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O Catecismo da Igreja Católica, nos parágrafos 2358-2359, propõe que "As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição". Para muitas pessoas, no entanto, esse chamado à castidade dirigido aos homossexuais não fica claro. Muitos se perguntam: 'Então eu sou chamado ao celibato? Mas eu tenho vontade de me casar!'
Em nosso apostolado, ou seja, no Courage, os membros são chamados a viver a castidade segundo o ensinamento da Igreja Católica. Muitas perguntas nos são dirigidas sobre o assunto. Por isso, achamos oportuno reproduzir aqui o seguinte artigo elucidativo, publicado na famosa revista católica First Things e intitulado "Chamados a um celibato não escolhido", no qual Aaron Taylor apresenta com clareza o pensamento da Igreja Católica a respeito do tema, solidamente embasado no Magistério Católico.
Nosso Senhor, estando próxima Sua Paixão, disse aos seus discípulos: "Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi" (Jo 15,16). Aaron Taylor deixa claro que o chamado, mesmo nas situações mais adversas, é sempre iniciativa de Deus e não do homem, e que cabe a esse livremente abraçar ou recusar o chamado, atendendo ou não ao apelo do Senhor ].
A crise na vida
familiar que tem convulsionado o Ocidente desde os anos 60 do século passado
fez com que a Igreja, nos últimos tempos, se tenha, em grande medida, dedicado
a apresentar uma visão coerente e convincente do matrimônio cristão, o que se
justifica totalmente.
Mas isso não deve
levar os cristãos a minimizar a nobreza da vida celibatária, que a tradição
cristã sempre teve na mais alta consideração. É particularmente importante ter
isto presente, no momento em que a Igreja se esforça por encontrar a melhor
forma de ajudar as pessoas homossexuais a serem santas.
Além do óbvio exemplo
do próprio Jesus, São Paulo foi o primeiro a promover o celibato como uma forma
de “dedicação indivisa ao Senhor”.
São Paulo escreveu numa época muito anterior à existência de monges ou
mosteiros, e dirige-se tanto a homens como a mulheres. E não se refere ao
celibato sacerdotal ou à ‘vida consagrada’. Está a referir-se ao valor de uma
vocação de celibato vivido no meio do mundo.
A ideia de que os
homossexuais são chamados ao celibato soa estranha para muitos cristãos
hoje. Nós tendemos a associar o celibato com uma escolha consciente de renúncia
ao casamento. Por outras palavras, só poderia realmente ter uma vocação
celibatária, alguém que fosse primeiro atraído para o casamento, e depois
decidisse renunciar a ele como uma possibilidade para si. O Papa Bento XVI
expressou um pensamento nesta linha em A Luz do Mundo:
“A homossexualidade não é
compatível com o sacerdócio. Senão, o celibato como renúncia também não teria
sentido. Seria um grande perigo se o celibato se tornasse numa oportunidade
para introduzir no sacerdócio pessoas que não se querem casar”.
Deixando agora de lado
qualquer discussão sobre a adequação dos homossexuais para o ministério
sacerdotal,
deve ser salientado que a visão baseada na escolha, aqui expressa por Bento
XVI, não é o único caminho que a tradição cristã tem à sua disposição para
pensar sobre a vida celibatária em geral.
Dirigindo-se a
mulheres que sabiam que jamais poderiam vir a casar, porque a vida de muitos
dos homens de seu país tinha sido dizimada pela Segunda Guerra Mundial, o Papa
Pio XII afirmou o seguinte, em 1945:
“Quando se pensa nas mulheres que
renunciam voluntariamente ao matrimônio para se consagrarem a uma vida mais
elevada de contemplação, sacrifício e de caridade, logo aflora aos lábios uma
palavra luminosa: a vocação! Esta vocação, este amoroso chamamento faz-se ouvir
de maneiras muito diversas, como infinitamente distintas são as modulações da
voz divina: convites irresistíveis, inspirações que impelem afetuosamente,
suaves impulsos.
Mas também a jovem cristã que fica
sem se casar, mau grado seu, mas que crê firmemente na Providência do Pai
Celeste, reconhece nas vicissitudes da vida a voz do Mestre: “O Mestre está
aqui e chama-te!” (João 11, 28). Ela responde; ela renuncia ao amado
sonho da sua adolescência e da sua juventude: ter um companheiro fiel na vida,
formar uma família. E, na impossibilidade do matrimônio, vislumbra a sua
vocação, e então, com o coração desfeito, mas submisso, também ela se consagra
totalmente às obras de beneficência mais nobres e multiformes”.
Para Pio XII, o
significado do celibato não está na nossa escolha de um estado de vida, mas na escolha
de Deus sobre nós. Para um cristão atraído por alguém do mesmo sexo, a
questão da sua própria escolha é irrelevante. A questão importante é o que Deus
escolheu para ele. Claro que o celibato, tal como o casamento, exige o
consentimento, não pode ser imposto, deve ser abraçado em liberdade. Mas a
chave para um entendimento correto do celibato não é a livre escolha,
mas sim a resposta livre: a resposta livre e obediente ao chamamento
divino.
Este apelo pode
manifestar-se de diferentes maneiras. Muitos podem sentir este chamamento como
um suave murmúrio que ressoa aos seus ouvidos, quando, na oração, procuram
discernir qual o estado de vida – entre muitos possíveis – ao qual são
chamados.
No entanto, para
outros – tal como refere Pio XII – o chamamento divino é percebido no meio e
através das circunstâncias da vida de cada um, que muitas vezes deixam a pessoa
com pouca margem de escolha nessa matéria. Mas, em ambos os casos, a vocação
tem a mesma dignidade, contanto que seja abraçada com a mesma generosidade por
parte da pessoa que Deus chama.
