Um Rótulo que Dura
Por Paul Scalia[1]
Tradução e adaptação
por Courage Brasil
Quando
eu estava no ensino médio, os estudantes se separavam em muitos grupos
diferentes: pré-vestibulandos, atletas, punks, hippies, geeks e muito mais. É
como se todos tivessem recebido uma classificação não-oficial, virtualmente
imutável, a um grupo particular. Quando, hoje, trabalho em escolas secundárias,
percebo pouca diferença. Os grupos ainda existem (com ligeiras mudanças
terminológicas), e os professores e coordenadores ainda advogam contra os
rótulos. Como eles sabiamente explicam, os rótulos reforçam estereótipos e
preconceitos; eles nos impedem de aceitar as pessoas e conhecê-las de forma
real e concreta.
Há,
no entanto, uma diferença. Os coordenadores das escolas secundárias ainda
advertem os alunos com relação aos rótulos e estereótipos, ao mesmo tempo em
que encorajam, cada vez mais, que um grupo de estudantes se auto-rotulem:
aqueles que experimentam atrações pelo mesmo sexo (AMS). Com a assistência (e,
às vezes, pressão) de grupos como a Gay-Straight Alliance e a Gay, Lesbian,
Straight Education Network, as escolas secundárias pelo país, agora,
corriqueiramente, têm organizações estudantis dedicadas à promoção da
tolerância e aceitação da homossexualidade. De fato, a cidade de New York tem
uma escola inteira – Harvey Milk High School – dedicada à “juventude gay,
lésbica, transgênera e curiosa”.
Vale
o esforço apontar, apesar do atraso, que os professores e coordenadores estavam
certos quanto aos erros da rotulação – e errados quando eles permitiram e
encorajaram os estudantes homossexuais a se auto-rotularem? Como acontece com a
maioria dos erros, este em questão procede de uma certa verdade e, muitas
vezes, de boas intenções. A verdade é que os adolescentes com atrações pelo mesmo
sexo têm uma taxa de suicídio mais alta e são mais propensos ao abuso de álcool
e drogas. Atribuir tais problemas à perseguição e assédio, os novos grupos se
comprometem com a criação de uma atmosfera segura de forma que os estudantes
não se sintam tentados a seguir um comportamento auto-destrutivo.
Mas,
na prática, esta agenda significa mais do que apenas um fim para os
xingamentos. Significa, na verdade, a aprovação da homossexualidade e, numa
nova forma de xingamento, uma insistência de que os adolescentes que
experimentam atrações pelo mesmo sexo “saiam do armário” como homossexuais.
Para
começar, trata-se de um senso comum fracassado. Tais categorizações alimentam a
tendência dos adolescentes à rotulação. Secundaristas querem pertencer a um
grupo. Eles querem uma identidade. Conhecer outras pessoas, descobri-las,
descobrir-se à luz de quem são – esta pode ser uma tarefa difícil. Os rótulos
tornam-no muito mais fácil. Muitos adolescentes apegam-se a uma identidade por um
tempo e, então, pensam melhor nela depois. Por esta razão, pais e professores
protegem, tradicionalmente, os estudantes das classificações em certas
categorias.
A nova abordagem, no
entanto, faz o oposto. Ela encoraja a rotulação. Em vez de lutar com as
dificuldades da adolescência, um secundarista ou um estudante que acabou de
entrar no ensino secundário pode agora, com apoio oficial, declarar-se gay e
ele terá, de forma instantânea, uma identidade e um grupo. Os adultos, de forma
típica, exibem uma reserva sábia com relação às auto-descobertas dos estudantes
secundaristas: eles sabem que os adolescentes ainda estão descobrindo as coisas
e eles reconhecem a responsabilidade que lhes compete no que concerne à ajuda
na resolução de confusões. Então, por que toda essa sabedoria natural foi, de
alguma forma, abandonada nos dias hoje na área mais confusa da sexualidade dos
adolescentes?
