A Quaresma é o tempo por excelência para exercermos a mortificação e a penitência. Mas muitas vezes achamos que essa deve ser exercida através de, apenas, castigos corporais, jejuns, e nos esquecemos que a mortificação interna também é necessária. A mortificação interior, a
seguir explicada, dá continuidade a nossos textos sobre mortificação, extraídos
do livro A vida espiritual reduzida a três princípios, um clássico de autoria
do Padre Maurício Meschler, S.J., que nos ajudará a entender e a praticar a
vitória sobre nós mesmos.
DA MORTIFICAÇÃO INTERIOR
1. A mortificação interior tem
por objetivo introduzir a disciplina e a ordem nas faculdades da alma, com o
intento de afastá-las do mal e torná-las aptas para o bem.
Por essas faculdades
entendemos a inteligência, a vontade, a imaginação e a faculdade
apetitivo-sensitiva.
2. A importância da
mortificação interior ressalta primeiramente da sua comparação com a penitência
exterior. Esta é apenas um meio, uma condição, um fruto daquela. A primeira
constitui propriamente o princípio e o fim da segunda, comunicando-lhe seu
valor moral.
Abstraindo da mortificação
interior, a outra é falha de consistência e se reduz, quando muito, à
religiosidade de um faquir, um modo de adestramento aplicável aos animais. Em
dadas ocasiões, a mortificação exterior pode suprir-se pela interior, mediante
o retiro, o recolhimento de espírito e o desapego do coração. Enfim, a penitência
exterior deve, necessariamente, restringir-se a certos limites; é variável
quanto ao lugar, à duração e à medida; a interior, ao contrário, é ilimitada,
de continua aplicação, e pode ser praticada sempre e em toda a parte. Em
segundo lugar, podemos aquilatar a importância da mortificação interior, pela
intima relação que ela tem com a moralidade e o exercício da virtude.
Tanto a ordem como a desordem
moral, a culpa, como o mérito, têm o respectivo princípio no nosso interior.
Todo o valor moral de nossa
vida, assim como a responsabilidade de nossos atos, se acham em nós mesmos, no
conhecimento que temos das coisas e na liberdade própria. Segundo o
testemunho do divino Salvador é no coração que se gera o pecado. «No coração
originam-se os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, às fraudes, os
falsos testemunhos, as blasfêmias. São essas coisas que tornam o homem impuro,
porque a boca fala da abundância do coração» (Mat. XV,18).
Ora, a penitência interior
possui todas as condições e características de uma pura e sólida virtude.
Sólido é tudo o que procede de Deus, de um motivo sobrenatural, de uma vontade
reta e sincera, de um princípio firme e verdadeiro e não da paixão, de um
simples impulso natural; é ainda tudo o que custa, que é árduo, que pesa.
Prosseguir, não obstante, é sinal certo de que não procuramos a satisfação
próprio mas reagimos contra a natureza. Sólido, enfim, é tudo o que nos faz
progredir, isto é, que tende a suprimir os obstáculos que em nós se opõem as
comunicações da graça. Essas qualidades, próprias da verdadeira virtude, só se
encontram na mortificação interior. Por isso os santos e os mestres da vida
espiritual a consideraram sempre como a pedra de toque da perfeição e da
santidade. Esse é também o juízo do Mestre infalível, o divino Salvador. Sem
embargo de uma justiça aparente, os Fariseus eram, a seu ver, sepulcros
caiados que, sob exterioridade enganosa, ocultavam a corrupção e a morte
(Mat.XXIII,27).
3. À pergunta: onde a
mortificação deve, mormente, praticar-se? Respondemos: a mortificação deve
exercer-se de preferência em tudo o que diz respeito à nossa vocação e
constitui estorvo ao perfeito desempenho de nossos deveres de estado; em
seguida, nos pontos cuja necessidade se impõe a cada um de nós, segundo as
circunstâncias, as dificuldades especiais, os defeitos particulares externos ou
internos e, finalmente, naquilo que for exigido ou solicitado por Deus.
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