Grande mal de nossa época são as vontades tíbias, fracas, pouco
propensas a dominarem suas inclinações. Somos educados, desde a mais tenra
infância, a lutar por uma vida cômoda, por bens materiais, e não para lutarmos pelo mais
importante, que é a salvação de nossa alma. Essa questão, a mais importante de todas, se torna secundária,
relegada ao tempo que nos restar de nossos afazeres diários.
Para nós, homens e mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo, o
desânimo pode se tornar, em nosso combate diário, um grande empecilho em nosso caminho de santificação.
Juntado a uma vontade fraca, pouco treinada, fará com que muitos desistam de
nossa luta, luta essa que exige constância e fidelidade. O prêmio dessa luta? Não as medalhas e as honras deste mundo, mas o céu dos bem-aventurados.
Monsenhor Tihamer Toth, grande bispo e educador em seu tempo, em um de seus livros, o qual aproveitamos para indicar como leitura espiritual e do qual transcrevemos o capítulo a seguir, dá conselhos
importantes sobre como educar essa potência de nossa alma e como fazê-la forte
no caminho da santidade.
"Três coisas têm grande influência
sobre a vontade: o sentimento, a imaginação e o temperamento. Não somos
totalmente senhores deles; o “livre-arbítrio” do homem não é, pois, completo em
nós. Você mesmo deve ter notado que um dia se levanta triste e abatido, e que
no dia seguinte, pelo contrário, está tão alegre que tem vontade de dançar; e
não pode dizer a razão nem do abatimento de ontem, nem da alegria de hoje.
O mesmo ocorre com a imaginação. De
repente, e sem causa alguma, as recordações de um acontecimento passado emergem
na sua memória, ou então por sob os vincos da sua fronte, ideias absurdas e
imagens enganadoras se desenham. De onde vêm? Por que é que se apresentam
naquele minuto preciso? Não saberia dizê-lo. E é frequente que a nossa
imaginação graceje assim conosco; amiúde nos mostra dificuldades imensas e
obstáculos insuperáveis no caminho dos nossos trabalhos, para nos desgostar
deles. Se você tem um dente para mandar extrair ou tratar, não é o trabalho do
dentista que é o mais doloroso; é a meia hora que passa na sala de espera,
deixando livre campo à sua imaginação que mostra, exagerando-o atrozmente, o
sofrimento que o aguarda.
Pois bem, meu filho, se não somos
totalmente senhores dos nossos sentimentos e da nossa imaginação, cumpre-nos
entretanto tentar estender o reino de nossa vontade até a atividade deles;
cumpre-nos velar sobre os sentimentos e tomar as rédeas da imaginação. Acordou de
mau humor? Não importa! Trate de sorrir e cantar, já estará vitorioso – em parte,
ao menos.
Você tem um trabalho de álgebra
para fazer. Sua imaginação a pinta sob imagens assustadoras: “Escuta, esse
problema é tão difícil que vais suar frio!”. Pois bem, contradiga! Diga-lhe: “Não
é verdade! És uma mentirosa, minha querida imaginação! A solução não é tão
terrível assim: tu aumentas as dificuldades para que pareçam maiores do que
são, pois afronto-as”.
Como vê, a educação da vontade é
um trabalho pertinaz, no intuito de sujeitar todas as faculdades intelectuais
que nela influem, tais como: a inteligência, o sentimento, a memória, a
imaginação, etc. Não basta, portanto, exercitar e fortalecer a vontade, é
preciso, sobretudo, esforço para coloca-la, tão completamente quanto possível,
a serviço dos fins espirituais mais elevados, isto é, pô-la sem reserva sob o
império da alma.
Aquele que quer se tornar um
caráter firme deve se exercitar em governar seus sentimentos, na medida em que
pode. A causa de muitos pecados, dureza, pensamentos de inveja e maldade,
ofensas irrefletidas, brigas – essas sobretudo -, não está numa vontade má, porém
numa vontade fraca que ainda não sabe se erguer ante os sentimentos que surgem
de imprevisto. Não há necessidade de esforços extraordinários para vencer um
pequeno mau humor, por exemplo; e, contudo, quantos preferem sofrê-lo,
demasiado preguiçosos que são, a se entregarem a esse pequeno trabalho!
O exercício dos sentimentos é,
pois, ao mesmo tempo exercício da vontade. A influência do sentimento sobre a
vontade não consiste só em aliciá-la à ação; faz-se sentir até sobre o seu
exercício e sobre a sua perseverança. Quem, pois, ousará negar que um benefício
brota cem vezes mais do calor do coração, do que do frio lume da razão? E um
motivo a mais ainda para educar os sentimentos é que a vontade, operando sem o
coração, poderia facilmente se transformar numa máquina de querer, insensível,
egoísta e teimosa; o que não faria de você mais que uma vil caricatura do jovem
de caráter impecável que quer ser.
O homem de reflexão se esforça
não só por vencer seus sentimentos tristes e substituí-los por outros mais
alegres, mas também por conservar sempre a paz de sua alma.
O corpo e a alma estão
estreitamente unidos em nós. Quando se sentir desanimado, quando vir a tristeza
invadir a sua alma sem que saiba porque, tente pôr um sorriso nos lábios,
esfregue jovialmente as mãos, e verá que a tristeza desaparecerá. Quando sofrer
de uma dor física, ocupe sua mente com pensamentos alegres, e esquecerá em
parte os sofrimentos.
Mesmo se uma desventura lhe
sobrevier, procure tirar dela proveito espiritual. Deficiendo discamos, “Aproveitemos até mesmo as nossas faltas”. Roubaram-lhe
a carteira no ônibus? Não se encolerize, mas reflita um pouco: como pôde estar
tão distraído que não o notasse, e que precauções tomarás no futuro para que
isso não mais lhe aconteça? Alguém pisou no seu pé? Não deixe escapar o “Arre”!
furioso que lhe queima os lábios, mas diga baixinho: “Esta pequena dor me vale
ao menos um pouco de domínio de mim mesmo”.
Quer, pois, ser um rei
onipotente? Domine-se a si mesmo virilmente!
Senhorear sempre os próprios
sentimentos e nunca se deixar arrastar por eles é alto grau de perfeição
espiritual.
Mas, com isto, viemos ao capítulo
mais importante deste livro: os meios de exercitar o caráter."
[TOTH, Tihamer. O Jovem de Caráter. São Paulo; Molokai, 2014]
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