De
fato, as expressões são tentadoras por causa da sua conveniência e eficiência.
São comuns, estão à mão, e aparentemente esclarecem uma questão difícil. Mas
elas também identificam uma pessoa individual com as suas inclinações
homossexuais. Elas presumem que uma pessoa é as suas inclinações ou atrações;
ele é um “gay” ou ele é um “homossexual”. Em algum ponto os adultos têm que
admitir a confusão de alguém de quinze anos de idade que alega ser “um
transgênero bissexual curioso”.
Além
disso, o aval das escolas a tudo isso enfraquece, de forma rápida, a autoridade
dos pais numa área extraordinariamente sensível. Enquanto os pais tentam
ensinar uma coisa em casa, a escola apresenta a visão oposta não apenas na sala
de aula, mas, também, no meio social (no qual a escola secundária pode ter um
efeito maior). E aqueles pais que têm uma forma melhor de lidar com as
dificuldades dos seus filhos perceberam que os seus esforços foram
contrariados. Em casa, eles se esforçam por amar os seus filhos, ajudá-los em
seus conflitos e ensiná-los uma verdade coerente sobre a sexualidade humana.
Entrementes na escola seus filhos recebem a propaganda e o encorajamento para
argumentar precisamente contra o que os seus pais dizem.
Muito
desta engenharia social está baseado na visão de que a homossexualidade é uma
orientação fixa e inata. Os grupos escolares sustentam isso como um dogma
indiscutível. Em um dos debates presidenciais de 2004, quando foi perguntado se
ele pensa que a homossexualidade é herdada ou escolhida, o então Presidente Bush
respondeu de forma sábia e modesta que ele não sabe. Com isto, ele mostrou-se
estar razoavelmente bem alinhado com a comunidade científica, que não pode,
produzir uma resposta uniforme à questão. O suposto “gene gay’ nunca foi
provado ou descoberto. O máximo que podemos dizer é que certas pessoas possuem
predisposições genéticas para a homossexualidade, o que está bastante distante
de dizer que eles herdaram-na.
As
organizações secundaristas, no entanto, não têm escrúpulos em declarar a
questão resolvida. Ao insistir que a homossexualidade é inata, eles concluem
imediatamente que um adolescente com inclinações homossexuais deve,
necessariamente, ser homossexual, ou gay, ou lésbica, ou transgênero – qualquer
rótulo que sirva.
As
organizações secundaristas, no entanto, não têm escrúpulos em declarar a
questão resolvida. Ao insistir que a homossexualidade é inata, eles concluem imediatamente
que um adolescente com inclinações homossexuais devem, necessariamente, ser
homossexual, ou gay, ou lésbica, ou transgênero – qualquer rótulo que sirva.
E
uma vez que o rótulo está fixado, é horrivelmente difícil de removê-lo. Dura o
ensino médio e deixa o adolescente à mercê dos extremos da nossa cultura. “Quem
dentre vós dará uma pedra a seu filho se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um
peixe, dar-lhe-á uma serpente?” cada vez mais as nossas escolas secundárias
distribuem pedras e serpentes para as crianças famintas. Os adolescentes
legitimamente confusos ou ansiosos sobre a sua sexualidade recebem o conselho
de assumirem o rótulo homossexual, truncando as suas identidades por, talvez, a
suas vidas inteiras.
Considerando os erros
óbvios desta nova abordagem, a questão, especialmente para os pais, ainda
permanece: como responder a adolescentes com atrações pelo mesmo sexo? O amor
deve ser a principal resposta. As organizações escolares atraem os adolescentes
principalmente porque elas prometem a aceitação incondicional e a afirmação da
pessoa, não importa qual “orientação” ela tenha. Não importa, para os
adolescentes, que receber esta aceitação e afirmação, em efeito, requer aderir
à agenda gay. Eles, os adolescentes, ainda percebem tal adesão como aceitação e
afirmação. Os pais precisam compreender o quão eficaz é isto. O primeiro ponto
a ser conhecido, então, não consiste no que está errado mas no que está certo:
o filho é amável e é amado. Aquele amor, mais do que qualquer coisa, instila,
nos adolescentes, a confiança e a confidência que eles precisam para lutar com
qualquer realidade dolorosa e amarga que eles possam encontrar face a face.
