonzaga
de uma virtude tão pura, tão encantadora, que a sua memória é abençoada por
toda a Igreja, e de o ter elevado no céu a tão alto grau de glória, que Santa
Madalena de Pazzi, a quem foi concedido contemplá-lo lá, somente dele falava
com exclamações de admiração: Ó, que
glória, dizia ela, é a de Luiz, filho
de Inácio! Felicitemos ao mesmo tempo este amável santo pelas boas
qualidades de que o enriqueceu a graça, e roguemos a ele que nos permita
imitá-lo: porque, dizia ele, o melhor modo de honrar os santos é imitar suas
virtudes.
PRIMEIRO PONTO
Inocência
de S. Luiz de Gonzaga
A inocência é como que o
caráter próprio do nosso santo, e a primeira idéia que desperta a sua memória. A
só aparência do pecado o assustava; e uma palavra pouco decente, cujo sentido
não compreendia, proferida na sua infância, causou-lhe tão viva dor, que a
primeira vez que disso se acusou caiu desfalecido a ponto de não poder concluir
a sua confissão nesse dia. Toda a sua vida conservou disso tanta vergonha que
não falava a esse respeito senão chorando e lamentando o que ele chamava o
tempo de suas loucuras. Tinha sempre em vista o que era mais perfeito, media
todas as suas palavras ao pé do santuário, vigiava todos os seus afetos para os
moderar, dominava o seu gênio a ponto de reprimir os seus menores ímpetos, e
tomava tanto a peito os seus deveres e exercícios de piedade, que até o intenso
ardor da febre o não impedia de os cumprir. Cada semana confessava as suas
imperfeições com tão viva contrição, que julgavam muitas vezes que ia expirar. Com
maior razão, tomava todas as precauções contra o pecado. Chamado a exercer um
importante cargo na corte, ele vigia continuamente sobre os seus sentidos, e
emprega todos os meios de defender a sua virtude; mas confiando pouco em si,
abandona a corte, e entra na Companhia de Jesus, onde conserva sempre uma modéstia
nas suas vistas, uma discrição nas suas ações e palavras, e é tão exato na
observância da sua regra, que pôde dizer, na hora da morte, que não se lembrava
de a ter jamais violado. Finalmente, causava admiração a todos, ainda os mais
velhos, que ficaram persuadidos, quando ele morreu, que tinha levado para
diante de Deus a veste da sua inocência batismal. Entremos em nós mesmos, e nos
comparemos, humilhemos e nos emendemos.
SEGUNDO PONTO
Mortificação
de S. Luiz de Gonzaga
Tudo em S. Luiz de Gonzaga era
mortificado: os sentidos, a imaginação, o gênio, o amor próprio. Reprimia os
seus sentidos até se privar dos mais inocentes prazeres, não levantando os
olhos na sociedade para ver sua mãe, nem nas igrejas para ver o ornato dos
altares; e além disso, macerando o seu corpo com disciplinas. Tinha subjugado
tanto a sua imaginação que pôde dizer: não
me ocorre nenhum pensamento sem que eu o queira. Tinha refreado tanto o seu
gênio, que nada podia perturbar a tranquilidade da sua alma, diminuir a sua
mansidão, alterar as feições do seu rosto, e os que nunca o haviam conhecido
julgavam-no nascido sem paixões. Tinha extinguido o seu amor próprio,
conservando-se continuamente abismado num tão profundo desprezo de si mesmo que
se olhava como a escória dos homens. Admirava-se de ter sido admitido na
Companhia de Jesus, e não sei, dizia
ele, o que ali farão de um miserável como
eu. A estima dos homens lhe causava uma extrema dor, como um ultraje à
verdade, e o seu desprezo uma alegria que lhe transluzia no rosto. Parecia-lhes
que todas as ocasiões de se humilhar eram uma boa fortuna, e busca o opróbrio e
a confusão como outros buscam a honra e a glória. Assim o nosso santo tinha
mortificado tudo em si: era, como se exprime uma grande santa, um mártir desconhecido;
evitava até afeiçoar-se às graças mais preciosas, para que só Deus possuísse
todo o seu coração. Que lição para nós! Lembremo-nos da palavra da Imitação de
Cristo: Só progredimos na perfeição
quando nos violentamos (Im. 24, 11) e da de S. Luiz de Gonzaga: Não se ama a
Deus, não se tendo um ardente e contínuo desejo de sofrer por seu amor.
TERCEIRO PONTO
Caridade
de S. Luiz de Gonzaga
Na idade de oito anos, Luiz de
Gonzaga estava já, segundo o testemunho de S. Carlos e de S. Roberto Belarmino,
adiantadíssimo nos caminhos da perfeita caridade. Desde então, a sua caridade
foi sempre crescendo; e como quanto mais se ama a Deus, tanto mais se deseja
conversar com ele, viram-no em breve passar na oração cinco horas consecutivas
do dia, e uma parte das noites. No meio mesmo de seus estudos, conservava no
fundo da sua alma a presença de Deus, e lhe permanecia amorosamente unido. O só
pensamento da bondade divina o extasiava; a vista do crucifixo mantinha-o
algumas vezes imóvel horas inteiras meditando nas chagas e Paixão de Jesus
Cristo. Os tabernáculos encantavam ainda mais o seu coração. Diante desse monumento
do amor divino, banhava o pavimento com as suas lágrimas, e sentia-se como
preso a Jesus Cristo pelo amor, a ponto de se ver obrigado a suplicar-lhe que
lhe permitisse retirar-se, quando a obediência o chamava a outra parte. Então
retirava-se de corpo, mas ficava-lhe unido de coração, sem poder separar-se
dele, apesar das ordens de seus superiores e dos esforços da sua obediência.
Era principalmente durante o santo sacrifício que resplandecia a sua ardente
caridade; e seria impossível exprimir as suas abundantes lágrimas à
consagração, os seus transportes à comunhão, as santas expansões do seu coração
quando dava graças. Envergonhemo-nos de estar tão longe deste amor, e confessemos
que é porque pedimos poucas vezes a Deus o seu amor; é porque não fazemos com
frequência os seus atos; é porque não meditamos bastante sobre os motivos de
amor; é porque não conservamos, como convém, o fogo do santo amor, quando a
graça nos chamou a isso
(Hamon, M. Meditações para todos os dias do ano.
Lisboa: Livraria Lello & Irmão, 1945)
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