Escusado será dizer,
também, que as bênçãos ligadas à vocação do celibato – a oportunidade de
desfrutar de uma união mais profunda nesta vida com Cristo, o Divino Esposo –
estão, em princípio, abertas a todos aqueles que levam uma vida casta e
celibatária, independentemente do modo como tenham vindo a tomar consciência da
sua vocação.
Este é um ponto
importante. Os críticos do ensinamento da Igreja alegam muitas vezes que ela
pede aos homossexuais que desistam da possibilidade de um relacionamento íntimo,
em troca de uma vida de infelicidade e solidão. No entanto, quando se considera
que o que realmente se oferece em troca é a união com Deus através da
castidade, o ‘negócio’ começa a parecer logo mais atraente!
Infelizmente, as
igrejas são muitas vezes lugares pouco acolhedores para homossexuais. Isto não
devia acontecer. Dado a alta consideração da Igreja, historicamente comprovada,
para com aqueles que levam uma vida celibatária e casta, é normal que a Igreja
possa ser o lar acolhedor de um grupo de pessoas a quem ela mesma chama a levar
este gênero de vida tendo em conta a sua orientação sexual.
Frequentemente a
Igreja culpa os media por deturparem os seus ensinamentos, e fazendo-a
parecer anti-gay. Embora isso possa acontecer, há que reconhecer que muitas
vezes a culpa disso é dos católicos. Os seus pronunciamentos limitam-se muitas
vezes à denúncia da incorreção das práticas homossexuais e à crítica do
casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Mas a verdade é que
não tem que ser assim.
A Igreja, de facto,
tem uma mensagem muito especial e positiva para os homossexuais: “O Mestre está
aqui e chama-te!” (Jo 11,28).
Notas complementares [pelo padre tradutor português]
1) Na Igreja, estas
pessoas estarão com toda a naturalidade, sem, evidentemente, constituir um
grupo, e sem se distinguirem em nada de outras pessoas que, pelos mais diversos
motivos, também não se casaram, e que igualmente procuram santificar-se na
continência e na castidade.
2) Em diversas
intervenções recentes, o Papa Francisco terá pretendido corrigir a acentuação
na abordagem negativa e crítica das práticas homossexuais, de resto bem
explícita no Catecismo da Igreja
Católica (n.
2357) e no Youcat (n. 65).
É verdade que o
Santo Padre ainda não explicitou a alternativa de santidade proposta a essas
pessoas que, no dizer do mesmo Catecismo da Igreja Católica, “experimentam uma
atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo” (n. 2357).
Mas certamente não deixará de o fazer.
De resto, essa
alternativa está já bem delineada no Catecismo da Igreja Católica, num texto em
que a verdade e a caridade se abraçam harmoniosamente:
“Um número considerável de homens
e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta
propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma
provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza.
Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas
pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem
cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem
encontrar devido à sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas à
castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e,
às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental,
podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã” (n.
2358 e 2359).
Todo o ser humano que existe na
Terra provém da união de uma mãe e um pai. Por isso, para algumas pessoas é uma
experiência dolorosa não se sentirem eroticamente atraídas pelo sexo oposto e
terem de sentir, numa união homossexual, a falta da fecundidade física, como é
próprio da natureza do ser humano e da divina ordem da Criação. Frequentemente,
contudo, Deus chama a Si por vias inusitadas: uma carência, uma perda ou uma
ferida - assumida ou aceite - pode tornar-se um trampolim para se lançar nos
braços de Deus, aquele Deus que tudo corrige e Se deixa descobrir mais como
Redentor que como Criador” (n. 65).
(A redação deste ponto do Youcat
parece-me pouco feliz. Destaca a "experiência dolorosa" de duas
pessoas do mesmo sexo pelo facto de a sua união [física] ser necessariamente
estéril, mas, ao contrário do Catecismo da Igreja Católica, não salienta a não
conformidade e mesmo a grave dissonância dessa união em relação ao projeto
divino para o ser humano, homem e mulher, tal como reiteradamente é transmitido
na Sagrada Escritura e na doutrina da Igreja).
3) Este ‘desafio’,
dirigido às pessoas homossexuais, a viverem em celibato, como caminho de
santificação, não nega que o celibato livremente escolhido, como no caso do
celibato sacerdotal, e a virgindade “pelo Reino dos Céus”, tenham um valor
singular e até superior ao próprio matrimônio, como sempre considerou a
tradição cristã, reiterada por João Paulo II na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, de 22 de Novembro de 1981, n.
16:
“Tornando livre de um modo
especial o coração humano (cf. 1 Cor. 7, 32-35), «de forma a inebriá-lo muito
mais de caridade para com Deus e para com todos os homens» (Conc. Ecum. Vat.
II, Decreto sobre a renovação da vida religiosa Perfectae caritatis, 12), a
virgindade testemunha que o Reino de Deus e a sua justiça são aquela pérola
preciosa que é preferida a qualquer outro valor, mesmo que seja grande, e, mais
ainda, é procurada como o único valor definitivo. É por isso que a Igreja,
durante toda a sua história, defendeu sempre a superioridade deste carisma no
confronto com o do matrimónio, em razão do laço singular que ele tem com o
Reino de Deus (Cfr. Pio PP. XII, Carta Enc. Sacra Virginitas , II, 174 ss).
E é neste contexto que
São João Paulo II, alude também, embora sem especificar as situações, aos que,
contra a sua vontade, não se casaram:
“Estas reflexões sobre a
virgindade podem iluminar e ajudar os que, por motivos independentes da sua
vontade, não se puderam casar e depois aceitaram a sua situação em espírito de
serviço” (Familiaris Consortio,
16).
Achei interessante a imagem da Samaritana.
ResponderExcluirPorque vocês escolheram essa , tem algum significado especial ?