E
os adolescentes precisam escutar isto: as inclinações sexuais das pessoas não
determinam a sua identidade. Nem todos aqueles que se consideram “homossexuais”
sentem atrações pelo mesmo tipo ou no mesmo grau. Alguns têm desejos
homossexuais fortes e duradouros; para outros, tais desejos são fracos e
passageiros. Aglomerar todos juntos como se tivessem a mesma orientação ou
identidade é uma redução grotesca de uma realidade complicada e isto danifica
maciçamente as próprias pessoas que eles pretendem ajudar.
Resistir
à tentação da rotulação requer que rejeitemos o vocabulário da cultura e adotemos uma terminologia mais precisa. No vulgo, as palavras “gay” e “lésbica” implicam
uma orientação fixada e a vivência de um estilo de vida. Mesmo o termo “pessoa
homossexual”, que é usado em alguns documentos do Vaticano, sugere que as
inclinações homossexuais determinam, de alguma forma – ou seja, confinam – a
identidade de uma pessoa.
Admite-se
que as frases mais precisas não fluem de forma leve e fácil. Mas o que é
perdido na eficiência é ganho na precisão. Termos como as “atrações pelo mesmo
sexo” e “inclinações homossexuais” expressam o que uma pessoa experimenta sem
identificar a pessoa com estas atrações. Ambas reconhecem as atrações e
preservam a liberdade a dignidade da pessoa com estas atrações. Feita esta
distinção essencial, os pais podem opor-se às atrações sem rejeitar os filhos.
E enquanto os filhos amadurecem, eles não encontraram a sua identidade
confinada à sua sexualidade.
Além
disso, a oposição às atrações e ações homossexuais só fazem sentido quando ela
está enraizada na verdade completa da sexualidade humana. Os grupos escolares
“gays” ganham aprovação e suporte parcialmente porque a falta de castidade dos
heterossexuais (contracepção, masturbação, sexo pré-marital, adultério e todo o
resto) comprometeu a muitos. A separação deliberada que a nossa cultura fez
entre o sexo e a procriação destruiu a nossa habilidade de articular uma
explicação coerente da ética sexual. Os pais e educadores danificaram as
ferramentas que permitiriam que eles explicassem por que a atividade
homossexual é errada.
Compreender
a verdade completa da sexualidade humana produz uma apreciação pela pureza. De
fato, todos os jovens precisam lutar por tal virtude. Mas a pureza adquire um
significado maior para aqueles com atrações pelo mesmo sexo. Nada confirmará
uma identidade supostamente “gay” de forma mais rápida e sólida do que as ações
homossexuais. Depois de um encontro homossexual, o adolescente deve admitir o
erro de suas ações e arrepender-se ou, de forma mais atrevida, identificar-se
com as suas ações e procurar por uma maneira de justificá-las.
Enquanto a licenciosidade
sexual aumenta em nossa cultura, encontraremos mais adolescentes confusos
quanto à sexualidade e, talvez, experimentando atrações pelo mesmo sexo. A
opção fácil é dissolver a tensão através da aprovação e encorajamento da
homossexualidade. Mas a coisa mais caridosa que podemos fazer por tal juventude
é amá-la como imagens do próprio Deus, ensiná-las a verdade completa sobre a
sexualidade humana e habilitá-los a vivê-la. Nada menos do que isso significa
dar pedras aos nossos filhos quando pedem por pão.
(a matéria original pode ser encontrada aqui)
[1] Paul Scalia é um sacerdote da Diocese de
Arlington, Virginia e capelão do capítulo do Courage em Arlington.
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