[Essa é uma questão que toca
profundamente a todos os nossos irmãos e irmãs que desenvolveram, por motivos
vários e involuntariamente, a atração pelo mesmo sexo (AMS), que em si não é
pecado. A AMS é uma propensão objetivamente desordenada como aponta o Catecismo
da Igreja Católica. No entanto, como outras propensões ou inclinações, não
determina o caráter de uma pessoa, ou seja, é algo que ela possui, mas não algo
que ela é. Quantos de nós, homens e mulheres com AMS, se viram, por
incompreensão e falta de caridade de nossos parentes, colegas e mesmo amigos,
reduzidos a expressões como (e perdoem-nos os leitores por colocar esses termos
aqui, mas são mais do que necessários) viado, bicha, efeminado, sapatão,
maricas e outros mais. Essas expressões feriram e ferem a todos aqueles que,
procurando compreensão de sua tendência, acolhida (e não aceitação de eventuais
situações de pecado) dentro da Igreja por parte de seus irmãos católicos, foram
designados por tais chamativos. Jesus chamou os fariseus de raça de víboras por
ver suas más intenções e sua persistência na maldade. Mas não chamou de
prostituta à mulher do poço, à adúltera que iria ser apedrejada ou à própria
prostituta arrependida. Por isso, mais do que oportuno é o seguinte texto,
extraído da obra – elogiada por santos e papas – Exercícios de Perfeição e
Virtudes Cristãs, do Venerável Padre Afonso Rodrigues, da Companhia de Jesus.
Este é um convite à reflexão para que todos os católicos que, muitas vezes, adotam uma misericórdia de aparência, pensem no quanto podem ter contribuído,
voluntariamente ou não, para o isolamento de tantos irmãos com atração pelo
mesmo sexo que, desejosos de aprender a levar uma vida de santidade e
castidade, ansiosos por entender o ensinamento correto sobre a sexualidade e
sobre sua condição, acabaram procurando na vida gay a acolhida não oferecida por
seus próprios irmãos de fé.]
DEVEMOS TOMAR MUITO CUIDADO
COM AS PALAVRAS PICANTES
QUE POSSAM MOLESTAR OU DESGOSTAR A NOSSOS IRMÃOS
Em primeiro lugar, devemos
tomar muito cuidado em dizer palavras picantes. Há algumas palavrinhas que
costumam picar e ferir a quem se dizem, porque dissimuladamente fazem
sobressair alguma condição, entendimento ou habilidade não tão desenvolvida, ou então
alguma outra falta natural ou moral. Essas palavras são muito prejudiciais e
muito contrárias à caridade; e algumas vezes se costumam dizer em tom de
gracejo ou por brincadeira, e então são piores e mais prejudiciais, e tanto
mais quanto com mais graça se dizem, porque ficam mais impressas nos ouvintes, que se lembram mais delas. E o pior é que, algumas vezes, sucede que a pessoa
que as diz fica muito contente, parecendo-lhe ter dito algo muito perspicaz e ter mostrado boa inteligência, mas se engana muito; pois nesse seu falar só mostra
ter mau entendimento e pior vontade, empregando o entendimento que Deus lhe deu
para o servir em dizer ditos sagazes que ofendem e escandalizam a seus
irmãos e perturbam a paz e a caridade.
Diz Santo Alberto Magno que,
assim como quando uma pessoa tem mau hálito na boca é sinal que tem lá dentro o
fígado ou o estômago estragado, assim também quando fala palavras más é sinal
de enfermidade que há lá dentro do coração. E que diria São Bernardo do
religioso que é mordaz nos gracejos? Se ele, a qualquer gracejo na boca do
religioso, chama blasfêmia e sacrilégio, que nome dará aos gracejos que são
prejudiciais?
Essas coisas são muito alheias
à vida religiosa e, assim, tudo o que é relativo a isso deve estar muito longe
da boca do religioso, por exemplo, tratar os outros por comparações ultrajantes
ou apelidos, troçar, satirizar, fazer ou repetir versos engraçados que toquem
na falta ou no descuido de alguém, e outras coisas semelhantes; não há razão
para que tais coisas sejam permitidas, quer se digam por troça ou por
brincadeira, quer se digam a sério. E cada um o julgará por si. Você gostaria que
outra pessoa o tratasse por comparações ultrajantes e dirigisse a você alguma
ironia, e que todos se rissem do quanto se encaixa em sua condição o que nela
se diz? Pois o que você não quer que se use com você, não o utilize com os
outros, pois essa é a regra da caridade. Você ficaria tranquilo quando, ao
dizer uma palavra menos acertada, logo houvesse quem se prezasse a prestar
atenção e dela fizesse um grande discurso, troçando de você? É certo que não.
Pois, como é que você quer para os outros o que você não quer para si mesmo, já
que você se sentiria e ficaria envergonhado se o fizessem com você? Pois, se só de
falar em ironia, troça e comparação ultrajante ofendem e ficam mal na boca de
um religioso, o que se dirá para os que as realizam! Por essa razão, temos de
evitar isso ao máximo, tais palavras devem estar afastadas de nossa boca, como
diz S. Paulo do vício da desonestidade: “A fornicação e todo o tipo de impureza
nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a gente santa.” Da mesma maneira
temos de considerar esses atos; e assim S. Paulo acrescenta em seguida: “Nem
palavras torpes, nem palavras loucas, nem chocarrices [insolências] e graças
impertinentes.” (Ef 5, 3-4). Não condiz
com a santidade que professamos, muito menos, citar essas coisas. Admiravelmente
diz S. Bernardo: “Se das palavras ociosas havemos de dar conta a Deus no dia do
juízo, o que será das que são mais do que ociosas?” Que será daquelas que ferem
meus irmãos? Que será daquelas perniciosas?
(Texto extraído e adaptado, em
razão da linguagem barroca, do Tratado Quarto – Capítulo X do livro Exercícios
de Perfeição e Virtudes Cristãs, do Venerável Padre Afonso Rodrigues, SJ)
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