A amizade com Cristo implica em ouvir dEle a verdade sobre a nossa identidade e
o Seu plano para nós, além de respondermos com liberdade e generosidade.
Publicado pelo Padre Philip Bochanski, diretor do Courage International, na página National Catholic Register
No mês
de novembro passado, eu fui convidado pela Diocese de Orlando, Flórida, para
falar aos padres e a outras pessoas que estão no ministério paroquial e
diocesano. Acordei bem cedo no dia do evento para visitar o lugar da Pulse em
Orlando, a boate “LGBT” onde um terrorista assassinou 49 pessoas e feriu muitas
outras no último mês de junho. Fiquei cerca de meia hora lá a oferecer o
Rosário pelo suave repouso daquelas vítimas, pela consolação daqueles que
sobreviveram e por suas famílias, observando os memoriais improvisados que
foram colocados no local.
As
palavras humanas, muitas vezes, falham diante de uma tragédia sem sentido como
o massacre na Pulse. Ainda, certas questões alfinetam o coração de um padre
diante de tal cena: “O que eu teria feito
se estivesse aqui? O que poderia ter feito? O que poderia dizer para aqueles
que foram vitimados, discriminados pelo ódio para com as suas comunidades? Que
consolação eu poderia oferecer para as suas famílias e amigos, para aqueles que
estiveram de luto por eles? O que faço agora?”
Não
foi fácil encontrar respostas naquela manhã, mas o resto das atividades do dia
me apontou para a direção certa.
Minhas
falas foram sobre como providenciar cuidado pastoral para os católicos que sentem
atrações pelo mesmo sexo e para os seus familiares e entes queridos. Cuidado
pastoral significa o cuidado de um rebanho, imitando o Bom Pastor que oferece a
Sua vida pela Sua ovelha.
Embora
o ministério pastoral não saiba o que fazer em todas as situações, sabemos o
que o Bom Pastor faria. “Eu mesmo buscarei minhas ovelhas,” Ele diz.
“Procurarei pela perdida e trarei de volta a que se desviou, curarei a ferida e
fortalecerei a enfraquecida” (Ezequiel 34: 11 -16).
É
claro, o cuidado pastoral toma como certo que há um rebanho que necessita do
pastoreio, que necessita da busca, cura e fortalecimento. Isto não é
pessimismo, mas realismo: O pecado original, escreveu Gilbert Keith Chesterton,
é “um fato tão prático quanto batatas”, e suas consequências afetam ao mundo e
a todos nele, todos os dias.
Todos
nós crescemos em famílias imperfeitas, tivemos infâncias imperfeitas e formamos
amizades imperfeitas. Temos uma compreensão imperfeita de nós mesmos e uma
apreciação imperfeita dos dons de Deus. Temos um controle imperfeito sobre
nossas mentes, corações e corpos, além de respondermos de forma imperfeita à
vontade de Deus.
No
entanto, a fé católica ensina outro fato inegável: ninguém precisa ser perfeito
para ser amado por Deus. Pelo contrário: “Quando ainda éramos pecadores, Cristo
morreu por nós” (Romanos 5, 8). O Perfeito sofreu por causa do imperfeito, “o
Justo pelo injusto, para trazê-los para Deus” (1 Pedro 3, 18).
Essa
realidade – que a felicidade nesta vida e na próxima dependem não da perfeição,
mas da redenção – é o fundamento para o cuidado pastoral.
“Na
vida, Deus acompanha as pessoas”, aconselha o Papa Francisco, “e devemos
acompanhá-las, começando pelas suas situações.”
Ao
acolher cada pessoa no Nome do Cristo, e ao compartilhar com elas a Boa Nova da
salvação, assistimos seres humanos imperfeitos se esforçando pela felicidade
perfeita que tem sua origem e destino em Deus.
A
palavra chave aqui é esforçar-se: a
vida cristã é uma jornada que procede em etapas: os primeiros cristãos eram
conhecidos como aqueles que estavam "No “Caminho” (Atos 9, 2).
Um
cristão não é um ser perfeito, mas um trabalho em andamento; ele progride ao
adquirir as virtudes, que são bons hábitos que o apontam para a direção certa.
Deus tem um plano para a vida humana que não é descarrilado ou tornado
irrelevante pelo pecado ou pela imperfeição, e as virtudes orientam o coração,
a mente, o corpo e a alma pelo caminho traçado pelo desígnio divino.
A
virtude que direciona a profunda experiência da atração sexual e o desejo é a
castidade. O mundo tem a tendência de recusar tal palavra, que conjura imagens
de mosteiros estéreis vazios de emoção ou vitalidade. No entanto, o Catecismo
propõe um caminho que guia para a liberdade e autoconhecimento.
“A
castidade,” diz o Catecismo, “significa a integração bem sucedida da
sexualidade dentro da pessoa e assim a unidade interna do homem em seu ser
corpóreo e espiritual.” O resultado desta integração é que “a sexualidade... se
torna pessoal e verdadeiramente humana,” situada no plano divino para as
relações humanas (2357).
A
castidade não reprime os sentimentos ou nega a realidade do desejo sexual. A
castidade começa com a honestidade – “é assim que me sinto; é isso que eu
quero” – mas não termina aí. O mundo diz, “Se eu sinto, devo fazê-lo”; a
implicação é que todo desejo ou pensamento que uma pessoa deve ter é perfeito e
completo em si mesmo.
A
castidade é mais realista. Ela considera a origem e o alvo de um desejo sexual
à luz da identidade e da história do indivíduo e da vocação e do plano de Deus
para se chegar a uma boa decisão sobre se se deve ou não perseguir ou agir de
acordo com um determinado desejo.
