Eu fui
fisgado. Era como se aquelas linhas tivessem sido escritas apenas para mim
naquele exato momento. Buscando os trocados em meu bolso, eu comprei o livro,
trouxe-o para casa, e o devorei. Aqui, deste homem martirizado por ordem de
Adolf Hitler, ouvi uma mensagem que tanto me dominou como me aterrorizou. Será
que eu, eu poderia, dar a minha vida por Cristo? Onde eu tinha me comprometido?
Será que ser um cristão realmente significa seguir o que o meu mundo diz, ou
será que ser cristão significa ser diferente, sendo totalmente de Cristo?
Rapidamente
comecei a ler tudo sobre Bonhoeffer que eu conseguia por em minhas mãos. Com
Bonhoeffer vieram outros autores cristãos comprometidos, alguns deles
Católicos. As "Confissões" de Agostinho me convenceu do meu próprio acanhamento
espiritual e me encorajou de que Deus nunca desiste de nós. O Castelo Interior
de Teresa d’Avila me impressionou com a profundidade possível de comunhão na
oração, e a vida e os escritos de Madre Teresa me mostrou o fruto potencial de
uma vida tão devota.
Estes
tomaram lugar na minha estante ao lado de livros de Richard Foster, que escreve
poderosamente da tradição Quaker. Sua ‘Celebration
of Discipline' and 'The Challenge of the Disciplined Life’ (“Celebração da
Disciplina” e “O desafio da vida disciplinada”) me fizeram querer voltar a
analisar o papel do cristianismo desempenhado na minha vida ‘tão moderna’,
especificamente na área da minha identidade e sexualidade. Aos poucos, comecei
a entender que a minha sexualidade não era algo que eu tinha, mas algo que Deus
possuía em mim, e que o testemunho claro das Escrituras era uma dupla finalidade
para a sexualidade. Sexo, na intenção de Deus, destina-se a fazer duas coisas:
prover a procriação dos filhos e construir maridos e esposas no amor, respeito
e vida em comum. Como isto conciliaria com o tipo de sexo com o qual eu estava
familiarizado, particularmente à luz da sua natureza inevitavelmente
transitória? Afinal, o sexo homossexual é completamente e inalteravelmente
divorciado da responsabilidade da procriação. Isso é realmente como Deus
pretendia que usássemos nossa sexualidade?
Depois de
muitos meses de indecisão, eu não poderia permanecer na desonestidade. A vida
que eu estava vivendo por tanto tempo foi uma vida de “graça barata” e eu sabia
disso. À luz da Escritura, Tradição e reflexão eu só poderia concluir que Deus
exigiu de mim a mesma coisa que Ele exige de todos os cristãos solteiros: uma
vida casta. E foi assim que eu abracei a fé e abandonei quase tudo o que eu
pensava ser mais importante e querido para mim. Se Cristo queria castidade, eu
seria casto. Então, eu coloquei tudo e todos em Suas mãos.
A partir
daí a minha viagem para a fé católica foi rápida, eu fui seguindo nessa direção
guiado pelas três realidades que fazem a Igreja Católica tão atraente para os
homossexuais que buscam viver na pureza sexual e fidelidade.
Em
primeiro lugar, a Igreja Católica é a única instituição cristã que não só prega
a verdade sobre a castidade para as pessoas homossexuais, mas também oferece
ajuda prática e tangível para alcançá-la.
Em
segundo lugar, a Igreja Católica é a única grande instituição Cristã que
reconhece que nós realmente não sabemos o que causa a homossexualidade. A
Igreja não vai exigir conversão heterossexual como condição de comunhão, nem
vai decidir, de antemão, que as pessoas homossexuais não sejam capazes de serem
responsáveis por suas próprias decisões e ações. Esta posição inclui, como
corolário, a dramática noção contra-cultural de que as pessoas homossexuais têm
tanta dignidade humana quanto qualquer outra pessoa e não merecem ser
apadrinhadas (serem tratadas de forma amigável, mas por pessoas que acreditam
que elas não são muito inteligentes ou experientes) - algo que a minha Igreja
Episcopal mais liberal de espírito fez (e ainda faz) com deprimente
regularidade.
Finalmente,
a Igreja Católica possui a verdade, e não apenas neste dogma, mas em todos os
seus dogmas. Buscar ajuda para viver uma vida casta pode ter sido a “grande
estrada que viajei para Roma”, mas uma vez que isto estava em minha visão, eu
podia ver muito mais. A Igreja Católica, eu vim a compreender, exprimia em si
mesma um meio de graça no meu desejo de levar uma vida mais próxima de Deus. Em
seus sacramentos, particularmente no da Reconciliação e da Eucaristia, oferece
um caminho extremamente importante para aproximar-se mais de Jesus, e os
ofereceria a mim, seja qual fosse a minha orientação sexual.
Sim, eu
tive dúvidas. Ninguém na minha família nunca tinha sido católico. Muitos deles
eram e continuam a ser anti-católicos. No entanto, a verdade que havia me
atraído até aqui não me deixava demorar mais tempo do que o absolutamente
necessário, e eu entrei na Igreja Católica na Páscoa de 1993.
Como tem
sido? Difícil, mas maravilhoso. Nada poderia ter me preparado para a força que
eu alcancei de uma relação católica com Cristo e ninguém poderia ter me preparado
para o quão difícil seria perder amigos e tensas relações familiares por causa
dessa escolha. Quem pensa que existe uma lacuna entre o Catolicismo e o
evangelismo ou não é Católico ou não está vivendo uma vida Católica de uma
forma aberta. Simplesmente confessar a crença em uma visão católica de Cristo é
tomar uma posição contra as ideias aceitas pela maioria da sociedade, o que
exige apologética e explicação. Fiéis católicos que são homossexuais fazem isso
todos os dias e encontram em ambos o testemunho exterior e o diálogo interior
para um caminho notável para uma fé mais profunda.
[continua...]
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