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domingo, 24 de outubro de 2021

[Atld] Culpa vs. vergonha em uma era de promiscuidade sexual

 




Culpa vs. vergonha em uma era
de promiscuidade sexual


Por Michael K. Horne, Psy.D.


Um dos maiores desafios ao lidar com pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo é o conflito entre o que o mundo diz que trará felicidade e os nossos sentimentos. O mundo passa a mensagem de que devemos agir baseados em nossos impulsos, como se a verdadeira satisfação estivesse na busca desses desejos. Essa crença está na raiz da “cultura do ficar” – a ideia de que relações sexuais casuais autocomplacentes são o sinal de uma sociedade saudável e madura, liberta dos limites sufocantes de uma moralidade vitoriana ultrapassada ou de um conjunto antiquado de restrições religiosas.

A verdade é que a promiscuidade sexual não é libertadora nem saudável, não importa o quanto o mundo a exalte. O que tende a acompanhar a promiscuidade sexual é uma sensação de inquietação interna, que pode não ser devidamente reconhecida pelo mundo, mas é compreendida pela antropologia católica como culpa. A culpa não é ruim. Não deve ser ignorada ou anestesiada, mas sim ser vista como uma “luz de verificação do motor” para a alma. Se sentimos culpa depois de nos envolvermos em um certo tipo de comportamento, talvez esse comportamento não combine com nossa dignidade intrínseca como pessoa feita à imagem e semelhança de Deus. A culpa pode ser uma chamada à ação, aquela percepção incômoda de que o que estamos buscando verdadeiramente não nos trará prosperidade, ou uma relação satisfatória, ou seja lá o que buscamos, no fundo. Mas a culpa, se abordada inadequadamente, pode se transformar em sentimento de vergonha.

Uma forma de entender a diferença entre culpa e vergonha é que a culpa vem quando nos sentimos mal por algo que fizemos. Sentimos culpa quando magoamos alguém que amamos ou somos desonestos no trabalho, ou atacamos alguém sem motivo. Reconhecemos que o que fizemos é errado, e esse reconhecimento causa uma angústia interna baseada em nossas ações ou escolhas. A vergonha, no entanto, surge quando vemos nossas ações ou escolhas como erradas, mas internalizamos essa sensação de erro a tal ponto que começamos a nos ver como essencialmente errados ou maus. Nesse caso, a angústia interna vem da perspectiva de que nós, não apenas nossas ações, somos defeituosos, estragados ou inconvenientes. Esse sentimento de vergonha pode levar-nos a sentirmo-nos indignos de ser amados ou acreditar que não merecemos outra coisa senão a solidão. Um sentimento de vergonha esmagador pode causar tanta autoaversão que buscamos consolo naquela mesma atividade que nos levou a sentir vergonha inicialmente. Por exemplo, um jovem que vê pornografia com frequência sente culpa quanto a suas escolhas. No entanto, essa culpa traz consigo um sentimento de vergonha quando o jovem começa a acreditar que o uso da pornografia causaria rejeição por parte dos outros se soubessem a respeito disso. Começa a ver-se como indigno de ter relacionamentos saudáveis, o que o enche de frustração, maior solidão e desespero. E, nesse desespero, procura anestesiar a dor vendo pornografia. O ciclo continua e piora.

No entanto, há uma diferença entre a pessoa (quem somos) e a ação (o que fazemos). Essa diferença é, muitas vezes, ignorada no mundo moderno. Por termos a cosmovisão católica, conseguimos entender que a bondade e a dignidade da pessoa estão presentes mesmo quando as escolhas que ela faz não são objetivamente boas. Podemos julgar se uma ação é correta ou incorreta, ao mesmo tempo em que não entramos no mérito de a própria pessoa ser essencialmente boa. Da mesma forma, podemos amar a pessoa mesmo que não possamos aprovar seu comportamento ou suas escolhas, como quando essas escolhas envolvem comportamentos sexuais que não estão de acordo com o plano de Deus para a sexualidade humana – como a promiscuidade ou o consumo de pornografia.

Se, nessa experiência de culpa, somos capazes de reconhecer que um certo comportamento seja contrário à nossa busca do bem-estar e da prosperidade, podemos fazer uma escolha diferente. A capacidade de abandonar a busca egoísta do prazer ou da promiscuidade motivada por feridas emocionais e, em vez disso, aproximar-se da castidade, pode combater comportamentos que, enquanto visam à busca da felicidade, levam-nos a sentirmo-nos mais sozinhos e isolados dos outros em nossa vida.



Dr. Horne é o diretor de serviços clínicos da “Catholic Charities” da Diocese de Arlington. Ele obteve o doutorado em psicologia clínica pelo “Institute for the Psychological Sciences” (IPS) em 2009, quando se especializou em terapia infantil e escreveu sua tese de doutorado sobre videogames violentos e o impacto deles no jogador. Antes de fazer o doutorado, Dr. Horne trabalhou na televisão na KVR9 em Austin (Texas) e na Houston PBS. Dr. Horne trabalhou em muitas clínicas de saúde mental católicas, como a “Catholic Social Services” em Lincoln (Nebraska) e a “Alpha Omega Clinic” em Fairfax. Também teve a oportunidade de trabalhar como conselheiro escolar na Diocese de Arlington. É o autor de ”The Tech Talk: Strategies for Families in a Digital World” (“O Papo Tech: Estratégias para as Famílias no Mundo Digital”, em tradução livre) (Our Sunday Visitor, 2017). Dr. Horne e sua esposa, Kara, vivem em Fredericksburg com seus três filhos e são paroquianos da “St. Mary of the Immaculate Conception” (Santa Maria da Imaculada Conceição). (Biografia retirada do site da Diocese de Arlington)


(o artigo original pode se encontra aqui)


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