Uma pessoa
virtuosa só perseguirá um desejo que é parte do plano de Deus para a sexualidade,
na qual a intimidade sexual é ordenada e dirigida para o relacionamento que é
permanente, fiel, baseado na complementariedade do homem e da mulher e aberto
para a procriação da vida humana – isto é, o matrimônio.
Portanto,
a castidade — que é um apelo universal a cada pessoa — é também a pedra angular
da abordagem pastoral da Igreja Católica para as pessoas que sentem atrações pelo
mesmo sexo. A característica de um "programa pastoral autêntico",
segundo a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), é que ela honestamente
enfrenta a verdade de que os atos homossexuais são imorais, pois não são
ordenados à complementaridade e procriação que dão à união sexual seu
significado e propósito. Mas se nossa prática pastoral parasse ali, seria
lamentavelmente incompleta. Em vez disso, a CDF apela a uma "abordagem
multifacetada" que ajude as pessoas a viver a castidade e a crescer
"em todos os níveis da vida espiritual: através dos sacramentos ...
oração, testemunho, conselho e cuidado individual".
Talvez
o maior privilégio do meu sacerdócio tenha sido participar de tal abordagem do
cuidado pastoral, primeiro como capelão do Courage na Arquidiocese de Filadélfia
e agora como diretor do Courage International. A oportunidade de ser um
verdadeiro pai espiritual para as pessoas que fizeram a escolha de buscar a
castidade, muitas vezes à custa de serem mal compreendidas e até mesmo de
perder amizades, transformou a minha compreensão do coração humano e a minha apreciação
do que as pessoas são capazes de quando elas são motivadas e sustentadas pela
graça.
Meu
único arrependimento é que suas histórias não sejam contadas com mais frequência,
pois elas testemunham a liberdade e a alegria que se encontram em um abraço
sincero do plano de Deus.
Quando
dou palestras como as apresentadas em Orlando no ano passado, elas sempre
incluem testemunhos pessoais de membros do Courage, pessoalmente ou em vídeo. É
de vital importância para os ministros da Igreja ouvir as experiências da vida
real de pessoas que vivem com atrações do mesmo sexo, e estou feliz em
preencher a lacuna que muitas vezes existe entre eles.
O
testemunho mais pungente que eu ouvi veio de Bob, membro do Courage de longa
data de Nova York, que disse: "Deus me ama e me deu uma Igreja para me
ajudar a ter uma vida feliz".
Ele
então compartilhou o segredo de sua felicidade: "[Deus] me deu uma Igreja
que me ensina que a castidade é o caminho para a felicidade. E não é para me
negar o prazer sexual; é para me abrir para ser uma pessoa mais feliz.”
Aqui
está o cerne do ensinamento da Igreja e do cuidado pastoral que a Igreja propõe e
espera.
A
busca da virtude abre a pessoa à verdadeira felicidade, porque toda a virtude
está enraizada na realidade do ser humano. Pessoas que tiveram um vislumbre
dessa felicidade, e começaram a entender sua identidade como filhos e filhas
criados à imagem de Deus, querem buscar as virtudes que os levarão à
realização. Eles querem ouvir o que a Igreja tem a dizer, mesmo quando é
difícil colocá-lo em prática. Isso significa "falar a verdade no
amor" (Efésios 4, 15) sobre o significado da sexualidade humana e ajudar
as pessoas a compreender e abraçar essa verdade. "Apartar-se do ensinamento
da Igreja, ou silenciar sobre isso", escreveu o CDF, "em um esforço
para providenciar o cuidado pastoral, não é cuidar, tampouco é pastoral".
Esses
irmãos e irmãs querem mergulhar nos sacramentos, porque encontram ali o amor, a
aceitação e a misericórdia incondicionais que só vem de Deus. Eles querem
oportunidades para compartilhar suas histórias com pessoas que eles sabem que
vão entendê-los, porque eles estiveram lá, e eles querem apoiar e encorajar uns
aos outros.
Talvez,
acima de tudo, eles queiram construir relacionamentos autênticos. No centro da
resposta da Igreja à atração pelo mesmo sexo está o reconhecimento de que
"amizades de vários tipos são necessárias para uma vida humana plena, e
são igualmente necessárias para aqueles que tentam viver castamente no
mundo", como os bispos dos Estados Unidos explicam [no documento Ministério
para Pessoas com Inclinação Homossexual: Diretrizes para o Cuidado Pastoral].
A
amizade casta não é um privilégio daqueles dentre nós que têm tudo isso em
conjunto, mas é um direito desde o nascimento e uma característica definidora
de cada discípulo.
"Eu
os chamo de amigos", diz Jesus na Última Ceia, e Ele explica o que Ele
quer dizer. "Eu vos chamei amigos, porque vos tenho revelado tudo o que
ouvi de meu Pai" (João 15, 15), e "Vocês são meus amigos se fizerem o
que Eu vos mando" (João 15, 14).
A
amizade com Cristo significa ouvir a verdade dEle sobre a nossa identidade e
seu plano para nós, respondendo a Ele com liberdade e generosidade. A amizade
casta – baseada não em rótulos ou políticas de identidade, mas em uma busca
comum de santidade e de todas as virtudes — é o princípio motriz do Courage e
deve caracterizar todo ministério católico e ministro pastoral que se aproxima
dessa comunidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar nosso blog
Abaixo você tem disponível um espaço para partilhar conosco suas impressões sobre os textos do Apostolado Courage. Sinta-se à vontade para expressá-las, sempre com respeito ao próximo e desejando contribuir para o crescimento e edificação de todos.