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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

[Esp] A vitória sobre si mesmo - a mortificação (III)

Continuamos nossa sequência de postagens sobre a mortificação. Afirmamos anteriormente que nossa primeira meta, a castidade, não se consegue ou vive da noite para o dia, e a mortificação é um dos meios para alcançá-la. Como deve ser essa mortificação? Basta o sacrifício de um dia para eu conseguir um resultado imediato? Em resposta a essas perguntas, nada melhor do que o seguinte texto extraído do livro A vida espiritual reduzida a três princípios, um clássico de autoria do Padre Maurício Meschler, S.J., que nos ajudará a entender e a praticar a vitória sobre nós mesmos.




PREDICADOS QUE DEVE TER

A VITÓRIA SOBRE SI MESMO



Nobre e glorioso é o intuito que perseguimos mediante a vitória sobre nós mesmos; mas para consegui-lo é necessário que nossa mortificação seja de bom quilate e possua qualidades mui peculiares.

1. Primeiramente, o domínio de nós mesmos deve constituir um princípio a que sempre nos devemos ater. Há algumas pessoas que consentem em se vencer, porém de modo acidental, em determinadas ocasiões e, por assim dizer, excepcionalmente, por ser isso imprescindível, em razão dos inconvenientes que sobreviriam no caso contrário. Isto não basta. É forçoso que a mortificação seja na nossa vida um exercício habitual, metódico, admitido a priori como dever de estado. Cum­pre tomar a resolução de vigiarmos a nós mesmos, de não dar largas a natureza, de violentarmo-nos, porque, de outro modo, não conseguiremos dominar as pai­xões desordenadas, nem o mal que em nós vive e não cessa de constituir perigo. Nunca esqueçamos que a concupiscência e a desordem não se acham em nós aci­dentalmente e como por acaso, mas sim como herança de nossa natureza. Trazemo-la conosco, ao entrar no mundo, e conservamo-la por toda a vida. Diz São Paulo que o mal constitui, em nós, uma lei, um hábito arraigado, uma potência solidamente estabelecida. Ora, um hábito só pode ser superado por outro hábito; a uma lei, é mister opor outra lei, a um poder, outro poder. Aquele que quiser marchar com segurança, não deve, cessar de repetir a si mesmo: "Cumpre vencer-te, violentar-te, senão o mal triunfará de ti.”

2. Em segundo lugar, é necessário que a prática da vitória sobre nós mesmos, abranja tudo; não devemos negligenciar coisa alguma, por mínima que seja, mas usar de constante vigilância, em nosso corpo, na alma e em cada uma de suas potências: memória, inteligência, vontade, assim como em todas as nossas inclinações. Qualquer paixão descurada é um inimigo que deixamos atrás de nós, que pode atacar-nos de improviso e causar nossa ruína. A quem acudiria a idéia de que o apego ao dinheiro viesse a trans­formar um apóstolo em traidor, em suici­da? Uma paixão desordenada é temeroso adversário, e, por assim dizer, um demônio prestes a estrangular-nos.

3. Em terceiro lugar o exercício da mortificação deve ser perseverante e ininterrupto. O inimigo não dorme e o mal continua, em nossa alma, seu trabalho latente: é uma erva daninha que pulula, e forçoso é termos sempre a enxada à mão. Além disso, difícil coisa é vencer o homem a si mesmo, lutar, incessante­mente, contra a própria natureza; só o hábito e a prática é que podem atenuar essa dificuldade.

Quando um pesado veículo está em marcha, ele avança regularmente e com relativa facilidade, mas quando, após lon­go repouso, é preciso repô-lo novamente ao caminho, que custo! Quantos clamores, quantas vergastadas! O mesmo se dá com a mortificação; se a interrompermos por largo espaço de tempo, novos estorvos se nos deparam e nos corre a vida em meio de perpétuos transes. 

4. Enfim, e este é o último predicado que requer a vitória sobre nós mesmos, cumpre não nos limitarmos a permanecer na defensiva, mas tomar a ofensiva e estar sempre aparelhado para a arremetida. Esse princípio da ciência militar aplica-se, com toda a propriedade, ao combate espiritual. Logo, tomemos a dianteira, invistamos contra o inimigo antes que ele nos ataque. Senão, nós nos arriscamos a sermos apanhados de improviso, e então a resistência viria demasiado tarde. É sempre mais fácil atacar que defender.

No ataque estamos em plena atividade e a vantagem é nossa; na defesa, fica­mos passivos e em posição desvantajosa. “Se quiserdes a paz, preparai a guerra”, diziam os antigos. Tal é a tática preconi­zada por S. Inácio, no livro dos Exercícios. Não devemos contentar-nos com o necessário, mas ir além. Se sentirmos, por exemplo, a tentação de ultrapassar certa medida que nos propusemos observar, relativamente a alimentação; de omitir ou abreviar as orações habituais, tomemos uma quantidade de alimento menor que a determinada e acrescentamos alguns instantes ao tempo fixado para a oração. Assim faz o soldado aguerrido do reino de Cristo. É deste modo que nos tornaremos temíveis ao demônio.

Tais são as qualidades da verdadeira mortificação; tais as armas de que usam os fortes de Israel. Com elas poderemos arremeter contra o inimigo, qualquer que seja, mas... unicamente com elas.

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