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domingo, 15 de janeiro de 2017

[Esp] A vitória sobre si mesmo - a mortificação (IV)

É realmente necessário eu fazer mortificação, Jesus não sofreu o suficiente por mim já? Mas mortificar-se vai prejudicar meu corpo, minha saúde, isso não é pecado? Ah, eu não consigo perseverar nisso, nem vou começar, já sei que vou desistir, não é verdade? As respostas a essas perguntas, em continuidade a nossos textos sobre mortificação, está no seguinte texto extraído do livro A vida espiritual reduzida a três princípios, um clássico de autoria do Padre Maurício Meschler, S.J., que nos ajudará a entender e a praticar a vitória sobre nós mesmos.




ALGUMAS OBJEÇÕES

À PRÁTICA DA MORTIFICAÇAO



É impossível negá-lo: a verdadeira mortificação não é um enfeite. Como todas as obras sérias, nobres e santas, ela apresenta alguma dificuldade.

Aliás, não é esta a característica de tudo o que é belo e grandioso? O que nada custa, nada vale. Não admira, pois, que se levante certas objeções. Sempre assim foi, e isso está na própria essência das coisas.

1. Em primeiro lugar, é plausível ocorrer ao espírito a seguinte pergunta: será possível levar essa vida de contínua mortificação e nela perseverar?

A resposta se acha no Evangelho. A lei da abnegação nos foi dada pelo divino Salvador e concerne a todos. É um simples corolário do funesto pecado original, e ninguém a pode modificar. Estamos em presença de um fato; ou vencer ou perecer. Além disso, a própria razão reconhece a necessidade do desapego de si mesmo, princípio admitido em todas as eras por todos os homens ponderados e de bom senso. As qualidades já enumeradas, que deve possuir a mortificação, derivam-lhe do próprio fim e são indispensáveis para atingi-lo. Ora, uma coisa ordenada por Deus, reconhecida como um bem fundamentado, por todos os homens sérios, não somente admitida, mas imposta pela razão, essa coisa é possível e realizável.

Efetivamente, imenso é o número dos que cumpriram – e cumprem ainda hoje – essa mesma lei. Porque não conseguiremos o que eles puderam e podem efetuar? Nem os socorros nem os meios nos faltam. Não estamos entregues a nós mesmos. São Paulo lamenta a sua miséria; termina, porém, o lamento, não com um grito de desespero, mas com um hino de esperança e de vitória: “Desgraçado de mim! Quem me libertará deste corpo de morte? A graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor”.

Nós também recebemos a graça da oração e uma vontade capaz, a um tempo, de dobrar-se e resistir; temos a certeza da vitória, mediante o auxílio divino.

2. “Não será, talvez, nociva à saúde a prática constante da mortificação?”

É possível que seja, em determinadas circunstâncias, se a prudência vier a faltar. Aliás, é descabido proceder, cegamento, sem observar o fim proposto. A finalidade da mortificação não é prejudicar a natureza humana, e ainda menos arruiná-la, mas sim prestar-lhe auxílio. Logo, se houve prejuízo real, é forçoso modificar o sistema. Um incômodo passageiro não constitui dano verdadeiro, nem tampouco um perigo. É também imprudente não ter claro o objetivo da mortificação, o qual deve ser unicamente aquilo que for desordenado, repreensível, perigoso e inútil, e nunca a natureza humana em si mesma, nem o que nela houver de boa e razoável. Imprudência é, ainda, querer alcançar tudo de uma vez só. Demos tempo ao tempo, enquanto Deus nos der tempo também. A natureza e a graça procedem lentamente: o essencial é perseverar na obra que foi iniciada. Enfim, é imprudente agir de nosso próprio movimento, sem conselho nem direção. É necessário seguirmos as decisões de um diretor ou conselheiro experimentado, no que disser respeito à medida, ao tempo e ao modo nos mortificar.

Tomadas essas precauções, nenhum perigo é para se recear. O risco é incontestavelmente mais sério onde não há mortificação. É muito maior o número de pessoas que prejudicam a saúde, aceleram a morte de modo menos glorioso pela falta de mortificação, que por se excederem nela. Mesmo assim, é forçoso reconhecer que a mortificação é coisa difícil e árdua. Porém, é necessário não esquecer que não é mais fácil, nem menos custoso, desprezar a mortificação para nos colocarmos sob a escravidão das paixões. Breve é o prazer, duradouro é o remorso. Aliás, a prática resolve as dificuldades. A alegria da alma, a paz e a consolação compensam amplamente o trabalho e o sacrifício.

Em resumo, a mortificação é penosa quando não é praticada, como princípio, em todas as coisas e de modo contínuo. Nossa alma está efetivamente doente, e, se quisermos curá-la, é necessário nos sujeitarmos ao regime da mortificação.

“Quero!” Quantas dificuldades não foram superadas por esta palavra mágica! De quantos feitos nobres e gloriosos não foi ela a origem!

Logo, saibamos querer e tudo está dito.



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